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“A nossa escola tem como missão fazer com que nossos alunos sejam felizes!”

Já ouviu falar de educação analgésica?

Segue a aula-fio...
Já colocou os olhos em um folheto explicativo, ou mesmo no site de uma escola e leu que a missão da instituição era a de ter “alunos felizes”? Já ouviu o discurso da coordenação ou direção pedagógica, dizendo que temos que ter alunos felizes na escola (principalmente particular)?
Por que a felicidade dos alunos e a tranquilidade dos pais é uma preocupação tão grande de muitas das instituições particulares de ensino?
A razão é mercadológica. Quanto mais alunos felizes e pais tranquilos, mais matrículas.
O processo de aprendizagem tem muitas desvantagens sensoriais. Primeiro, é lento. Demora muito para nos tornarmos proficientes em algo como ler, cálculos aritméticos, física elementar deriva continental ou formação do território nacional brasileiro.
Segundo, é frustrante. Raramente aprendemos algo sem nos depararmos com algum erro que cometemos no processo e deve ser corrigido. E quem faz isto é o professor. Por mais gentil que ele seja, o erro leva à frustração, que não é uma sensação agradável.
Terceiro, não é um processo paupável. Não temos consciência e nem medida de nossa ignorância, até sermos incomodados com a percepção de que não sabemos de algo. É fácil cair na tentação de pensar que estávamos muito bem sem saber que não sabíamos daquilo.
E por fim, o modelo atual de configuração das classes, das aulas, enfim da dinâmica de aprendizado, é entediante. Ficar 5 horas sentado ouvindo o Dennis e mais 3 ou 4 professores falarem não tem nada de empolgante.
Mas, como qualquer empresa, a escola precisa captar e manter sua clientela. E muitas caem no que eu chamo de erro da cartomante.
Imagine que você seja uma cartomante que realmente consiga ver o futuro nas cartas. Seria empolgante ver as realizações de seus clientes. Poderia até ajudá-los a conseguir seus objetivos, ajustando o seu destino. Mas também veria todos os dissabores que estivessem nas cartas.
Quantos clientes estariam dispostos a descobrir que morrerão em breve? Que serão traídos? Que passaram póstuma freando perda? Que estarão falidos em 6 meses? Acredite, você teria uma clientela bem seleta, e pequena. Muitos não estão dispostos à enfrentar dissabores.
E na escola? Quantos alunos estão dispostos a enfrentar suas ignorâncias, suas lacunas de aprendizado? Quantos estão dispostos à admitir o quanto não sabem e quanto são responsáveis por isto? Quantos pais querem enfrentar todas as tensões que o aprendizado do filho gera?
Por isto muitos pais, muitos professores, muitos gestores, e muitos alunos, passam a vida na escola evitando problemas, evitando “dores de cabeça “. E cria-se uma educação analgésica, em que a função de todos é evitar as próprias dores de cabeça.
Óbvio que não acho que a escola deva ser isenta de alegria e que o aprendizado só acontece pela frustração. Lembro o quanto fiquei feliz por entender a tabuada. A questão é que felicidade não pode ser a finalidade da escola. A finalidade é gerar conhecimento, aprendizado.
Escolas não são playgrounds em que os pequenos vão para apenas brincar. Não são praças de alimentação que servem para a socialização de jovens com um ruído chato de aula ao fundo. Não são guarda-volumes onde os pais depositam os filhos de manhã e retiram ao fim da tarde.
Escolas são laboratórios.Lugar de trabalho, de labor.É o local onde nós professores ajudamos os alunos a superar o que não sabem e se emanciparem através do aprendizado.É local de ser feliz,é local de riso,é local de amizade,é local de dança,mas antes de tudo é local de aprender.
Portanto, aluno, não busque apenas felicidade, busque conhecimento, busque aprender, enfrente as lacunas do que sabe e crie um repertório que trabalhe por você, que lhe liberte.
Pais, desconfie de uma instituição que minimize todas as tensões que o processo de crescer possui. Não existe crescimento idílico, sem fraturas, mesmo que apenas emocionais. Ninguém passa pelo mundo e pela Escola sem algumas escoriações.
Professores, uma das formas de valorizarmos nossa profissão, e exigir e proporcionar uma postura séria, mesmo que não carrancuda, truculenta. Conheço pessoas seríssimas que sempre tem o sorriso no rosto e um modo alegre de ver o mundo.
Gestores, não tornem a felicidade do seu aluno e a tranquilidade dos pais um fim, mas que um bom trabalho no processo de ensino aprendizado torne a felicidade uma consequência da constatação de que tantos esforços coletivo e individuais valeram a pena.
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