Naquela noite só queria tirar a roupa, tomar um banho e dormir.
E foi exatamente o que fiz.
Aí lá estava eu, deitado no meu quarto, luz desligada, todo coberto, e aquela fresta de luz passando por baixo da porta, deixando o quarto na penumbra.
Era assim que eu estava...
Eu pescava e acordava assustado, e cochilava e acordava incomodado... e foi no meio desse ir e vir do sono que eu percebi algo estranho.
Na hora eu fiquei atento e comecei a imaginar o que podia ser.
Eu morava sozinho, não tinha animais...
Talvez minha mochila (mas olhei no canto do quarto e ela estava lá).
Talvez tivesse deixado cair alguma roupa... talvez, talvez...
Como não ia conseguir dormir com a dúvida, me levantei para ver e, nessa hora, A SOMBRA SUMIU.
Fiz a única coisa possível: dei um grito enorme, pulei para a cama e me cobri novamente.
Se soubesse rezar, tinha rezado.
Depois de um minuto, criei coragem e olhei novamente - e nem sei por que olhei novamente, era melhor ter ficado escondido e dormido:
Porque, quando olhei novamente, a luz da sala tinha apagado.
E enquanto eu pensava nisso, a liz acendeu novamente.
Juro que tentei raciocinar, devia haver uma explicação razoável para aquilo.
Pensava nisso tudo enquanto encarava a fresta de luz por baixo da porta, e já estava me acalmando quando vi a sombra de dois pés caminhando no corredor, lentamente
Quase desmaiei de medo, senti uma taquicardia e comecei a ter um ataque de pânico, mas decidi fazer algo.
Sai correndo do quarto, abri a porta e, nesse exato momento, enquanto corria pelo corredor, a luz da sala apagou e ouvi um grito pavoroso.
Nem sei como abri a porta. Corri pela eacada e fui buscar ajuda na portaria.
Ele subiu comigo e obviamente não tinha nada lá, mas, naquela noite, peguei um muda de roupa e fui dormir na casa de um amigo.
Até que um amigo disse que tinha um amigo que era diácono e poderia ir no meu apartamento fazer uma reza, algo do tipo. Aceitei.
O diácono falou sobre espíritos angustiados, sobre almas perdidas, rezou por tudo, jogou água benta e, no final, quando já estava saindo, parou e disse:
QUALQUER COISA, DIÁCONO!!! FAÇA TUDO QUE QUISER, eu pensei, enquanto respondia - claro, nobre senhor.
E o homenzinho marchou certeiro até a porta do meu quarto, e ficou parado diante dela de olhos fechados.
Aí ele tirou um pote do bolso, melou a mão e desenhou uma cruz enorme na minha porta, com aquilo que parecia um óleo.
E era óleo mesmo, mas ungido.
Ele completou:
Meu amigo ainda ofereceu abrigo, se ofereceu para dormir ali, mas senti que não era preciso.
Me despedi dos dois e fui me preparar para dormir, pois não tinha fechado os olhos na noite anterior.
Sem fresta, sem sombras.
Mas então, do nada, minha aparente tranquilidade foi sumindo. Comecei a suar frio e ficar tenso, como se pressentindo algo.
Até que, por volta da meia noite, ouvi uma batida de leve na porta do quarto. Era tão fraquinho que parecia o vento.
Me levantei para ouvir melhor, encostei o ouvido na porta e, então...
Depois, do nada, tudo parou. Silêncio total.
Foi quando começaram a arranhar a porta...
Arredei a mesinha de estudo para a frente da porta fazendo barricada. Levantei o colchão e botei lá para abafar o som. Tampei os ouvidos. Mas, mesmo assim, não sei por quanto tempo ouvi aquelas unhas arranhando a porta.
Quando acordei já era de manhã cedinho. Com a claridade, criei coragem e sai.
Pois no exato local onde o diácono tinha feito a cruz com óleo ungido a porta estava totalmente arranhada, cavada por unhas.
Foi o tempo de encontrar um novo apartamento, fazer a mudança e tentar esquecer aquele pesadelo.
E, o mais bizarro, que talvez explique muita coisa...
- Está indo ou chegando?
- Estou indo.
- E morava onde?
- No 901.
- Ah... no apartamento da velha Renata, né?
- Ah, rapaz, uma história horrenda. dona Renata morava no 901 com um neto quase da sua idade. Ela era inválido, viva na cama ou na cadeira de roda. Um dia o neto saiu pra festa e deixou ela sozinha, e deu curto num aparelho de aerossol...
Apressei os homens da mudança e só queria sair correndo dali, fugir daquele pesadelo que só parecia ficar pior.
Felizmente, nunca mais passei por nada igual.
Fim.
Mas a Raissa tem Instagram, @fygydrai, para quem quiser ir lá rezar por ela.