Esse tipo de argumentação foi reproduzido por muito tempo no ensino básico, ainda que com eufemismos: “não se adaptavam ao trabalho” ou então que resistiam a ele. Ao mesmo tempo que chamam os indígenas de preguiçosos, ofendiam os negros de passivos.
Outra concepção errada, mas comum, disseminada especialmente pelo clássico de Fernando Novais, é que a transição para a escravidão africana foi em prol da “acumulação primitiva de capital” na Europa, já que os comerciantes não se lucrariam com a escravidão indígena. 
Outras visões conservadoras (como do Varnhagen) enfatizam a luta dos jesuítas (ignorando que eles também escravizaram indígenas, como destacou Zeron) e a legislação régia.
A análise mais interessante é a do S. Schwartz, que liga a transição à catástrofe demográfica indígena por causa das doenças e da exploração. A baixa expectativa de vida e a crescente dificuldade de obter cativos autóctones fazia valer a pena comprar africanos, mesmo mais caros.
Cabe notar, porém, que a transição aconteceu em épocas diferentes, porque era preciso exportar para poder importar trabalhadores escravizados, como bem salienta o @alencastro_f . A ordem foi: passagem XVI-XVII: PE-BA; meio XVII: RJ; início XVIII: MG-SP; meio XVIII - MA.
A explicação não é, portanto, cultural, política, religiosa ou externa, mas fundamentalmente interna, de acordo com as dinâmicas econômicas e demográficas locais. Fim do teachable moment proporcionado por essa fala terrível!
