Thread by @leosiqueirabr

João Pedro Stédile, dirigente nacional do MST falou em 2015: “O capitalismo transforma o que deveria ser alimento em mercadoria”.

Vamos falar sobre como a visão de Stédile - quando foi colocada em prática - matou milhares de pessoas no mundo. Segue a thread.

1. Stédile não está sozinho nessa. Em 2016, o Ex-Ministro da Saúde Alexandre Padilha escreveu em seu Twitter: “a alimentação está dominada pela lógica privada do capital, e o alimento virou mercadoria”.

2. Acreditar que é prudente parar de tratar alimentos como mercadoria mostra que um passado não tão distante está bastante esquecido na memória das pessoas. Relembremos...

3. Em 1949, inciava-se a República Popular da China sob a liderança de Mao Tsé-Tung, revolucionário e fundador do Partido Comunista Chinês (PCC).

Fortemente influenciado pelo marxismo em sua juventude, Mao introduziu em 1950 a maior Reforma Agrária vista no país.

4. TODOS os grandes latifúndios foram confiscados e divididos entre camponeses.

No novo regime, cada grupo de camponeses tinha uma meta para atingir. A produção agrícola era entregue ao Estado e a renda dividida entre o grupo. Apenas 5% da terra era alocada para lotes privados.

5. Mas um indivíduo não podia ir à cidade vender sua produção. Além disso, graças a uma antiga visão Marxista de Anti-imperialismo, cada região buscava a autossuficiência na produção de grãos.

6. Mao tinha um projeto de sociedade comunista, livre de todos os males associados ao capitalismo ocidental, sem propriedades, sem trocas.

A ideia era que o esforço de toda a sociedade na produção em fazendas comunitárias, coordenado por um governo, acabaria com a miséria.

7. Acabava ali a lógica do capital privado na agricultura chinesa.

O resultado foi, sem qualquer dúvida, o oposto disso tudo. O que se seguiu foi uma das maiores tragédias na história da humanidade, um capítulo que recebeu o nome de “A grande fome Chinesa”.

8. Entre 1958 e 1962, segundo dados da FAO, a maior autoridade em alimentos do mundo, a produção de arroz teve uma queda de 45%. Cerca de 45 milhões de pessoas morreram por fome ou perseguição política (a II Guerra Mundial, maior catástrofe humana, matou 55 milhões)

9. A Grande fome Chinesa, que levou à morte de milhões de pessoas, se deu sob a tutela de quem achava que alimentos não deveriam ser produzidos por quem buscava o lucro. A mesma lógica que advogam nos dias atuais Stédile e Padilha.

10. Acompanhado do fim da lógica de mercado, como em qualquer experiência comunista, vieram “justiças sociais”.

Mao criou os chamados “tribunais populares”, juris no qual os latifundiários eram julgados pelos camponeses.

11. Cerca de 2 milhões de donos de terras foram executados por seus “crimes” de ganância e avareza.

Em 1976, após 27 anos de sua ideologia implantada - o que lhe deu tempo suficiente para fazer tudo que queria - Mao Tsé sofreu um ataque cardíaco fulminante.

12. Mao entregou um país miserável e pobre como a Uganda. A renda por habitante chinesa era muito menor que a de países como Congo ou Zimbábue.

13. Com a morte de Mao Tsé, a ideologia marxista seria substituída pelo “sistema de responsabilidade individual” (Household Responsability System).

Nesse sistema, os empreendedores locais arcavam com os lucros e prejuízos de uma plantação.

14. Era o indivíduo como foco das atividades comerciais e não mais o grupo ou o Estado.

As metas de produção foram drasticamente reduzidas. A produção extra pertenceria ao indivíduo, podendo ser negociada no mercado a preços livres. A política de autossuficiência foi abolida.

15. Era a volta do lucro, dos mercados e da especialização, um dos principais princípios da economia defendido por Adam Smith. Mao Tsé-Tung estava morto e sua ideologia também...

16. Alguns historiadores e o próprio Partido Comunista Chinês alegaram que a Grande Fome foi resultado de uma adversidade no clima.

Coincidentemente, desde que a lógica do capital privado voltou, nunca mais aconteceu outra crise climática.

17. Entre 1978 e 1984, a produção agrícola na China cresceu mais de 60%.

O aumento aconteceu sem que houvesse crescimento da área cultivada ou mudança tecnológica que propiciasse o acesso a melhores equipamentos ou insumos. Foi somente a volta da lógica do capital privado.

18. Em 1975, um pupilo de Mao Tsé-Tung chegou ao poder no Camboja. O líder do Khmer Vermelho, Pol Pot, foi estudar em Paris e ainda jovem leu sobre a ideologia Maoísta.

Era mais um que entraria para fazer história da pior maneira possível.

19. Estima-se que no Camboja, em três anos e meio, cerca de 2 milhões de pessoas (25% da população do país) tenham sido mortas, ou pela fome ou por meios violentos.

20. Por aqui, a ideologia marxista passou longe - pelo menos na prática - dos produtores rurais. Prova disso, é que o próprio setor é chamado AgroNEGÓCIO. Os resultados falam por si.

De 1976 a 2017, a produção de grãos cresceu 446%, sem aumento relevante na área plantada (IBGE).

21. Ainda assim, muitos intelectuais filosofam entre um café e outro no Leblon ou em Paris.

Falam sobre as injustiças do capitalismo e como uma revolução que implante um regime comunista agrário é a solução contra a fome.

22. Cabe-nos apenas lembrar-lhes a história. Por onde a ideologia Maoísta passou produziu apenas fome e miséria...

Parte desta história neste livro!