Thread - Os telhados de vidro muito fininho do Benfica sobre a nomeação de árbitros
Na edição de ontem do Lampiões Diário - imitação fraca e anónima do Dragões Diário -, o Benfica acusa o FC Porto de nomear árbitros. Acusação irónica, tendo em conta o histórico do clube.
Na edição de ontem do Lampiões Diário - imitação fraca e anónima do Dragões Diário -, o Benfica acusa o FC Porto de nomear árbitros. Acusação irónica, tendo em conta o histórico do clube.
Não é preciso recuar muitos anos para encontrar o atual presidente do Benfica a sugerir a nomeação de um árbitro para um jogo do clube. Nomeação essa que veio mesmo a concretizar-se. 
E até se sabe que era mesmo um antigo presidente da Federação Portuguesa de Futebol, João Rodrigues, que muitas vezes funcionava como intermediário entre o Benfica e o Conselho de Arbitragem, nesse processo de escolha de árbitros para os jogos da equipa de Lisboa.
Este João Rodrigues tem a particularidade de ser um dos arguidos da Operação Lex, condição que partilha com o presidente do Benfica e com o vice-presidente Fernando Tavares. Em causa, recorde-se, está a eventual corrupção de um juiz.
Mas não foi com Vieira que o Benfica se habituou a ter a possibilidade de escolher árbitros para os seus jogos. Na verdade, essa é uma prática bem mais antiga e que até é testemunhada pelos próprios dirigentes que a executaram. Um deles é o famoso Gaspar Ramos.
A final da Taça de Portugal de 1980, disputada entre o FC Porto e o Benfica, ficou gravada na história pela inusitada aliança do Benfica e do Sporting contra o FC Porto. Nas bancadas do Jamor, os sportinguistas apoiavam assumidamente os vizinhos. Foi a célebre Santa Aliança.
O que esses sportinguistas talvez não soubessem era que a escolha do árbitro nomeado para dirigir o encontro tinha sido influenciada por Gaspar Ramos, que à época dirigia o futebol do Benfica. Está tudo explicado na biografia do árbitro César Correia, lançada em 2015.
Nas páginas 318 e 319 do livro, Gaspar Ramos explica que, temendo a nomeação de António Garrido, combinou um almoço com o presidente do Conselho de Arbitragem, António Manuel Pereira, por intermédio de Emílio Andrade, proprietário do restaurante Adega da Tia Matilde.
Nesse almoço, Gaspar Ramos disse ao presidente do CA: "Nós queremos um homem sério, que não prejudique o Benfica. Nós temos dois árbitros internacionais, que eu conheça, que são o Antonio Garrido e o César Correia. Se não for um, que é suspeito [Garrido], que venha o outro".
Ou seja, Gaspar Ramos transmitiu ao presidente do Conselho de Arbitragem a posição do Benfica em relação à nomeação do árbitro da final da Taça: deveria ser César Correia. E foi mesmo.
O FC Porto perdeu essa final da Taça e a arbitragem do árbitro sugerido pelo Benfica foi polémica. Neste lance, ocorrido nas barbas de um dos árbitros assistentes, Carlos Manuel agride claramente Lima Pereira com um murro na cara.
Os tempos eram outros e os intervenientes comentavam o que se passava imediatamente. Jorge Nuno Pinto da Costa, chefe do departamento de futebol do FC Porto que assistiu a tudo a poucos metros de distância, revelou que o assistente transmitiu a César Correia que houve agressão.
Mesmo perante uma situação tão óbvia e a informação transmitida pelo assistente, César Correia não expulsou Carlos Manuel. E descreveu tudo como uma mera situação de "excesso de nervos".
O que se passou é muito claro: o Benfica influenciou a nomeação do árbitro da final da Taça de 1980 e foi claramente beneficiado pela arbitragem desse jogo.
Isto foi há quase 40 anos, mas sabemos, de acordo com o que foi revelado pela imprensa, que o atual presidente do Benfica também tem um histórico considerável de escolha de árbitros. E sabemos que o Benfica tem sido sistematicamente beneficiado ao longo dos últimos.
Sobre a nomeação de árbitros não faltam telhados de vidro ao Benfica em geral e a Luís Filipe Vieira em particular. É bom, por isso, que lavem bem a boca antes de lançarem atoardas contra o FC Porto. Nós não somos da laia deles.
