, 15 tweets, 7 min read
Eu tou com preguiça de entrar no debate sobre percepções subjetivas, dados objetivos e revoluções, que começou sobre o Chile e acabou tocando nas Revoluções Francesa e, principalmente, Industrial. O @phpacha debate aqui com o @goescarlos e desenvolve excelentes argumentos.
Eu já falei com o @goescarlos no privado, e acho que algumas discordâncias são de três tipos: políticas, disciplinares e epistemológicas. A política é simples: os liberais querem defender o sucesso do nosso chileno, os esquerdistas queremos ressaltar suas falhas.
O sucesso chileno pode ser medida pelo PIB per capita, expectativa de vida, dados no PISA, a medida compósita que é o IDH, etc. Esses dados refletem fenômenos reais e não são falsificados, como chegou a se deixar implícito.
Por outro lado, a desigualdade (gráficos by @BrankoMilan e @phgfsouza), a concentração de riqueza, o endividamento das famílias e as baixas aposentadorias (criação do irmão do Piñera) e a desaceleração do crescimento também são dados estatísticos agregados relevantes.
Então os números são muito importantes pra entender una sociedade, e nós de humanas temos que trabalhar mais com eles, inclusive pra problematizar seu uso é construção. Mas ninguém olha uma planilha e pensa “porra, minha renda só cresceu 0,4% nos últimos anos, vou quebrar tudo!”
Aí entra a questão disciplinar. O @zeknust estuda início da expansão romana, o @phpacha estuda antiguidade tardia, eu os séculos XVII-XIX. Se a gente achar que tudo que não dá pra quantificar é anedótico e com menor poder explicativo, não faríamos quase nada.
Assim, a gente aprende a trabalhar com fontes qualitativas pra tentar entender como as pessoas agem. Como o Thompson destacou há quase meio século, as pessoas se revoltam quando sentem que as elites e governantes não cumpriram o pacto implícito de manutenção da ordem social.
Na Inglaterra do século XVIII, era não evitar a carestia e a alta do preço dos alimentos. No Chile de hoje, talvez seja a mercantilização dos serviços públicos, a desigualdade, a corrupção, a descrença nos políticos, sei lá. O ponto é que não dá pra perceber só na planilha.
Aí entra o debate dos living standards na Revolução Industrial. Ninguém sério diz - diferente do que sugeriu o Góes - que a vida não melhorou nos últimos 200, mas que entre 1760-1850 provavelmente piorou objetivamente, e certamente em termos subjetivos.
economist.com/free-exchange/…
Porque as relações de trabalho, subordinação e sociabilidade foram transformadas pela industrialização e urbanização, e as pessoas sentiram isso nas comunidades em que vivem, porque se adaptar (mudar de residência ou profissão) tem custos imensos.
nber.org/papers/w21906
O link acima é sobre o "China Shock" nos EUA, e hoje dá pra fazer esses estudos microfocalizados - mas não dava antes! Então a gente faz o quê? Examina revoltas, greves, reivindicações ao Parlamento, artigos de opinião, poesias e o que for possível pra construir um todo coerente.
É normal que economistas foquem nos números - é sua vantagem comparativa, e a gente deveria aprender com eles! - mas nós também temos as nossas vantagens comparativas. Como disse o @mariosbessa, a questão é colaborativa, pra aprendermos coletivamente e evitarmos o reducionismo.
@mariosbessa Isso é inclusive é importante porque, como vários salientaram no debate, os dados também são construídos! Veja-se o debate entre o Allen e a @judyzara sobre os altos salários e a Revolução Industrial Britânica, por exemplo.
onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.11…
@mariosbessa @judyzara O bom é que essa discussão me fez finalmente ler direito esse artigo na @PastPresentSoc (uma das três revistas mais importantes do mundo em História), que tem uma excelente discussão metodológico sobre o living standards debate que é bem relevante.
watermark.silverchair.com/gtx061.pdf?tok…
Conclusão: acabei de adicionar mais uma matéria à lista infindável de disciplinas que quero oferecer - Métodos Quantitativos e Qualitativos: História e Ciências Sociais. O problema é tempo pra preparar o curso (que talvez funcionasse melhor na pós), porque teria que ler muito.
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