, 194 tweets, 27 min read Read on Twitter
THREAD: libertarianismo e cristianismo
1. A teologia bíblica do estado é contingente, não necessária. Ou seja, ela varia de acordo com o período histórico, e isso pode ser facilimente provado...
2. Antes das provas, a conclusão óbvia: se não há uma teologia bíblica estatal necessária, então é possível formular, a partir de princípios mais amplos, uma teoria política 100% bíblica - esta é o “libertarianismo cristão”.
3. A partir de agora iniciarei um panorama histórico desde a criação até os dias atuais (será que esta thread vai ser longa? 😅)... só depois tratarei de aspectos de teologia e teoria política propriamente ditas...
4. No Éden, obviamente, não havia Estado. Após o martírio de Abel, a descendência piedosa de Adão por meio de Sete permaneceu anárquica. O primeiro governo - a primeira cidade - foi fundada pelo homicida Caim após o nascimento de seu filho Enoque
5. Após o dilúvio, uma espécie de governo central logo surgiu em Babel. Todos sabem a história: aquela iniciativa de construção da torre não agradou nada a Deus, que gerou a divisão das línguas, espalhando as tribos (etnias) pela terra
6. Babel, Babilônia, Ur dos Caldeus... Deus chamou Abrão quando ele vivia numa cidade (sob um governo??) idólatra. Desde então, Abraão viveu como peregrino, num regime claramente anárquico...
7. Abraão, Isaque e Jacó... todos eles libertários (anarco-capitalistas)... até que... a fome sobre a terra de Canaã os levou ao Estado Egípcio... Resultado? Em pouco tempo os hebreus foram escravizados pelos egípcios...
8. [Pausa para considerar argumentos utilitaristas]
8.1. Ah, mas se não fosse o Estado egípcio o povo de Israel teria morrido de fome... Ok... a "salvação" virou escravidão, e depois eles tiveram que ser libertos por Moisés... A Bíblia ensina que a ética jamais poderá ser dobrada pelo utilitarismo...
8.2. O Estado seria, então, um "mal necessário"? (às vezes os cristãos saem com essa) Pode até ser que o Estado desempenhe algum papel histórico, mas o mal não é criado nem ordenado por Deus... mais um motivo para o caráter contingente da teologia do Estado
8.3. Assim como os israelitas foram escravizados pelo Egito por causa da fome, hoje somos escravos do Estado (por mecanismos como expansão de crédito e dívida pública) em nome do "bem-estar social" [fim do parêntesis; de volta ao percurso histórico]...
9. Ah, e não custa lembrar que o Egito, teologicamente, é um tipo do mundo...
10. Moisés, o libertador levantado por Deus, não era um governante, nem um estadista. Era uma "liderança natural", na acepção libertária do termo... tanto que, inicialmente, encontrou resistência do povo, e não obrigou ninguém a sair do Egito consigo...
11. Atravessado o Mar Vermelho, a proposta de Deus para o povo de Israel era a de que eles fossem uma "nação de sacerdotes" - todos com acesso direto a Deus... eu não sei o que pode ser mais anarco-indvidualista do que isso...
12. Diante do Sinai, o povo rejeitou a proposta de Deus, e por decisão do próprio povo (a vontade humana sendo respeitada...), Moisés foi estabelecido como mediador: "fala tu [Moisés], e não fale Deus conosco"...
13. [Parêntesis sarcástico (e sarcasmo é bíblico também...): se você não sabe do que eu estou falando até aqui ou precisa que eu fique colocando referências em cada post, talvez precise estudar mais a sua Bíblia... mas continue comigo, por favor...]
14. Apesar da rejeição da proposta do povo, Israel não constitui um Estado nos 40 anos do deserto. Mesmo após a conquista da terra de Canaã sob Josué, o que se tem é claramente um período de anarquia (Livro de Juízes)
15. "Anarquia", aqui, significa ausência de governo humano central e estatal... obviamente, a proposta de Deus para o povo era a de um governo direto por Deus - o que começou a ser rejeitado pelo povo ao pé do Sinai...
16. Se não havia um governo central (anarquia), certamente havia respeito à propriedade privada em razão do décimo mandamento... O nome disso??? Anarco-capitalismo!!!! Chega por hoje (amanhã tem mais)...
17. Em Canaã, ausência de um rei (personificando o Estado) indicava a liberdade do povo. Em razão da liberdade, dada pelo próprio Deus, o povo de Israel reiteradamente virava as costas para Deus e era disciplinado por isso...
18. De tempos em tempos, Deus levantava um “juiz” para livrar o povo de seus inimigos, uma verdadeira liderança natural, que não obrigava ninguém a o seguir - pelo contrário, como a história de Gideão bem demonstra...
19. A monarquia - que tem um papel profético e tipológico - é claro, na providência divina, foi estabelecida porque o povo quis ter um rei, à semelhança de seus vizinhos - aqueles mesmos que os oprimiam... [isso merece alguns subtópicos]
19.1. “É a mim que eles estão rejeitando, Samuel, e não a você”... a sujeição a um governo central, na pessoa do rei, representa, na história de Israel, rejeição ao governo do próprio Deus... precisa dizer mais alguma coisa?
19.2. Ao rei foi dado por Deus o direito de tributar e escravizar o povo, com o consentimento deste. O "Discurso da Servidão Voluntária" de Étienne de La Boétie cai como uma luva aqui...
19.3. Os "pais fundadores" dos EUA utilizaram 1 Samuel 8 como um manifesto contra a monarquia inglesa e uma justificação à sua democracia republicana ... foram bem intencionados, mas erraram, instituindo uma nova forma de escravidão política...
20. A monarquia em Israel foi qualquer coisa, menos um sucesso... Saul dispensa comentários... Davi e Salomão só se "salvam" (e olhe lá...) em razão do seu caráter tipológico... depois deles, foi ladeira abaixo... [continua amanhã]
EDIT: 19. A monarquia - que tem, é claro, um papel profético e tipológico na providência divina - foi estabelecida porque o povo quis ter um rei, à semelhança de seus vizinhos - aqueles mesmos que os oprimiam... [isso merece alguns subtópicos]
21. O filho de Salomão, Roboão, pecador obstinado, não quis dar ouvidos aos anciãos de Israel ("lideranças naturais", ainda sob um regime monárquico) e a consequência foi a divisão do reino entre Norte (10 tribos) e Sul (Judá e Benjamin)
22. O Norte viu - com raras exceções - uma sucessão de reis iníquos (9 dinastias e 19 reis, em cerca de 200 anos), até que caíram sob os assírios e foram varridos do mapa
23. Embora o reino do Sul tenha visto uma linhagem de reis mais piedosos, a impiedade de alguns governantes em especial (e do povo em geral) também despertou a ira de Deus, desembocando no cativeiro babilônico...
24. Na verdade, o reino do Sul só não foi também totalmente destruído por causa da desobediência porque foi necessário a Deus deixar um "remanescente," uma "lâmpada para Davi", por causa do Cristo.
25. O período intertestamentário foi um período de opressão política para o povo judeu - primeiro, sob os gregos, depois, sob os romanos, com exceção do período dos "Macabeus". Com a dominação romana, chegamos ao Novo Testamento [continua amanhã]
26. [Seria o momento de iniciar o NT, mas vou dedicar o dia de hoje a responder a objeção feita pelo @AncapAteu]
26.1. Mesmo para quem não acredita na confiabilidade da Bíblia, é bem diferente ver libertarianismo no AT do que ver no Senhor dos Anéis - e, de todo modo, eu vejo libertarianismo na mitologia grega (Sófocles e Hesíodo, por exemplo...)
26.2. Mesmo não tendo motivo para negar a historicidade do AT, uma compreensão menos literal de sua linguagem em nada prejudica o vislumbre de uma organização anárquica em suas linhas, até a consolidação da monarquia.
26.3. Ou seja, se preferirem, retirem-se os aspectos sobrenaturais da mensagem, mas mantenha-se seu caráter filosófico-político - e isso continuará sendo bem diferente de fazer uma leitura libertária de literatura fantástica como a trilogia de Tolkien...
26.4. Recomendo a leitura de “A Teologia é Poesia?”, ensaio de C.S. Lewis encontrado em “O Peso da Glória”, e “Teologia Pura e Simples”, de Alister McGrath.
26.5. Agora, negar a possibilidade de milagres porque eles contrariam as “leis da natureza” é uma falácia lógica; uma contradição em termos; pois ser contrário ao que conhecemos por “lei da natureza” está na própria definição de milagre...
26.6. Assim, quem não acredita em milagres simplesmente porque nunca viu um, nada pode acrescentar à discussão. Epistemologicamente, não crer em milagres é uma questão de fé tanto quanto crer...
26.7. E essa é apenas uma simples demonstração do tipo de estrago epistemológico feito pelo Iluminismo e pelo Empirismo ao pensamento ocidental contemporâneo...
26.8. Agora, quanto à preservação do Texto da Bíblia, aí pisou nos meus calos. Embora o AT tenha, é claro, suas questões de crítica textual, ele é, disparado, o escrito antigo de maior confiabilidade em termos dê preservação...
26.9. A preservação do texto do AT tem a ver exatamente com seu caráter sagrado e o zelo do povo judeu no processo de cópia e transmissão.
26.10. Já o NT tem uma crítica textual mais conturbada, em razão da baixa qualidade de manuscritos antigos. Mas, estudando o assunto há alguns anos, posso afirmar, com base na fé e na razão, a preservação do texto do NT...
26.11. E a linha que sigo, do Dr. Wilbur Pickering, apresenta o texto preservado do NT a partir de evidências - veja só! - empíricas... tenho uma playlist sobre isso no YT, então apenas vou linkar aqui: youtube.com/playlist?list=…
26.12 (o método é empírico, mas a premissa, obviamente é espiritual: Deus preservou porque inspirou)
26.13. Com isso, retorno de onde parei, e a consideração dos itens 26.2 e 26.3 é igualmente válida para o NT - muito embora este esteja muito mais próximo historicamente de nós e haja ainda menos motivos para questionar sua confiabilidade...
27. O “Reino de Deus” (“ou dos céus”) cuja chegada foi anunciada, primeiro, por João Batista e, depois, por Jesus, é um reino espiritual. Nele, a autoridade funciona de forma totalmente diversa dos padrões humanos; ela é reconhecida, não imposta...
28. O Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, Jesus, o Cristo, não obrigou ninguém a segui-lo... “se alguém quiser vir após mim”, são as palavras que introduzem o chamado ao discipulado cristão...
29. Por outro lado, do ponto de vista político, Jesus sempre foi um “proscrito”. Por causa do seu nascimento, o governante Herodes determinou uma matança de crianças inocentes - da qual Jesus só escapou porque foi levado para o Egito por Maria e José...
30. Não é preciso indicar, também, que Jesus foi executado pela autoridade estatal. É certo, por um lado, que se tratou do cumprimento do plano divino para redenção da humanidade...
31. Por outro lado, até que chegasse o momento divinamente estabelecido para sua crucificação, Jesus teve que agir furtivamente em relação às autoridades religiosas da época, desviando sua atenção, quer se ocultando fisicamente, quer mediante palavras...
32. “Dai a César o que é de César” é um exemplo da segunda estratégia. Essas palavras foram proferidas em resposta a um teste feito pelos fariseus e herodianos na semana prévia à crucificação....
33. Naquele momento, qualquer palavra seria usada maliciosamente contra o Cristo, mas Ele - o Cordeiro de Deus - somente poderia ser crucificado na Páscoa... (Continua amanhã...)
34. A interpretação literal desta passagem é mesmo interessante. Era o rosto de César que estava estampado na moeda. Então, se ele estava cobrando aquilo que era seu, que fosse entregue
34.1. Nessa perspectiva estrita e literal, não significa que Jesus tenha nem legitimado o Estado, nem a cobrança de impostos (é claro que Rm 13 precisa ser considerado, e o será no momento próprio...)
34.2. Uma observação: Diocleciano, imperador responsável pela perseguição mais sangrenta aos cristãos, foi também responsável por uma considerável inflação, ao diminuir arbitrariamente a quantidade de metal nas moedas cunhadas por Roma...
34.3. E a passagem pode ser interpretada numa perspectiva bastante atual: o Estado pode até pretender tributar a riqueza que circula na forma da moeda de curso forçado - mas como ele fará isso com criptomoedas???
34.4. Quer dizer, como o rosto de "César" (o Estado, nesse anacronismo simplista que muitos cristãos insistem em reiterar...) não está nas criptomoedas, então elas não precisariam ser entregues a "César"...😃😉
35. Já estava esquecendo do alerta feito pelo a @tifaucz: "na tentação de Jesus no deserto, todos os reinos da terra são apresentados como domínio de satanás."
36. E eu já mencionei que Jesus foi crucificado pelas autoridades "estatais"??? Não custa sempre lembrar... (continua amanhã....)
37. Outra situação interessante é a do "imposto das dracmas:" Jesus claramente afirma que não precisava pagar (e deixa implícito que Pedro também não precisaria). No entanto, o imposto é pago - sobrenaturalmente - por causa da resposta impulsiva de Pedro
38. Alguns afirmam que, no episódio da "limpeza do templo", Jesus não teria respeitado a propriedade privada dos cambistas. Mas as Escrituras são bastante claras a respeito do que aconteceu...
39. Os mercadores e cambistas não deveriam estar ali - logo, a primeira violação partiu deles. Embora tenha feito um chicote de cordas, Jesus não agrediu ninguém nem tomou a propriedade de ninguém. Apenas derrubou mesas e cadeiras e os expulsou do templo
40. E o que dizer dos apóstolos em Atos? "Importa antes obedecer a Deus do que aos homens" é uma resposta, dada às autoridades judaicas, que prenuncia o "anarquismo" da igreja primitiva, até que ele fosse assimilada pelo Império Romano no Século IV
41. Falando em igreja, gosto muito da figura da igreja como "corpo" de Cristo, encontrada no Novo Testamento. Para mim, ela está claramente relacionada ao individualismo metodológico: cada membro, ligado à cabeça (Cristo), têm sua função...
42. Nessa perspectiva, a coletividade da igreja é construída a partir de cada membro, o que demonstra o individualismo metodológico da eclesiologia (teologia da igreja) do Novo Testamento...
43. É evidente que há uma teleologia (uma finalidade) no desempenho da função de cada um dos membros, que é servir e honrar a Cristo, que é a cabeça da igreja...
44. No entanto, esta finalidade só é validamente cumprida, do ponto de vista individual, se o for de forma voluntária, por cada membro do corpo de Cristo. Esta é a "ética" da igreja encontrada no NT...
45. Um vídeo para ilustrar o ponto de vista:
46. Por isso é que a liderança cristã só faz sentido se for pensada em termos de "lideranças naturais": alguém que é respeitado e seguido não por imposição, mas por adesão voluntária. Foi assim com Cristo e com os apóstolos, e ainda deve ser assim hoje em dia
47. Retomando a thread, vamos direto à nossa única possível “pedra no sapato”. Romanos 13. Aqui, serei minucioso na exegese. Quem quiser, pode acompanhar com a Bíblia aberta...
47.1. “Autoridade superior” (Rm 13.1) não significa, necessariamente, governo estatal
47.2. Pelo contrário: consciente de que a carta pudesse chegar a autoridades romanas, Paulo pode ter sido ambíguo propositalmente
47.3. De todo modo, consentindo com a ideia de uma autoridade estatal, Rm 13.1 e 2 só podem fazer qualquer sentido no contexto em que a autoridade aplica o direito natural
47.4. A “ordenação de Deus” é o direito natural, e não uma delegação em branco para a autoridade. A resistência à autoridade só é desobediência a Deus quando aquela age de forma justa, punindo quem faz o mal
47.5. No entanto, não há necessidade do estado para reconhecimento e aplicação do direito natural...
47.6. E Rm 13.5 é especialmente elucidativo; a sujeição - à lei natural antes que à autoridade - deve ocorrer em razão da “consciência”, e não por temor da punição
47.7. É assim chegamos à questão de “pagar tributo” ou “imposto” (Rm 13.6 e 7): embora a semântica do grego seja ambígua, há uma chave aqui... trata-se das mesmas palavras que Mateus e Lucas usam no episódio do “dai a César o que é de César”...
47.8. Por isso, parece que esta passagem também precisa ser interpretada nos mesmos moldes propostos nos itens 32 a 34, acima
47.9. Em Rm 13.7 e 8 Paulo faz um interessante jogo de palavras. Orienta a pagarmos nossas dívidas (no que inclui “tributo” e “imposto”) e, ao mesmo tempo, a não deveremos nada a ninguém, exceto o amor... captou?
47.10. A partir do v. 8 o capítulo muda de tom, e a ênfase recai sobre a prática do amor cristão... e é exatamente a ênfase sobre o amor que “derruba” o estado na segunda parte de Rm 13...
47.11. Rm 13.9 mostra que quem ama não descumpre a lei (de Deus; o direito natural). Como a única função legítima da autoridade, no contexto, é punir que transgride o direito natural, isso não diz respeito a um verdadeiro cristão praticante do amor de Deus...
47.10. Rm 13.10: “o amor não faz mal ao próximo”... princípio da não agressão, já ouviu falar?
47.11. Por fim, em Rm 13.13, Paulo claramente recrimina a imoralidade que era bem característica dos romanos; será que aquela “autoridade” temporal era aprovada por Deus? Claramente não...
47.12. Chega de escrever sobre Rm 13... encerro este tópico recomendando um vídeo:
Autoridade Estatal versus Amor Cristão (Romanos 13)
48. Pausa para responder ao @Fhoer_here e ao @anarcoze1: em que medida um católico, ou mesmo um protestante, pode ser um libertário?
48.1. Há muitos "católicos" que apenas vão à missa, mas não seguem as doutrinas e dogmas da igreja católica... obviamente, para essa pessoa a opção pelo libertarianismo não representa nenhum problema...
48.2. Mas para um católico que cê no magistério da igreja, o libertarianismo parece, de fato, impossível. E se a pessoa quer que a igreja católica domine no lugar do estado (o que, se não me engano, é a ideia do Kogos), isso, de fato, não é libertarianismo...
48.3. Isso porque, sujeitar agressivamente não agressores à doutrina cristã não é nem libertário, nem, ao que me consta, cristão... mas cada um sabe de sua consciência diante de Deus
48.4. Em linhas gerais, parece que o catolicismo, assim como uma parcela do protestantismo, tem uma teologia necessária do estado (diferente, portanto, da primeira premissa que iniciou esta thread, no item 1)
48.5. Pelo menos desde Agostinho de Hipona, o estado está moralmente sujeito à igreja. Isso, para os católicos, representa um certo problema até mesmo para a ideia de um estado laico - parece que o Concílio Vaticano II tentou resolver essa questão
48.6. E é bom esclarecer que os protestantes da chamada "Reforma Magistral" (calvinistas e luteranos em especial), têm uma visão muito parecida com a dos católicos neste ponto...
48.7. Aliás, se não tivesse havido uma união dos reformadores com as autoridades governamentais contra Roma no Século XVI, a Reforma, de fato não teria acontecido
48.8. De todo modo, voltando ao catolicismo, a chamada "doutrina social da igreja", segundo a qual o estado existe para promover justiça social, e a doutrina da destinação universal dos bens parecem ser, de fato, incompatíveis com o libertarianismo
48.9. A "destinação universal dos bens," em especial, admite a propriedade privada, mas com certas restrições (parecidas com a "função social" das constituições sociais democratas), o que parece incompatível com o anarco-capitalismc
48.10. Para um protestante, portanto, parece ser um pouco mais fácil, do ponto de vista doutrinário, ser libertário, embora a teologia do estado da dita "Reforma Magistral" também precise ser superada
48.11. Ou seja, deve-se romper com a ideia de sujeição moral do estado à igreja, e isso pode ser feito a partir da ideia de que o estado é essencialmente anti-ético e, por isso, encerra, em si mesmo, uma contradição aos valores cristãos
48.12. Para isso, basta que passagens como Romanos 13 não sejam interpretadas de forma legalista e literalista. Esse tipo de interpretação não literalista e não legalista foi exatamente o que acabei de fazer por aqui (veja-se o item 47, acima)
48.13. Uma última ressalva, quanto aos reformados, diz respeito à soteriologia: calvinistas extremados, que não creem no livre-arbítrio humano, podem ter certo problema para serem libertários, por motivos óbvios - mas isso está ligado ao restante...
48.14. Uma boa forma de conciliar a liberdade humana (seres humanos 100% livres e responsáveis) com a soberania divina (Deus 100% soberano) é o molinismo (agradecimento especial ao @ThiagoSevero3 pela insistência nessa teoria)
48.15 (Molinismo = presciência divina como conhecimento médio contrafactual; soberania divina como escolha de um único mundo dentre infinitos mundos possíveis, respeitada, assim, a liberdade humana de forma plena. Eis outro assunto que merece um vídeo...)
48.16. Muitas informações (eu sei...). Bora resumir:
(a) se você for um católico ou um protestante que não está nem um pouco preocupado com as doutrinas oficiais da sua igreja enquanto instituição, não há nenhum problema que você seja libertário...
(b) se você for um católico que crê no magistério da igreja, você terá, no mínimo, dificuldades para ser libertário - ou você será um sujeito incoerente, como o Kogos (aqui estou tomando as dores dos meus amigos...)...
(c) se você for um reformado calvinista que toma a predestinação como profissão de fé, ou se você for um adepto da dita "Reforma Magistral", você também terá problemas para ser libertário...
(d) mas, se você for um cristão inteligente que crê nos princípios revelados nas Escrituras, no Senhorio de Cristo e na ética do reino de Deus, respeita a liberdade humana e entende que o estado é, na sua essência, antiético...
... então você não terá problema nenhum em ser um libertário (na verdade, eu diria que você tem quase um dever moral de ser libertário; ou que, provavelmente, você é um libertário e ainda não sabe!)
49. “Mas 2 Tm 2.2 ensina a orar pelos reis”, alguém dirá. Bem, orar por não é exatamente reconhecer legitimidade...
50. Além disso, a passagem pode ser considerada antes uma afronta ao imperador do que indicativo de subserviência, já que a prática do Império era orar “ao”, e não “pelo”...
51. Não devemos esquecer que, logo depois dessas palavras terem sido escritos, Roma começou a perseguir os cristãos, que eram mortos exatamente por não prestarem culto ao imperador...
52. Aliás, Paulo é expresso em sua recomendação sobre a oração: “para que tenhamos vida tranquila”. Tenho para mim, por esta e outras evidências, que o apóstolo sabia que a perseguição estatal era iminente...
53. E a perseguição romana aos cristãos é um ponto chave para uma interpretação libertaria do NT: chegamos ao ponto em que o governo representará a própria personificação do diabo: 1 Pe 5.8 e 9 e Ap 13.1-10
Edit: 1 Tm 2.2
54. Hoje, 1 Pedro. Amanhã, Apocalipse...
54.1. Pedro escreveu sua Primeira Carta a partir de Roma (5.13: "Babilônia") para preparar os irmãos dispersos pela Ásia Menor (1.1), atual Turquia para a perseguição imperial que chegaria até eles (5.9b)...
5.4.2. Esta perseguição é tratada por ele como o "teste" da fé, em comparação com o ouro, que é provado pelo "fogo" (1.7). Esta alusão ao fogo, logo no início da Carta, não é coincidência...
5.4.3. O "fogo" aparece de novo em 4.12 ("incêndio para provação", é o que diz o original e a NVX). Após o incêndio de Roma, o principal meio de execução utilizado por Nero era transformar os cristãos em "tochas-humanas"...
5.4.4. As feras no Coliseu vieram significativamente depois. Naquele primeiro momento, o principal instrumento de martírio dos cristãos, em Roma, era o fogo, em razão da falsa acusação de que eles tinham sido os responsáveis pelo incêndio da cidade...
5.4.5. Parece evidente, portanto, que Pedro tinha a perseguição estatal em vista. O mais plausível é que a Carta tenha sido escrita logo após o início da perseguição...
5.4.6. Isso é o suficiente para a compreensão de 5.8 e 9 (a tradução é a NVX): "sejam sóbrios, vigiem. O diabo, adversário de vocês, anda em redor, rugindo como leão, procurando alguém para engolir;"...
5.4.7. "ao qual vocês devem resistir, firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os seus irmãos que estão no mundo."...
5.4.8. Deu para entender? Quem personifica o diabo, que anda em redor como leão? O império romano, o governo central, monopolista da violência, que estava utilizando esta violência institucionalizada para perseguir os cristãos...
5.4.9. E o mais interessante, do ponto de vista libertário, é que aqui Pedro manda "resistir ao diabo" (5.9a), o que pode ser entendido como "resistir ao império", "resistir ao governo"... "resistir ao estado"...
54.10. O fato é que os cristãos experimentaram perseguição estatal oficial por mais de dois séculos e meio (até 313 d.C., mais precisamente)...
54.11. Mas, antes de tratarmos acerca da igreja dos Séculos II e III, ainda temos o Apocalipse pela frente (em especial, o capítulo 13).
55. Esta é fácil: não importa a corrente de interpretação que você siga (eu sou historicista, não sou dispensacionalista - e antes que perguntem não, eu não sou adventista!!!), a "primeira besta" de Apocalipse 13 será identificada com o poder político...
55.1. Sobre as implicações de uma escatologia futurista para o libertarianismo, se haverá um governo global do anticristo (embora eu não creia nisto), seria um dever moral do cristão opor-se ao estado...
55.2. Numa abordagem preterista (que também serve ao meu historicismo), esta primeira besta é o próprio Império Romano, que, no momento em que João escreveu o Livro, está empreendendo uma perseguição feroz aos cristãos...
55.3. Nesse sentido, Ap 13.7 afirma que foi permitido à besta (ao Império Romano) "fazer guerra aos santos, e vencê-los". A perspectiva do livro é que, embora os cristãos estejam sofrendo sobre a terra, nos céus eles reinam com Cristo...
55.4. E esse para, mim, representa o caráter atemporal do livro (eis o meu historicismo). Na verdade, pobres dos cristãos ocidentais de hoje em dia, que vivem muito confortáveis no mundo...
55.5. (a ausência de sofrimento por Cristo pode ser um indicativo da ausência de reinado com Ele)...
55.6. Apenas esclarecendo, minha abordagem é historicista porque não creio que Apocalipse esteja restrito a eventos que ocorreram no Século I, em especial a queda de Jerusalém - embora o contexto no qual o livro foi escrito não deva ser deixado de lado...
55.7. Assim, creio que o Livro, de maneira tanto profética quanto simbólica, cobre todo o período de tempo entre as duas vindas de Cristo (e, assim, obviamente, tem um aspecto futuro)...
55.8. Creio, inclusive, que a assimilação do cristianismo pelo mundo e a ascensão do humanismo estão descritas no livro, mas é melhor deixar isso de lado neste momento, porque pode dar margem a polêmicas sem acrescentar muita coisa à abordagem...
55.9. Ah, ia esquecendo de algo... compare a primeira besta (o poder político) do capítulo 13 com o dragão (o próprio diabo) do capítulo 12. Captou? A descrição das cabeças é a mesma...
55.10. Assim, ou o poder político é a própria personificação do diabo, ou o diabo detêm autoridade (a simbologia das cabeças idênticas) sobre o poder político. Pode escolher. Para efeitos práticos, posso afirmar, por metonímia, que o estado é o diabo!
55.11. Com isso, podemos iniciar, na sequência, a análise da história da igreja após a era apostólica
56. Voltando um pouco: Mt 18.15 a 20 = remoção física, “so to speak”
57. Vou voltar ao Apocalipse, ao capítulo 12, a pedido da @Campa_lolo. A abordagem será sobre minha interpretação a respeito do capítulo do ponto de vista teológico/escatológico, mas as conexões com o libertarianismo são inevitáveis.
57.1. Lembrando que sou historicista: entendo que o Apocalipse trata do desenrolar de toda a história, basicamente entre as duas vindas de Cristo (basicamente, porque em Ap 12.4 e, talvez, 7, há relato de evento anterior à primeira vinda: a queda de Lúcifer)
57.2. Um resumo do quadro: a mulher é representativa da Igreja invisível ou o "Israel de Deus," que, numa visão aliancista/historicista, é uma continuidade entre o Israel étnico e a Igreja cristã (e não, não sou adventista)...
57.3. Por isso o Filho varão, o Cristo, nasce da mulher, uma vez que ele é israelita de nascimento. Ap 12.5 trata ainda da ascensão de Cristo aos céus, após sua ressurreição (33 anos resumidos num verso)...
57.4. O dragão é o próprio Diabo, que tentou "tragar" o Cristo (lembra quem o diabo personifica no cap. 13? O próprio Império romano). Seu intento só não foi cumprido porque Jesus ressuscitou e foi exaltado...
57.5. A fuga da mulher para o deserto (12.6) representa a Igreja após a ascensão de Cristo, num paralelo com o povo de Israel no deserto, antes de entrar na terra prometida...
57.6. 1260 dias, para mim, não é tempo literal (assim como os mil anos de Ap 20 também não são): Como é a metade de uma semana de anos (sete anos) lunares, representa o tempo da história depois de Cristo (a primeira metade da semana é antes de Cristo)...
57.7. Parece que a batalha de 12.7 e 8, pelo paralelo entre 12.9 e Lc 10.18, trata também da queda de Lúcifer, a exemplo do verso 4...
57.8. No entanto, esta batalha também pode dizer respeito ao fato de Satanás ter sido derrotado na cruz; uma ou outra interpretação não afetam em nada o resultado final...
57.9. Se, após a ascensão de Cristo, a mulher representa a Igreja, então Ap 12.13 significa a perseguição de Satanás (Roma, o estado...) contra os crentes (uma realidade clara entre 64 e 313 d.C., lembrando que João deve ter escrito em 95 d.C.)...
57.10. Note-se a conexão de Ap 12.13 com 13.7: "fazer guerra aos santos e vencê-los": a derrota sobre a terra, com o martírio, significa a vitória celestial (cf. Ap 12.11)
57.11. Os "três tempos e meio" que a mulher (a Igreja) é sustentada no deserto (12.14) são equivalentes aos 1260 dias de 12.6 (aliás, os dois versos tratam exatamente da mesma coisa): um tempo simbólico, não literal...
57.12. "A terra ajudou a mulher" (Ap 12.16), tragando o rio lançado pela boca da serpente, é uma passagem difícil: penso que tem relação com o Edito de Tolerância, de Constantino (313 d.C.)...
57.13. Acho que tratei dos pontos mais importantes. Alguns versos foram deixados de fora, mas podem ser interpretados à luz das diretrizes já deixadas aqui...
57.14. Obviamente, deixei de fora as interpretações com as quais não concordo, inclusive a pirotecnia dispensacionalista (recentemente, vieram com uma interpretação astronômica, quase astrológica, de Ap 12.1-2; para mim, puro nonsense)...
57.15. Quanto ao viés libertário, o dragão, o próprio Satanás, deste capítulo, será personificado na primeira besta do capítulo seguinte, que é responsável por promover a "guerra aos santos", a perseguição aos cristãos (mas sobre Ap 13 já tratei antes)
[Seria o momento de avançar na história, mas uma conversa com um amigo no whatsapp me forneceu um bom material para tratar de teologia e de filosofia. Então, como a thread estava parada há algum tempo... "retomando o fio"... segue aí...]
58. Lembrando que eu sou protestante, como lidar com toda a diversidade existente no protestantismo? Aliás, essa diversidade, aliada a leitura de livros como "Todos os Caminhos Levam a Roma", têm feito alguns protestante no Brasil fazer o "caminho de volta" ao catolicismo.
59. Não tem jeito; será necessário ir ao próprio cerne da minha "teologia libertária" (que envolve não só teologia, mas alguns conceitos filosóficos também).
60. Creio, sobretudo, num Deus que criou o homem dotado de liberdade. Por isso, a humanidade pecou e se afastou de Deus. É disso que o relato do éden em Gênesis trata, e você não precisa o tomar em termos literais se não quiser.
61. Com Adão e Eva, ou sem, o fato é que nos separamos de Deus e do propósito de sermos como Ele (já que para isso Ele nos criou, ainda que possa ter usado, nesta criação, uma grande explosão e um processo lento de evolução - sem problemas quanto a isso).
62. Não que eu seja um evolucionista - até porque sou astrônomo nem biólogo. Mas, esclareço, retenho uma percepção criacionista. Portanto, só estou afirmando que nada disso aqui é, em tese, incompatível com um teísmo evolucionista.
63. Exatamente por causa da liberdade, sobreveio o pecado da humanidade (a queda, a separação de Deus). Mas, se Deus nos deu liberdade lá, ele nos dá liberdade aqui. Minha teologia, portanto, é sobre redenção ("a cruz somente é a minha teologia").
64. Abro mão de todas as coisas que se vê por aí nas igrejas (até porque a diversidade, atestada pela realidade, me obriga a considerar todas as demais coisas como contingentes), mas jamais abrirei mão de um Deus criador, redentor e santificador+
+(o Deus trinitário cristão, portanto), porque Ele se ajusta perfeitamente à realidade que eu vejo (e eu, como aristotélico, posso ser um realista).
65. Não que eu veja Deus, estritamente falando, na realidade, mas, ao considerar a realidade, o Deus cristão (e nenhum outro) fornece as respostas necessárias.
66. Olho para o universo e vejo nele um design inteligente (pois, mesmo fruto de uma explosão inicial, a vida não poderia ser obra do acaso). O Deus cristão é um ser, e tem uma mente (aliás, ele tem um Logos que se fez homem, em Cristo).
67. Olho para mim mesmo e vejo sofrimento, desajuste e dor (outra forma de chamar o pecado), além de toda dor que posso causar nos outros. O Deus cristão se fez homem, e sofreu no meu lugar, morreu numa cruz exatamente por isso.
68. E não só isso, veio em forma de Espírito para me santificar. Agrego ao meu aristotelismo-tomista o existencialismo, e daí percebo a necessidade de experimentar o mesmo que Cristo experimentou, para viver a sua vida em mim.
69. Em suma, com uma teologia necessária bastante reduzida, concentrada, necessariamente, na Trindade e na necessidade de redenção da humanidade, tolero toda a diversidade do cristianismo, desde que o núcleo trinitário e redentor seja mantido.
70. Outro ponto no qual o libertarianismo me auxilia é no individualismo metodológico. Olho para as pessoas como indivíduos, e não para instituições (nem mesmo para a igreja como instituição).
71. Do ponto de vista da teologia da salvação (soteriologia), vejo que Deus está resgatando, por meio de Cristo, indivíduos, sem qualquer relação com a instituição eclesiástica a qual porventura pertençam (e mesmo que não pertençam a nenhuma).
72. Minha doutrina da igreja (eclesiologia), assim, leva em conta a diversidade, baseada na liberdade, na qual indivíduos podem se organizar em grupos, e a consideração de que apenas são salvos indivíduos em razão de sua relação individual com Cristo.
73. Isso porque a igreja enquanto instituição nunca foi e nunca será mediadora de salvação, embora alguns católicos romanos pareçam dizer o contrário.
74. Obviamente, num grupo assim organizado convivem indivíduos salvos por Cristo e não salvos, o que é ensinado pela parábola do trigo e do joio (e esta mesma parábola também me ensina que eu não sou juiz da salvação individual de ninguém, acrescento).
[Alguns acréscimos necessários para esclarecer, ainda que esta não é uma teologia meramente especulativa, mas, sobretudo, também prática]
75. A Bíblia nos ensina, sim, a pensar nas "coisas de cima." Mas, exatamente em razão da compreensão que temos nas coisas de cima, ela nos ensina a cuidar de forma muito diligente das coisas daqui de baixo.
76. O mandamento do amor é muito ilustrativo disso: amar a Deus sobre todas as coisas é o primeiro e maior mandamento, e trata de algo celestial. Mas o segundo mandamento, semelhante ao primeiro, Jesus ensinou, é amar ao próximo como a si mesmo (algo bastante prático e real
77. ). Concordo que, quando um cristão só pensa nas coisas de cima e negligencia as coisas daqui de baixo (que deveriam estar sendo vividas com uma intensidade simétrica à daquela das coisas de cima), está sendo um platonista que vive no mundo das ideias (pergunta do meu amigo)+
+ ainda que talvez não saiba nada sobre Platão e sobre o mito da caverna.
78. A base para o meu libertarianismo é cristã, mais especificamente, o princípio do amor (ame ao seu próximo como a você mesmo), a regra de ouro (trate os outros como você gostaria de ser tratado) e a concepção trinitária acerca de Deus.
79. A Trindade ensina sobre um Deus criador (o Pai), redentor (o Filho) e santificador (o Espírito Santo). Deus criou o homem livre, e por isso os homens pecaram (queda ou pecado original).
80. Por causa do pecado dos seres humanos, o próprio Deus voluntariamente decidiu resgatar a humanidade, numa sequência de atos divinos livres, consistentes na encarnação e no sacrifício vicário de Cristo.
81. E Deus somente santifica, por meio do Seu Espírito, aqueles que voluntariamente o buscam. A liberdade está na essência de Deus - e foi "para a liberdade que Cristo nos libertou" (Gálatas 5.1 e 13).
82. Assim, também no que diz respeito à autopropriedade, e mesmo quanto à argumentação (pois Cristo é o Logos de Deus), identifico essa mesma ressonância.
83. Explicando melhor, o que eu vejo, tanto no PNA quanto na EAH, são ressonâncias trinitarianas da criação (para usar de uma ideia com a qual Alister McGrath trabalha em teologia natural).
84. Portanto, havendo esta compatibilidade ou ressonância, você pode me chamar, se quiser, de um jusnatrualista rothbardiano ou um jusracionalista hoppeano (para mim, não haverá diferença), que está tudo bem. Mas, na verdade e na essência, sou - apenas - um libertário cristão.
85. Em razão da relação entre o libertarianismo cristão e a apologética, irei responder a esta questão levantada pela @hopperta_ aqui

85.1. Basicamente, o que se tem é um problema epistemológico, e a própria @hopperta_ mostra como é possível considerar a existência de Deus com ou sem milagres. Mas a fé verdadeira em Cristo, como já respondi a ela, pressupõe, pelo menos, o nascimento virginal e a ressurreição...
85.2. Logo, ao menos esses dois milagres precisam ser pressupostos pelos cristãos. E, com esses, todos os demais também podem ser (novamente, lógica modal).
85.3. Há, no entanto, uma corrente no meio protestante (a qual não sigo, esclareço) que afirma que os milagres teriam cessado com o fim da era apostólica. Cessacionismo warfieldiano, é o nome disso - por isso a minha brincadeira, @hopperta_...
85.4. Mas, a rigor, é logicamente impossível afirmar que milagres não existem. Essa afirmação pressuporia uma prova. E é logicamente impossível provar um fato negativo (a não ocorrrencia de algo).
85.5. Por outro lado, basta que se presencie um milagre para que ele esteja provado (e alguém pode facilmente usar esta experiência para corroborar a existência de Deus).
85.6. Novamente, ecoando Chesterton, alguém afirmar que milagres não existem porque nunca viu um ou porque eles contrariam as leis da natureza é o mesmo que não dizer nada. Até mesmo porque contrariar as leis da natureza é a própria definição de milagre.
85.7. Para resumir e encerrar, a afirmação de que milagres não existem pressupõe uma cosmovisão naturalista e materialista. Influência do Iluminismo, mas sem qualquer amparo epistemológico. Como esse próprio ponto de vista não pode ser provado, deve ser pressuposto,+
sua assunção depende de fé tanto quanto crer na existência de Deus. E, do ponto de vista epistemológico, é exatamente por isso, @hopperta_, que você pode construir (de novo, lógica modal) um argumento de que a ausência de milagres prove a existência de Deus, +
enquanto alguém que afirma ter presenciado um milagre usa isso para afirmar a existência de Deus. Embora não tenham me perguntado, para mim, desde que ambos creiam em Cristo, me dou por satisfeito, aguardando os encontrar na Eternidade.
Missing some Tweet in this thread?
You can try to force a refresh.

Like this thread? Get email updates or save it to PDF!

Subscribe to Professor Xavier
Profile picture

Get real-time email alerts when new unrolls are available from this author!

This content may be removed anytime!

Twitter may remove this content at anytime, convert it as a PDF, save and print for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video

1) Follow Thread Reader App on Twitter so you can easily mention us!

2) Go to a Twitter thread (series of Tweets by the same owner) and mention us with a keyword "unroll" @threadreaderapp unroll

You can practice here first or read more on our help page!

Follow Us on Twitter!

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just three indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3.00/month or $30.00/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!