Thread by @GCasaroes

🇺🇸 Finalmente: o fio do apocalipse 🇮🇷

Como já tem muita gente falando sobre as perspectivas de uma 3ª guerra mundial, quero me ater a um ponto muito específico desse imbróglio:

Caso se inicie um conflito armado envolvendo EUA e Irã, como fica a posição do Brasil?

1) Um pouco de história: solução pacífica de conflitos e respeito ao Direito Internacional são duas tradições da nossa pol ext republicana.

O 🇧🇷, como regra, é contra ações armadas, salvo em casos de legítima defesa e/ou quando autorizadas por um órgão multilateral (e.g. CSNU)

2) Exceto pelas 2 Guerras Mundiais, o Brasil não se envolveu como parte em conflitos armados no período da República. Mas atuamos em vários como mediadores ou como parte de operações de manutenção de paz da ONU.

3) Períodos de aliança umbilical c/🇺🇸 foram testes ao pacifismo brasileiro.

Em 1950, Dutra foi chamado a enviar tropas p/a Guerra da Coreia.

Em 1965, queriam que o regime militar liderasse a intervenção na Rep Dominicana.

Em 1990, Bush pediu p/Collor mandar tropas p/o Golfo.

4) Em todos os casos, o 🇧🇷 relutou.

Dutra, mesmo simpático à luta anticomunista, não quis deixar uma guerra de presente ao sucessor, Getulio.

Castello pulou no barco dos EUA e mandou 1200 soldados p/o Caribe, mas só depois que a OEA autorizou a operação (ainda hoje polêmica)

5) O caso de @Collor foi o mais complexo. Quando Saddam Hussein invadiu o Kuwait, o 🇮🇶 era nosso 8º parceiro comercial. Uma guerra no Oriente Médio seria péssima p/o Brasil.

Ainda que o 🇧🇷 tenha aderido às sanções da ONU durante a Guerra do Golfo, não nos envolvemos militarmente

6) Dutra e Collor acabaram pagando o preço da relutância. Eisenhower postergou empréstimos importantes ao Brasil. 40 anos depois, Bush usou o Golfo como moeda de troca p/concessões duras em áreas como não-proliferação, patentes, informática.

P/os , era lealdade total ou nada.

7) A história de Collor no Golfo é ainda + interessante pq envolve competição regional.

A 🇦🇷 de Carlos Menem, ansiosa pra se tornar melhor amiga dos 🇺🇸, prontamente mandou 2 navios pro Golfo.

Foi o 1º passo p/a Argentina ganhar o status de "aliado especial extra-OTAN", em 98.

8) Pronto, chegamos ao Irã.

🇧🇷🇮🇷 mantêm relações desde 1903. Elas ganharam força nos anos 90, dada a crise iraquiana.

Por alguns anos, os aiatolás foram bons fornecedores de petróleo p/🇧🇷. Em 92, chegamos até a negociar a venda de reatores nucleares p/eles (não deu em nada).

9) Houve até 1 momento de romance, em que Lula, deslumbrado c/um Brasil emergente, se aproximou de outros emergentes e começou a fazer diplomacia ativa no O Médio.

O Irã protagonizou o momento + polêmico da pol ext lulista, o Acordo de Teerã, de 2010. As tensões c/EUA cresceram.

10) Clubismos à parte, o acordo teve 1 sentido diplomático importante, além de buscar afirmar a soberania 🇧🇷 na área nuclear (proj submarino nuclear). Lembremos que o Irã começou a ser sancionado com base em suspeitas de pretensões nucleares. O Brasil poderia ser o próx da fila.

11) O problema dessa relação é que @LulaOficial deu legitimidade a um mentecapto, Ahmadinejad, além de fazer declarações descabidas, como aquela em que comparou os protestos violentos no Irã sobre fraude eleitoral a "briga entre flamenguistas e vascaínos"

www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult2…

12) @dilmabr foi no sentido contrário. Esfriou relações políticas e econômicas com o Irã, que já começava a sentir os efeitos das sanções.

Com o acordo nuclear de 2015 e o fim do embargo, abriram-se novas possibilidades comerciais - estimuladas, inclusive, por @MichelTemer

13) Hoje, o Irã é maior mercado para nosso 🌽 e o 5º maior destino de soja e carne 🐄. Compramos muito pouco deles, basicamente fertilizantes e produtos de ferro/aço.

Ainda que moderadamente expressivo, o comércio é o maior legado deixado pelos anos PT nas relações Brasil-Irã.

14) Ainda que o 🇮🇷 nunca tenha sido prioridade p/o @jairbolsonaro, hostilizá-lo era estratégico por 4 razões:

1. aproximar Bolsonaro de Trump
2. aproximar Bolsonaro de 🇮🇱
3. aproximar Bolsonaro das monarquias sunitas do Golfo
4. rivalizar com a 🇻🇪, parceira regional do Irã

15) Como demonstração de lealdade aos EUA, @ernestofaraujo foi a Varsóvia, em fev, p/a Conferência sobre Paz no Oriente Médio. Foi sua 1ª viagem além-mar.

Essa reunião gerou polêmica, pois foi entendida como um encontro de aliados de Trump p/acuar o Irã.

ft.com/content/361114…

16) A lealdade é tanta que, mesmo sob críticas de setores ligados ao governo (🤫), o Brasil sediará a Conferência anti-Irã de 2020. Ano passado, UE, Rússia, China e outros (((globalistas))) torceram o nariz para o evento.

noticias.uol.com.br/colunas/jamil-…

17) Ponto importante, que passou despercebido p/muitos: apesar de @realDonaldTrump não ter tuitado sobre a visita do amigo Bolsonaro aos EUA, o então assessor @AmbJohnBolton tuitou.

Disse o seguinte: c/o status de aliado extra-OTAN, eles esperavam lealdade do 🇧🇷 sobre 🇨🇳,🇻🇪 e 🇮🇷

18) Sobre Israel: o Irã é a maior pauta de política externa de @netanyahu e ele espera que seus aliados se posicionem contra Teerã.

A chegada de Bolsonaro foi ótima p/que Bibi conseguisse "globalizar" sua campanha anti-Irã com o apoio brasileiro.

www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/05/…

19) Xingar o Irã serviu, inclusive, p/minimizar o mal-estar causado pela indecisão sobre a questão da embaixada p/Jlem.

Lembrando que a rivalidade 🇮🇱🇮🇷 tem ramificações na Am do Sul, sobretudo por meio da atuação do Hezbollah e via conexão Teerã-Caracas.

aljazeera.com/indepth/opinio…

20) @BolsonaroSP quer classificar o grupo libanês Hezbollah como terrorista. Isso contraria a postura histórica do Brasil de seguir as resoluções da ONU. Há suspeitas de atuação do grupo na tríplice fronteira. Foz do Iguaçu tem a maior pop xiita do 🇧🇷.

oglobo.globo.com/mundo/bolsonar…

https://twitter.com/GCasaroes/status/1213288227903291394?s=19