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Era uma terça-feira igual a essa, chuvosa. Cheguei em casa cansado, pois o dia tinha sido particularmente desgastante. Trabalhei e me estressei muito.

Naquela noite só queria tirar a roupa, tomar um banho e dormir.

E foi exatamente o que fiz.
Eu geralmente deixava a luz da sala ligada, porque, no meio da noite, quando acordo para ir ao banheiro, me bato em tudo.

Aí lá estava eu, deitado no meu quarto, luz desligada, todo coberto, e aquela fresta de luz passando por baixo da porta, deixando o quarto na penumbra.
Sabe quando você está tão cansado, mas tão cansado, que parece até difícil dormir?

Era assim que eu estava...

Eu pescava e acordava assustado, e cochilava e acordava incomodado... e foi no meio desse ir e vir do sono que eu percebi algo estranho.
Quando dei por mim, vi que alguma coisa barrava a entrada da luz pela fresta da porta, como se houvesse alguma coisa parada na porta do meu quarto.

Na hora eu fiquei atento e comecei a imaginar o que podia ser.

Eu morava sozinho, não tinha animais...
Talvez eu tivesse esquecido alguma coisa lá.

Talvez minha mochila (mas olhei no canto do quarto e ela estava lá).

Talvez tivesse deixado cair alguma roupa... talvez, talvez...

Como não ia conseguir dormir com a dúvida, me levantei para ver e, nessa hora, A SOMBRA SUMIU.
Eu parado no escuro, no meio do quarto, indo descobrir o que era aquela sombra, quando a sombra se moveu sem qualquer explicação.

Fiz a única coisa possível: dei um grito enorme, pulei para a cama e me cobri novamente.

Se soubesse rezar, tinha rezado.
Então fiquei lá, quieto, sem mover um músculo, mal respirando...

Depois de um minuto, criei coragem e olhei novamente - e nem sei por que olhei novamente, era melhor ter ficado escondido e dormido:

Porque, quando olhei novamente, a luz da sala tinha apagado.
Eu quis gritar, estava apavorado, parecia que ia enfartar, mas gritar para quem!? Quem ia me ouvir!?

E enquanto eu pensava nisso, a liz acendeu novamente.

Juro que tentei raciocinar, devia haver uma explicação razoável para aquilo.
Podia ter sido uma queda de energia. E a sombra se movendo, bem, talvez eu estivesse dormindo e tenha visto coisas.

Pensava nisso tudo enquanto encarava a fresta de luz por baixo da porta, e já estava me acalmando quando vi a sombra de dois pés caminhando no corredor, lentamente
Aí não teve mais jeito!

Quase desmaiei de medo, senti uma taquicardia e comecei a ter um ataque de pânico, mas decidi fazer algo.

Sai correndo do quarto, abri a porta e, nesse exato momento, enquanto corria pelo corredor, a luz da sala apagou e ouvi um grito pavoroso.
Parecia que várias pessoas gritava atrás de mim, e corriam atrás de mim, um som igual de animal sendo abatido, uma coisa tão terrível que só consegui chorar de medo enquanto tateava a porta no escuro.

Nem sei como abri a porta. Corri pela eacada e fui buscar ajuda na portaria.
Claro que paguei papel de ridículo. De pijama, chorando, vermelho de medo, contando história de fantasma ao porteiro.

Ele subiu comigo e obviamente não tinha nada lá, mas, naquela noite, peguei um muda de roupa e fui dormir na casa de um amigo.
E a história se espalhou no dia seguinte. Contei em um grupo de Whatsapp e surgiram mil teorias e sugestões.

Até que um amigo disse que tinha um amigo que era diácono e poderia ir no meu apartamento fazer uma reza, algo do tipo. Aceitei.
Marcamos naquele mesmo dia, e mo final da tarde meu amigo chegou com o diácono e subimos os três.

O diácono falou sobre espíritos angustiados, sobre almas perdidas, rezou por tudo, jogou água benta e, no final, quando já estava saindo, parou e disse:
- Você me permite fazer mais uma coisa?

QUALQUER COISA, DIÁCONO!!! FAÇA TUDO QUE QUISER, eu pensei, enquanto respondia - claro, nobre senhor.

E o homenzinho marchou certeiro até a porta do meu quarto, e ficou parado diante dela de olhos fechados.
Eu e meu amigo dicamos olhando ele, que parecia estar desligado do mundo enquanto rezava baixinho.

Aí ele tirou um pote do bolso, melou a mão e desenhou uma cruz enorme na minha porta, com aquilo que parecia um óleo.

E era óleo mesmo, mas ungido.

Ele completou:
- Alguém tentou entrar por essa porta, e você deu sorte dele não ter conseguido. Não sei se volta, acho que não, mas, por via das dúvidas, reforcei sua segurança- disse ele, apontando para a cruz melada.
Juro que me senti mais seguro.

Meu amigo ainda ofereceu abrigo, se ofereceu para dormir ali, mas senti que não era preciso.

Me despedi dos dois e fui me preparar para dormir, pois não tinha fechado os olhos na noite anterior.
Dessa vez, desliguei a luz da sala, tranquei bem a porta e deixei ligado somente um abajur no quarto.

Sem fresta, sem sombras.

Mas então, do nada, minha aparente tranquilidade foi sumindo. Comecei a suar frio e ficar tenso, como se pressentindo algo.
Quanto mais a noite passava, mais me tornava vítima da insônia e mais nervoso eu ficava...

Até que, por volta da meia noite, ouvi uma batida de leve na porta do quarto. Era tão fraquinho que parecia o vento.

Me levantei para ouvir melhor, encostei o ouvido na porta e, então...
...deram um murro tão forte que porta parecia que ia cair. Depois do primeiro murro vieram outros e outros e outros, como se dezenas de mãos quisessem arrebentar a porta.

Depois, do nada, tudo parou. Silêncio total.

Foi quando começaram a arranhar a porta...
...nem sei quanto tempo aqui durou...

Arredei a mesinha de estudo para a frente da porta fazendo barricada. Levantei o colchão e botei lá para abafar o som. Tampei os ouvidos. Mas, mesmo assim, não sei por quanto tempo ouvi aquelas unhas arranhando a porta.
Eu dormi, ou desmaiei, nem sei.

Quando acordei já era de manhã cedinho. Com a claridade, criei coragem e sai.

Pois no exato local onde o diácono tinha feito a cruz com óleo ungido a porta estava totalmente arranhada, cavada por unhas.
Naquele mesmo dia arrumei minha mala e fui passar um tempo na casa de um amigo.

Foi o tempo de encontrar um novo apartamento, fazer a mudança e tentar esquecer aquele pesadelo.

E, o mais bizarro, que talvez explique muita coisa...
...no dia da mudança, quando estava acompanhado a retirada dos meus móveis, um morador do prédio chegou comigo e puxou assunto:

- Está indo ou chegando?

- Estou indo.

- E morava onde?

- No 901.

- Ah... no apartamento da velha Renata, né?
- Não sei dizer... mas quem é ela?

- Ah, rapaz, uma história horrenda. dona Renata morava no 901 com um neto quase da sua idade. Ela era inválido, viva na cama ou na cadeira de roda. Um dia o neto saiu pra festa e deixou ela sozinha, e deu curto num aparelho de aerossol...
...foi rápido que pegou fogo. Acabou o apartamento todo, mas felizmente os vizinhos conseguiram controlar as chamas antes dos bombeiros chegarem. E o mais terrível é que encontraram o corpo da velha encostado na porta, como se querendo escapar.
Agora imagina: a velhinha nem se movia, incapaz de andar, de tudo. Imagina o desespero dela no meio do fogo, tentando sobreviver. Dizem que ela estava até sem unhas de tanto que arranhou a porta, e que uma mão tinha vários ossos quebrados...
Nesse ponto, nem quis mais escutar nada. Nem me despedi do homem e me afastei para respirar!

Apressei os homens da mudança e só queria sair correndo dali, fugir daquele pesadelo que só parecia ficar pior.

Felizmente, nunca mais passei por nada igual.

Fim.
Ps.: a história foi inspirada na história real contada pela Raissa, que não tem perfil no @TwitterBrasil, mas me contou no grupo do @telegram_br.

Mas a Raissa tem Instagram, @fygydrai, para quem quiser ir lá rezar por ela.
E para quem quiser entrar no TantoChannel no @telegram_br, segue o link:

t.me/tantotupiassu
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