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Hoje vamos falar de assunto sério na #AulaFio! Vamos falar de rebelião e cachaça! Já ouviu falar da Revolta da Cachaça de 1719?

Segue a Aula-Fio...
A base para esta aula fio são as pesquisas que fiz no arquivo do Instituto Histórico de Pitangui, onde trabalhei em 2018. Existem livros abordam o assunto, porém são mais genealogias que trabalhos acadêmicos. O destaque fica para “O pays de Pitanguy” escrito por Raimundo Rabelo.
A Revolta da Cachaça aconteceu entre os últimos meses de 1719 e os primeiros de 1720. Aconteceu na minha cidade natal, Pitangui. A elevação à categoria de vila aconteceu em 9 de Junho de 1715, mas a presença de bandeirantes e portugueses data dos anos finais do século XVII.
Na época, era uma região com grande volume de chuvas, o que rendia uma cana não tão boa para a produção de açúcar, mas ótima para a produção de cachaça. Os primeiros alambiques foram trazidos pelos bandeirantes, no início do século XVIII.
Pitangui não tinha uma produção aurífera tão exuberante quanto Vila Rica ou Mariana (se compararmos os impostos devidos ao longo do século XVIII), mas se destacou pela produção de gêneros alimentícios, como grãos, toucinho e, claro, cachaça.
A cachaça era tida como gênero de primeira necessidade, e até fazia parte da “ração” (termo da época) dos escravos que trabalhavam nas minas. Os lucros eram razoáveis se lembrarmos que Pitangui era a vila mais afastada (a oeste).
E muito menos que uma bebida produzida localmente e que, raramente, recolhia impostos, prosperasse. Assim, em 1715, o governador Brás Balthazar da Silveira proibiu a construção de novos engenhos na região das Minas. Esta proibição foi devidamente ignorada pelos produtores.
A vila não contava com alguns prédios essenciais para o funcionamento do governo. Não possuía ainda uma igreja de grande porte, um prédio de Câmara e Cadeia e nem uma casa que pudesse receber o governador da Capitania quando este visitasse a cidade.
Por isto, em outubro de 1719, o capitão-mor João Lobo de Macedo, representante de Portugal em Pitangui, com autorização do juiz ordinário da vila, determinou o estanco (estatização em nome da Coroa) da produção de pinga para financiar a construção de dos prédios.
Um bandeirantes, Domingos Rodrigues do Prado, dono de sesmarias com minas e, evidentemente, plantações de cana e alambiques organizou o motim. O presidente da Câmara (equivalente a prefeito) e que tinha aprovado o ‘estanco’, foi expulso e o juiz acabou morto durante o levante.
O governador da Capitania, o Conde de Assumar, não demorou a agir. Enviou uma tropa de 500 soldados para prender e executar os líderes do motim além de promover o sequestro de bens no valor da dívida dos pitanguienses (cerca de 7 arrobas ou 105 kg. de ouro).
Porém os amotinados se prepararam. Reuniu-se cerca de 400 homens, entre bandeirantes, indígenas e libertos, que esperaram a tropa portuguesa em trincheiras às margens do rio São João, em terras que do atual município de Conceição do Pará.
As tropas chegaram em fevereiro de 1720, encabeçadas pelo governador em pessoa. Por terem melhores armas e mais homens, os portugueses venceram, à custa de muitas baixas de ambos os lados. O líder, Domingos Rodrigues do Prado fugiu.
E em seu esconderijo soube que seria executado (???) Agora vem o pitoresco que tempera esta história. O governador, por ausência de um líder para executar, ordenou a confecção de um boneco para representar Domingos, que foi enforcado simbolicamente.
O recado era que Domingos morreu como cidadão português. Seus decendentes foram considerados infames até a terceira geração e o terreno de sua casa foi salgado. Pena semelhante à de Tirandentes, mas com um detalhe diferente que dá muita vantagem à Domingos. Ele escapou.
Domingos, antes de fugir de seu esconderijo, em um vilarejo que hoje é chamado Santuário, ergueu uma forca e enforcou um boneco do Conde de Assumar. Feita a vingança dos bonecos, fugiu para Taubaté, de onde voltaria 4 anos depois e voltaria a enriquecer com a produção de cachaça.
E Pitangui ficou conhecida como vila rebelde, pois consideravam difícil a aplicação da repressão na vila. Seja pela distância de Vila Rica, seja pelo temperamento de seus habitantes.
Sei que o enforcamento de dois bonecos não é um bom clímax, mas ao menos é uma boa história...
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