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A CPMI das Fake News tem confirmado uma denúncia feita por este perfil em 7 de março: Jair Bolsonaro levou ao Palácio do Planalto uma "máquina" de linchamento virtual que promove sucessivos assassinatos de reputações de adversários internos e externos.
Como dito desde março, já com base em toda uma apuração da imprensa, a máquina usa ao menos três assessores de Bolsonaro, com dois deles sendo ex-assessores de Carlos Bolsonaro. Os próprios funcionários do Palácio chamam-no de "gabinete do ódio".
correiobraziliense.com.br/app/noticia/po…
De lá para cá, a imprensa identificou um quarto assessor, e Joice Hasselmann apontou a coordenação de Eduardo Bolsonaro, e um afastamento recente – e temporário? – de Carlos.
oglobo.globo.com/brasil/redes-s…
Falta compreender, no entanto, como essa máquina agia antes de 1º de janeiro de 2019, afinal, o próprio Jair Bolsonaro repetiu inúmeras vezes que só se elegeu graças ao trabalho de Carlos nas redes sociais.
Para compreender essa história, talvez seja importante voltar a 13 de agosto de 2014. Nesta data, um jato caiu em um bairro residencial de Santos, litoral de São Paulo. Nele estava Eduardo Campos, até então, terceiro colocado na corrida presidencial.
g1.globo.com/sp/santos-regi…
A morte de campos estremeceria a disputa, inserindo Marina Silva como cabeça de chapa. Num primeiro Datafolha, ela já surgia em segundo lugar. No seguinte, dividia a liderança com Dilma Rousseff.
g1.globo.com/politica/eleic…
Mas, como todo mundo lembra, Dilma foi reeleita no segundo turno derrotando Aécio Neves.
g1.globo.com/politica/eleic…
Em um grupo fechado no Facebook, eu e uns outros cinquenta viciados em política varávamos madrugadas tentando compreender o feito de João Santana, marqueteiro da campanha de Dilma. E chegamos à seguinte conclusão:
No dia em que Marina surgiu empatada com Dilma, Santana constatou que a petista só tinha chance de vitória caso enfrentasse Aécio no segundo turno – era o que o Datafolha apontava.
Desta forma, a campanha petista passou a trabalhar não por uma vitória em primeiro turno, mas para que Aécio fosse ao segundo turno em vez de Marina.
Como não fazia sentido o PT pedir voto para o PSDB, a solução seria ampliar a rejeição a Marina, forçando o eleitorado dela a buscar Aécio como alternativa.
A leitura encontrava par na realidade. Em 29 de agosto, quando surgiu o empate no Datafolha, a rejeição de Dilma estava em 35%, com Aécio em 22%, e Marina em confortáveis 15%.
Foi quando entrou em ação a Máquina Petista de Moer Reputações. Na TV, a campanha de Dilma fazia com que, numa eventual vitória de Marina, a comida literalmente sumisse do prato das famílias mais humildes do país.
Ironicamente, a propaganda petista explorou até o risco de Marina, sem apoio do Congresso, sofrer um processo de impeachment.
Nas redes sociais, o "exército virtual" que o PT treinara em abril de 2014 elevava à enésima potência a histeria contra um eventual sucesso marineiro.
politica.estadao.com.br/noticias/eleic…
Deu certo. No penúltimo Datafolha, dezesseis pontos atrás de Dilma, Marina ainda estava em segundo lugar, mas com a rejeição já superando a de Aécio em três pontos.
media.folha.uol.com.br/datafolha/2014…
Aécio só conseguiu a vaga no segundo turno no final de semana da votação. Mas entraria na disputa com uma rejeição em 21%, muito abaixo dos 32% da petista.
Assim, a Máquina Petista de Moer Reputações ajustou o foco para o tucano. Na TV, os assuntos mais pesados eram abordados superficialmente por Dilma, que chegava a perguntar a Aécio até sobre "lei seca" – um tema que nada tinha a ver com o cargo em disputa.
www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/…
Com a bola levantada na TV, as redes sociais cortavam compartilhando vídeos como esse, em que um policial civil acusava Aécio de ser viciado e ter envolvimento com tráfico de drogas.
A baixaria envolvia também muito terrorismo sobre um suposto fim do Bolsa Família – que não veio nem quando o Dilma caiu por um processo de impeachment – e uma menção incansável a um episódio em que Aécio teria agredido uma acompanhante.
blogdojuca.uol.com.br/2009/11/covard…
Estava dando certo. Em 15 de outubro, a diferença da rejeição de Dilma para Aécio já havia caído de 11 para apenas 4 pontos. Era uma questão de tempo até o jogo virar.
g1.globo.com/politica/eleic…
Uma semana depois, a rejeição a Aécio superava a de Dilma em 41% a 37%.
www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/…
Nesse intervalo, o TSE decidiu que não mais toleraria baixaria de qualquer parte.

Na prática, proibiu Aécio de, na reta final, fazer com Dilma o que Dilma fizera com Aécio e Marina desde a morte de Eduardo Campos.
epoca.globo.com/tempo/eleicoes…
O TSE era presidido por Dias Toffoli.
crusoe.com.br/edicoes/50/o-a…
E Dilma foi reeleita.
g1.globo.com/politica/eleic…
A lógica era simples: se não há como o eleitor simpatizar pela agenda do seu candidato, há como fazer o eleitor temer uma vitória do seu oponente.
Algo semelhante ocorreu na eleição de Donald Trump, em 2016. Hillary entrou na disputa com a rejeição muito abaixo da do republicano. Em maio, a dele superava os 50 pontos, enquanto a dela ainda não chegava aos quarenta.
fivethirtyeight.com/features/ameri…
No segundo semestre, a alt right americana bombardeou as redes sociais com algumas verdades sobre Clinton – é preciso ser justo –, com algumas verdades distorcidas, e com teorias conspiratórias que envolviam até uma rede de pedofilia.
rollingstone.com/politics/polit…
Quando faltava uma semana para a eleição, a rejeição a Hillary superava a de Trump em um ponto percentual.
independent.co.uk/news/donald-tr…
O efeito não serviu para democratas votarem em Trump. Mas serviu para buscarem uma terceira via. Assim como Hillary saiu das urnas 3% menor do que Obama em 2012, os partidos Verde e Libertário saíram das urnas 3% maiores em 2016.
Para um nome polêmico como Jair Bolsonaro vencer uma eleição majoritária, era preciso primeiro fazer com que se capacitasse para o segundo turno.
Para um nome polêmico como Jair Bolsonaro se capacitar ao segundo turno, era preciso antes fazer com que não houvesse adversários competitivos dentro de seu campo ideológico.
Para um nome polêmico como Jair Bolsonaro não ter adversários competitivos dentro de seu campo ideológico, era preciso fazer com que a direita rejeitasse qualquer alternativa a Bolsonaro.
Quando o nome de João Doria foi aventado como presidenciável, militantes virtuais espalharam que o tucano não era "de direita", mas um "socialista fabiano".
twitter.com/search?q=jo%C3…
Quando aventaram o nome de Flávio Rocha, um dos primeiros megaempresários a pedir o impeachment de Dilma, bateram na tecla de que ele havia feito uso do BNDES nas gestões do PT – e é curioso como os próprios petistas alimentaram a narrativa.
twitter.com/search?q=fl%C3…
Veneno semelhante foi usado contra Luciano Huck, que havia comprado um jatinho com empréstimo do BNDES.
twitter.com/search?q=lucia…
Joaquim Barbosa foi mais simples, afinal, e apesar da importância dele no julgamento do Mensalão, o ex-ministro do Supremo havia assumido que votara em Dilma.
twitter.com/search?q=joaqu…
Quando a disputa começou, só Cabo Daciolo, que servia de alívio cômico, disputava voto com Bolsonaro na direita. Se alguém citasse João Amoêdo como opção, a trupe insistia que só havia uma direita na disputa.
twitter.com/search?q=jair%…
Neutralizada a direita, era preciso fazer com que o centro não tivesse qualquer candidato competitivo. O principal alvo foi Geraldo Alckmin.
Eu tenho uma planilha com todos os 8.663 tweets publicados por Carlos Bolsonaro entre 7 de março de 2017 e o dia em que o vereador tirou a conta do ar. Nela, o perfil @geraldoalckmin é citado 172 vezes.
Entre 3 de agosto de 2018 e o final do primeiro turno, Carlos faz 94 menções à palavra "merenda", quase todas direcionadas ao perfil de Alckmin. Era uma referência a um caso que, como aponta o subtítulo, não teve envolvimento do governador de São Paulo.
huffpostbrasil.com/2018/08/17/ger…
Contra Marina a jogada foi mais baixa. Evangélica, já há alguma campanhas prometia deixar que um plebiscito negasse a legalização do aborto – era o que todas as pesquisas sobre o tema indicavam.

Mas espalharam em 2018 que o plebiscito APROVARIA o aborto.
twitter.com/search?q=marin…
Álvaro Dias defendia a Lava Jato no debate e prometia ministério para Sergio Moro? Nada disso importava. A militância não tinha dúvida, Álvaro era "citado na Lava Jato":
twitter.com/search?q=%C3%8…
Henrique Meirelles? Foi presidente do Banco Central do governo Lula, não merecia confiança.
twitter.com/search?q=henri…
Na última semana do primeiro turno, Ciro Gomes despontou como o candidato que tinha mais chances contra Bolsonaro no segundo turno. E de repente a turma que adorava as Forças Armadas dizia odiar o fato de o candidato ser "coronel".
twitter.com/search?q=ciro%…
O primeiro turno terminou com Bolsonaro em primeiro, e Haddad em segundo. Eram os adversários ideais de ambos. Que se poupavam até ali, por não preferirem outros confrontos na fase final.
Só no segundo turno os discursos se enfrentaram a pleno vapor. Mas João Santana estava em prisão domiciliar. E um esforço do PT em repetir o feito de 2014 virou caso de polícia ainda no primeiro turno.
gazetadopovo.com.br/politica/repub…
Quando o primeiro turno se encerrou, a rejeição a Bolsonaro estava em 44%, contra 41% da rejeição a Haddad.

Quando o segundo turno se encerrou, a rejeição a Bolsonaro estava em 45%, contra 52% da rejeição a Haddad.
g1.globo.com/politica/eleic…
Esse "jogo da rejeição" pode ter sido apenas um devaneio daquele grupo fechado que, em 2014, consumia no Facebook o noticiário político com a mesma sede que jovens de nossa idade consumiam cerveja.
Mas ficou na minha memória o diagnóstico que julgo certeiro a respeito do que aconteceu em 2014. E que parece se aplicar às disputas eleitorais aqui observadas.
Eu saí daquele grupo em maio de 2018, quando a atividade por lá havia se aproximado de zero, e algumas pessoas que sobraram nele defendiam que a greve dos caminhoneiros servisse ao que chamavam de revolução – ou "golpe militar", como eu preferia chamar.
Achei curioso, contudo, que o projeto que dava guarida a esse grupo tenha apagado as próprias redes sociais na semana em que a CPMI das Fake News se iniciou – alguns perfis pessoais também foram para o espaço nesse dia.
Não. Carlos Bolsonaro não estava nesse grupo. Mas foi nesse grupo que conheci Filipe Martins, assessor internacional de Jair Bolsonaro que, em 2018, atuou como estrategista da campanha de Bolsonaro nas redes sociais.
brpolitico.com.br/noticias/nucle…
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