Thread by @louverture1984

Ontem, dando aula sobre Restauração Meiji, enfatizei aos alunos que por vezes, certos grupos/classes sociais criam as condições para a sua própria decadência ou destruição. O caso dos samurais no Japão segue esse caminho...

Conforme o século XIX apontava para a estagnação produtiva japonesa, combinada com isolamento político e a manutenção do status quo a qualquer preço, ficava evidente que o estamento responsável pela violência (os "samurais") tornava-se uma espécie de "classe parasitária".

A chegada dos estrangeiros no Japão e a imposição de humilhantes tratados comerciais não ajudou. E os guerreiros, desprestigiados, se viram em situação desesperadora.

A decadência se dava pela perda de símbolos de status cruciais (casar com filhas de comerciantes, ter que se dedicar a atividades artesanais, a venda do "trabalho" de violência). E é por volta de 1860 que muitos deles passam a replicar slogans xenófobos e pegar em armas.

Alguns deles eram movidos, pelo antigo sentimento de honra do seu código, o "bushido". Uma honra que, até o século XIX, estava ligada diretamente a um senhor, ou a um mestre. Mas que com as mudanças do início do capitalismo no país, começaram a desenvolver um sistema de honra...

...de caráter individual, pensando mais em termos de orgulho e menos em termos de fidelidade ao senhor. Isso fez com que muitos se voltassem a favor do imperador Meiji nas disputas de poder na corte, apoiando a restauração.

As guerras Boshin (1867-1868), ocorridas entre a nobreza japonesa, marcavam basicamente uma virada no sistema de alianças, saindo do sistema antigo do "bakufu" para um novo regime imperial, centralizado.

Mas, as primeiras medidas da nova era Meiji consolidam um modelo burguês de política. E para isso, todos os símbolos de distinção dos samurais são extirpados até que, por decreto imperial, eles são abolidos.

Na lógica capitalista, um sistema de igualdade jurídica se faz necessário, ainda que como ficção, para garantir uma pretensa liberdade de comércio. Logo, a estratificação social que conferia destaque aos samurais precisava ser extinguida.

Em 1873, os samurais tornaram-se "shizoku", um status que lhes dava acesso a uma pequena pensão por parte do governo, mas lhes proibia de carregar armas ou mesmo de ter cortes de cabelo típicos ao antigo estamento samurai.

Até 1877 ainda há revoltas de samurais inconformados, que diziam que o imperador tinha sido traído. Mas a verdade é que eles criaram as condições para o seu próprio fim.

Ao defenderem o imperador, sustentaram as facções da nobreza japonesa que desejavam uma modernização...

...capitalista. E, como disse antes, dentro do capitalismo, não há espaço para um grupo jurídico de privilegiados tão extenso (os samurais cobriam mais ou menos 10% da população japonesa). E nem tampouco um Exército que seja baseado no ritual e não na eficiência.

Falamos um pouco sobre isso, sobre como certas classes e grupos sociais muitas vezes caminham para o seu suicídio sem se dar por conta, apostando num retorno ao passado, ou num "mito" que preenche o vazio político da época.

Por que eu puxei esse fio? Bem, digamos que a história de "classes suicidas" é uma história bem recente a ser contada...

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