Thread by @pedrodoria

1. A internet tem disso: recortam um trecho de um vídeo, distorcem o dito e saem por aí metralhando.

Mas tudo bem: vamos falar sobre o cenário russo, o hacker e sobre a importância de compreender as intenções de fontes.

No thread.

2. Não acredito no cenário russo.

Um pouco de bastidor:

É uma das teorias com as quais a Polícia Federal trabalha. Não é uma teoria de conspiração da rede.

Na semana passada, havia mais gente na PF acreditando nisso. Novidades da investigação afastam um pouco a hipótese.

3. Evidentemente, como ocorre nestas horas, a esquerda vai dar piruetas de raiva e ataques porque a ela interessa focar no Lula Livre só.

A direita vai achar que estou com ela... E, no entanto, o problema continua de pé: os vazamentos mostram evidente parcialidade do juiz Moro.

4. A primeira coisa que qq jornalista se pergunta, perante uma info nova, é: a quem interessa?

Interessa ao PT desacreditar a Lava Jato.
Interessa a parte do MDB igualmente, ainda mais com Temer ameaçado.
Interessa a grupos empresariais que podem entrar na mira.
A lista segue...

5. Existe também a possibilidade do que nos EUA chamam whistleblower e, no Brasil, vem sendo chamado informante do bem. Um funcionário público com acesso às infos, que as considere de interesse público e corra um risco pessoal ao fazer.

6. O MP está alertando desde maio os procuradores a respeito de um hacker rondando. E estão apreensivos há algum tempo a respeito do que vazará. Os procuradores não têm certeza a respeito de quem foi hackeado e o quanto.

O hacker existe.

7. De onde vem o cenário russo?

A Rússia se tornou um rogue state no mundo. Sem o poder que teve, esmagada numa briga geopolítica entre EUA e China, vem se especializando em desestabilizar a política interna de países. Nos vizinhos, tb a economia.

8. Já afirmaram oficialmente ter sido alvos de ataques cibernéticos de desestabilização partindo da Rússia: EUA, França, Reino Unido, além de vizinhos como Georgia e Ucrânia. Esta reportagem do @nytimes conta detalhes.

nytimes.com/2019/05/12/wor…

9. Há operadores de segurança e espiões russos na Venezuela. Isto é oficial — cubanos e russos estão cuidando do trabalho de inteligência lá.

Mas não acredito no cenário russo. Por um único motivo: o Brasil é periférico demais. Simplesmente não somos importantes o suficiente.

10. Por que é importante entender as intenções da fonte?

Porque desta resposta depende o juízo a respeito da integridade do banco de dados recebido pelo Intercept.

Alguém com interesse numa narrativa poderia enviar apenas o que lhe interessa, distorcendo a percepção do todo.

11. É igualmente importante compreender que o Estado brasileiro não dá a mínima para segurança de dados. Do presidente para baixo. Num cenário em que ataques cibernéticos internos e externos se tornaram corriqueiros, este é um problema grave.

12. O argumento levantado contra o questionamento das intenções da fonte é que importante é só o conteúdo. Que sempre foi assim.

Enquanto publicavam as denúncias de Ed Snowden contra a NSA/CIA, Guardian, NY Times e WaPo tb publicavam artigos questionando Snowden. Este é o normal

13. Isto tudo posto, volto ao início: Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato têm muito o que explicar. Houve, entre eles, uma proximidade que compromete a percepção de um julgamento imparcial.

E isto compromete a Lava Jato. O quanto, a Justiça dirá.

14. A fúria de ambas as militâncias nas redes, a pressa de distorção dos fatos, de impor narrativas e berrar alto contra qualquer um que pergunte algo que fuja aos discursos oficiais dá mostra da consequência imediata:

Cerrar fileiras e todo fogo ao inimigo.

Sufocar o debate.

15. O Brasil está com uma febre.

Dois conjuntos de brasileiros, com ódio político voltado para o outro, convictos de suas razões sem nunca as questionar, estão dominando o debate político.

Estamos nesta desde 2013. E este ódio, que está inclusive dentro do governo, ferra o país

1. Podem me chamar do que quiser.

Mas assistam antes ao vídeo todo. Não apenas ao recorte conveniente para a narrativa do momento.

FIM