Thread by @lucasmafaldo

Uma ideia que eu pretendo desenvolver mais é a seguinte: vale a pena investigar mais a "infraestrutura psicológica" das ideologias políticas. O debate público se concentra demais nos sistemas ideológicas em vez de mergulhar nos tipos de personalidade que os sustentam.

Um jeito mais simples de dizer isso é o seguinte: independente da ideia X está certa ou errada, por que fulano de tal decide acreditar nela?

Ou em um sentido ainda mais concreto: por que sicrano se considera parte do movimento x, embora nem sempre entenda exatamente suas ideias?

Quando você faz essas perguntas, você percebe que há dinâmicas sociais muito menos racionais (ou talvez "extra-racionais", porque não são exatamente ilógicas) no fluxo concreto da vida política de um país.

Ou seja, o cara não vira comunista porque leio todo o Marx e entendeu...

... tudo, mas porque alguma coisa na sua personalidade fez com que ele se identificasse com um determinado grupo social.

Ou seja, abaixo do debate público propriamente falando, tem um jogo de formação de identidades que é muito importante.

Nesse sentido, um ponto cego dos liberais é a importância do tal "mercado das ideias", a noção de que vários sistemas de pensamento estariam em competição no espaço público.

Um pouco disso é verdade, obviamente, mas é um modelo limitado, pois não são as próprias ideias que...

... competem entre si, mas várias pessoas que disputam espaço público. Essas pessoas não escolhem as ideias apenas porque elas lhe parecem verdadeiras, mas por uma série de motivos mais "pé-no-chão": (i) se elas ajudam a avançar seus interesses pessoais; (ii) se elas serão...

... também compartilhadas pelo círculo de aliados; (iii) e se elas expressam seu estado subjetivo sobre o mundo.

Se não fosse assim, não haveria aliás nem sentido ter debate de ideias: se todo mundo fosse racional, a ideia mais verdadeira JÁ TERIA vencido, ora mais. Portanto..

... em um mundo perfeitamente racional, o consenso atual já seria toda a verdade e não haveria mais nada a discutir.

Obviamente, ninguém pensa assim. O que temos são várias facções que acreditam que sua versão dos fatores é superior e que precisam provar RETORICAMENTE...

... isto é, por argumentos que são tanto racionais quanto emotivos, que a sua versão dos fatos merece ser ouvida.

Por isso mesmo, quem gosta demais de teoria política geralmente tem dificuldade de entrar no centro do debate público.

Nesse sentido, mesmo a Ayn Rand (de quem nem gosto tanto, aliás), foi mais esperta ao falar como a inveja pode ser uma das motivações para querer redistribuição de renda. Eu não acho que essa é toda a história, mas esse tipo de foco me parece correto: tentar ver o porquê de...

... uma determinada ideia fazer sucesso, em vez de simplesmente achar que os seus adversários são burros ou malévolos.

Em certo sentido, aliás, PRINCIPALMENTE as ideias erradas precisam de uma motivação subjetiva para explicar seu sucesso (já que a mera veracidade cognitiva...

... não é a explicação).

Enfim, sei que provavelmente ficou meio bagunçado, mas era só para deixar anotado um tema para retomar outro dia.