Thread by @teofb

Passaremos a semana ouvindo que o gol do Athletico aconteceu por causa da linha alta de marcação, que a estratégia do Flamengo é suicida etc.

Por favor, não caiam nessa. O erro foi de comportamento da última linha de defesa. Orientação corporal e esses detalhes.

Segue o fio.

Como Jesus disse outro dia em entrevista, o problema é que os defensores do Flamengo ainda não entenderam a diferença entre "bola coberta" e "bola descoberta"

Bola coberta: o homem da bola está marcado e não tem um passe limpo pra frente. Nesse caso, o time pressiona e a defesa AVANÇA em bloco.

Bola descoberta: o cara da bola está livre. Não tem ninguém na frente dele. A defesa RECUA e deve correr para trás, evitando a bola nas costas

O melhor conteúdo sobre o gol dos caras vem de Portugal, onde eles entendem essa diferença e conhecem o trabalho do Jesus. O @lateralesquerd fez um bom vídeo sobre o assunto:

https://twitter.com/lateralesquerd/status/1151813533765644288

Mas eu quero ir além: o problema não foi a linha de defesa estar adiantada demais.

O problema foi a linha estar POUCO ADIANTADA e ainda por cima não correr para trás no momento certo.

Quando o goleiro Santos tem a bola, cinco jogadores do Flamengo marcam sete do CAP (4 defensores, 2 volantes e o goleiro).

Eles fazem isso muito bem e forçam Leo Pereira a um chutão pressionado. O zagueiro não tinha NENHUMA opção limpa de passe, nem mesmo o recuo para o goleiro.

Até aqui, perfeito. O lançamento é quase da linha de fundo e não tem como ultrapassar a nossa defesa. Gabriel está apertando o cara. Bola coberta! A defesa deve se adiantar!

Mas só Rafinha faz isso, acompanhando de perto Rony, já que o Fla marca homem a homem do lado da bola.

Rony usa muito bem o corpo e vence a disputa. Com isso, a bola sobra para Marco Ruben na linha do meio-campo. Cuellar está colado nele, também bem posicionado, mas não consegue fazer a falta porque o 9 do CAP é muito forte.

Nisso, Nazário está livre pelo meio.

O que aconteceu aqui? Como Nazário está livre? Se 5 do Fla marcavam 6 do CAP lá na frente, temos um a mais na defesa, certo?

O problema é que Leo Duarte, RC e Renê marcam, juntos, Marcelo Cirino. Com isso, Cuellar tem Marco Ruben e Nazário.

Se os 3 de trás subissem até o meio-campo na hora do lançamento, Cirino seria obrigado a recuar. Um zagueiro pegaria Ruben e Cuellar estaria em Nazário. Não haveria homem livre para dominar com tranquilidade e lançar.

A defesa estava recuada demais. Defender alto tb é encaixotar

Mas beleza. Acontece. Uma vez que a bola chega a Nazário, é uma BOLA TOTALMENTE DESCOBERTA e a zaga precisa correr imediatamente para trás. Leo Duarte precisa virar o corpo para fora, na direção de Rony, pois é a única possibilidade de cobertura para Rafinha, que já não está lá.

Quando Nazário lança, RC está plantado e Leo Duarte está virado para dentro do campo! Com isso, ele precisa dar um giro de 270 graus e não tem a MENOR chance de chegar.

Como Rony está muito aberto e corre em diagonal, se Leo tivesse a orientação certa do corpo, chegaria.

Ou seja, não caiam na ladainha de que Jorge Jesus é kamikaze e foi burro. O 1x0 não era garantia de nada e ele queria chegar ao 2x0. Além disso, a pressão alta foi a melhor forma de neutralizar o Athletico até ali. Ainda falta ajustar a última linha, mas não mudar a estratégia.

Em resumo:

Um amigo disse que peguei leve com o Cuellar, que ele não quis fazer a falta mesmo. Pode ser!

Confesso que não sou fã desse "deveria ter feito falta" porque não considero falta um recurso do jogo. Mas nesse tipo de jogada é útil. O CAP, inclusive, cansou de matar o Diego assim.