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Como o @martimvasques me citou nominalmente em seu último artigo, vou fazer aqui algumas correções e comentários.

Vamos retomar a tradição do THREADZÃO DOS SÁBADOS! :D
No artigo, ele afirma que eu sou um "intelectual cooptado pelo governo" e dá a entender que eu teria escrito que o Alvim era "o novo Messias da cultura brasileira". As duas afirmações são falsas.
Sobre o o Alvim, eu não sabia quem ele era até algumas semanas atrás e só prestei atenção nele há dois dias, quando o fatídico vídeo viralizou.

Sobre o governo, eu nunca tive nenhum contato com o mundo da política, nem quero ter. Isso é o próprio upside-down, vade-retro.
Quando eu escrevo alguma coisa contra ou a favor de algum político, eu faço como todo mundo faz aqui: tirando da minha cachola e não como parte de um grupo político. É apenas o exercício do meu sagrado direito de "xingar muito no twitter".
Graças a Deus, tenho uma boa carreira que me permite ter umas horinhas livres no fim de semana para escrever sobre o que me der na telha. Seria pura insanidade trocar essa liberdade por cargos públicos.

Sem falar que, quem acompanha o que eu escrevo, como...
... os últimos artigos que fiz para o @JornalBSM ou os artigos que envio por e-mail (lucasmafaldo.org/boletim-vida-c…), sabe que meu objetivo principal é TIRAR as pessoas dos movimentos políticos para que elas possam se concentrar em suas vidas concretas.
O fato de estar fora de um movimento político não significa, entretanto, abstinência total da política. Quem tem uma vida concreta pode -- e deve -- ter posições públicas, mas elas são tomadas caso-a-caso, com base na própria consciência, e não nas diretrizes de um grupo.
É exatamente isso que faço: quando eu defendi Bolsonaro durante a campanha, era porque eu estava pessoalmente convencido que ele era a melhor opção -- não por querer algo em troca, nem por pressão grupal.

(É assim com tudo que escrevo, aliás.)
Eu não sou, contudo, o assunto do artigo. Na verdade, eu fui pego aí no fogo-cruzado do anti-olavismo -- e, por isso, vou fazer também alguns comentários sobre esse assunto.
Não acho que vale a pena discutir o ponto inicial do Martim (de que o vídeo do Alvim seria uma estratégia deliberada de provocar "dissonância cognitiva"), pois eu vejo nisso um sintoma de algo que já comentei em outros textos (aqui, p. ex.: preview.mailerlite.com/c6b6v3/1296625…)
O problema aí é um espécie de "excesso teórico", uma Navalha de Occam invertida. Os intelectuais brasileiros infelizmente tendem a buscar explicações complexas demais quando algo mais simples é mais provável: incompetência, maluquice ou sabotagem, por exemplo.
Em todo caso, esse é só o pontapé do texto. O objetivo mesmo de Martim é continuar atacando o "bolsolavismo" que estaria tomando o país -- e como esse é um "tópos" do debate público atual, vou passar diretamente para ele.
É inegável que Olavo é o escritor mais influente dessa geração. Porém, há uma diferença enorme entre ter uma influência cultural e ser chefe de um grupo político. Boa parte da discussão atual visa confundir a fronteira entre as duas coisas.
O poder dos escritores é o da persuasão: eles lançam suas ideias ao mundo e o público fica livre para interpretá-las, aceitá-las ou modificá-las. Quanto mais persuasivo, mais influente será.

Porém, ele mesmo não controla esse processo. O público tem sua dose de responsabilidade.
O poder dos líderes políticos é diferente. Eles precisam de uma estrutura de controle (mesmo que informal), para guiar seus seguidores na direção desejada. É preciso ter um alvo claro e um mecanismo de sanção para alinhar os militantes.
Eu não vejo essa estrutura de controle nem mesmo no bolsonarismo. Talvez ela surja com as próximas eleições, mas o próprio Bolsonaro não me parece ter ainda propriamente um movimento político. Ele tem só uma coleção de fãs empolgados e dispersos.
Em relação ao tal do "olavismo", aí é que não cabe mesmo falar em movimento político. Não existe nem doutrina olavista nem uma rede de comando olavista.

Ao longo da sua carreira, o próprio Olavo foi mudando de ideias e criando gerações diferentes de alunos que vivem...
... se digladiando. Ou seja, falar em "olavismo" é forçar a a barra. O olavismo simplesmente não existe.

O que existe são milhares de leitores de Olavo -- alguns que lêem e concordam com tudo, alguns que concordam apenas com algumas partes, e até alguns que não entendem nada.
Atacar o olavismo, portanto, é a mesma coisa que esmurrar o vento. O olavismo existe apenas enquanto metáfora para uma influência cultural difusa e não enquanto uma doutrina coesa e, muito menos, enquanto uma estrutura sociológica.
O curioso disso é que, embora o olavismo não exista enquanto movimento sociológico, estou cada vez mais convencido que o anti-olavismo é algo que existe concretamente. Existe uma comunidade crescente de pessoas que estão aliadas no esforço de esmurrar o vento.
Eu digo isso porque, nessas quase duas décadas que eu estive próximo da tal "nova direita", o único tipo de patrulha que eu senti foi dos anti-olavistas. Já perdi as contas de quantas pessoas vieram me procurar em privado para tentar me convencer a me distanciar de Olavo.
E o curioso é que nem sou particularmente próximo dele (eu me encontrei mais vezes com o próprio Martim do que com Olavo, por exemplo).

Mas, ainda assim, os anti-olavistas se incomodam com qualquer sinal mínimo de olavismo. O caso mais curioso foi um professor de filosofia que..
... veio me encher o saco porque eu usei uma expressão que Olavo tinha usado -- sem citar Olavo, aliás (ele encheu tanto o saco que recebeu meu primeiro e único block nessa rede, diga-se de passagem).
Em contraste, eu conheço o @silviogrimaldo há quinze anos e ele nunca tentou influenciar uma linha do que escrevo. Mesmo quando me convidou para escrever para o @JornalBSM, ele nem me perguntou sobre o que eu iria falar.
Em outras palavras, não faz sentido se preocupar com "bolsolavismo", porque isso non ecziste.

O que existe é um escritor que se tornou popular porque consegue falar da experiência brasileira em uma linguagem pessoal e divertida. É só isso.
Dito isso, é realmente interessante como Olavo conquistou um parte enorme do "market share". Jordan Peterson, por exemplo, fez muito sucesso no mundo anglo, mas sua fatia do mercado é bem menor.

Parece que no Brasil, a oferta estava muito escassa, aí Olavo acabou engolindo...
... um pedaço enorme do mercado, irritando muita gente.

Creio que a fraqueza da oferta se deve em grande parte à burocratização da nossa cultura. Há muitas décadas, nossos professores universitários possuem um público cativo. Os alunos precisam assistir suas aulas...
... para ter um diploma, precisam ir para suas conferências para ter pontos no Lattes. Isso deixou os intelectuais brasileiros relaxados. Engordaram no cativeiro estatal e perderam a forma necessária para disputar espaço na retórica.
Porém, isso foi a geração anterior. A geração atual está mais preocupada com o engajamento nas redes sociais, o que é um jogo diferente -- menos burocrático, mas também mais superficial.

Eu apostaria que, assim como o vencedor do capítulo anterior estava fora da burocracia...
... os próximos vencedores estão nesse momento pouco visíveis nas redes.
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