Todos os números continuam indo em uma péssima direção. Como já falei antes, há uma questão aí: o quanto isso é devido à ineficiência das medidas iniciais ou à própria virulência da doença? Se for o segundo, pode ficar muito pior antes de melhorar.
Além dos fatores que comentei semana passada, creio que as pessoas têm uma dificuldade muito grande em compreender o peso de fatores exponenciais e de efeitos não-lineares.
Isso aqui ajuda a entender o primeiro fator: en.wikipedia.org/wiki/Wheat_and…
Isso aqui ajuda a entender o primeiro fator: en.wikipedia.org/wiki/Wheat_and…
O exemplo clássico é o seguinte: pegue um tabuleiro de xadrez e coloque um grau de arroz no primeiro quadrado, dois no segundo e aí por diante, sempre dobrando a quantidade. Por incrível que pareça, você chega na faixa dos bilhões antes da metade do tabuleiro. 
Por isso, embora os números atuais do vírus pareçam pequenos, a questão é: por quanto tempo ela continuará se multiplicando? Uma variação aparentemente pequena no fator de multiplicação é a diferença entre mil mortes ou... dez milhões.
E aí entra a não-linearidade.
E aí entra a não-linearidade.
Mesmo quem entende bem de matemática às vezes não percebe que há efeitos não-lineares na sociedade. Ter 1% da população doente não é apenas 10x pior do que ter 0.1% da população doente.
Na linguagem clássica, tem uma hora que a quantidade se transforma em qualidade.
Na linguagem clássica, tem uma hora que a quantidade se transforma em qualidade.
Um exemplo bem concreto: caso o número de pacientes em um hospital dobre a primeira vez, isso vai requerer mais gente fazendo hora extra -- o que talvez não seja tão ruim.
Mas se dobrar de novo, não vai ter hora extra suficiente. Será preciso chamar gente inativa, como...
Mas se dobrar de novo, não vai ter hora extra suficiente. Será preciso chamar gente inativa, como...
... aposentados, gente que estava em horário parcial, etc.
E se dobrar de novo? Aí não tem mais gente com treinamento disponível, e aí é preciso treinar gente nova, o que leva tempo.
Os mesmos efeitos não-lineares ocorrem com espaço, instrumentos, mantimentos, etc.
E se dobrar de novo? Aí não tem mais gente com treinamento disponível, e aí é preciso treinar gente nova, o que leva tempo.
Os mesmos efeitos não-lineares ocorrem com espaço, instrumentos, mantimentos, etc.
Nossa mente tem muita dificuldade de compreender esses saltos qualitativos e ficamos imaginando apenas dois cenários: ou tudo ficar normal ou há um apocalipse total. Mas, na verdade, há vários estágios intermediários que podem ser bem desagradáveis sem implicar no fim de tudo.
E a questão é sempre em qual desses estágios intermediários cada problema vai ficar (o Brasil tem vários exemplos de cenários pré-apocalípticos bem ruins, aliás, como o surto de Zika, dengue, etc.).
Eu pessoalmente não estou muito preocupado com isso ainda porque minha suspeita é que o governo chinês exagerou a letalidade da doença para esconder o fato de que sua capacidade de proteger a própria população é muito baixa: muita poluição, má alocação de recursos, etc.
Por isso, ainda acho que vai ser um problema principalmente local, com alguns desdobramentos internacionais, que serão minimizados porque os outros países serão mais eficientes na resposta.
Mas isso é só uma suposição. Eu não acredito que dá para ter certeza de nada ainda.
Mas isso é só uma suposição. Eu não acredito que dá para ter certeza de nada ainda.
Mesmo se for um problema apenas nacional, aliás, os efeitos não-lineares podem se aplicam: muito antes do vírus atingir 1% da população é possível aparecer outros efeitos -- insatisfação popular, crise de abastecimento, etc.
Ou seja, pode não ser nada, pode ser tudo.
Ou seja, pode não ser nada, pode ser tudo.
