Thread by @nelsonhbarbosa

1/ Sobre as respostas ao choque do Covid-19, baseado em nossa experiência recente:

Em 2008-10 o governo reagiu imediatamente e saímos rápido da crise, com grande ajuda da economia mundial, que também se recuperou em V graças à China, mas houve expansão também no resto do G20.

2/ Já em 2014-16 o governo demorou para reagir e, inicialmente, aumentou o problema (olha autocrítica aí) com contração fiscal, suddden stop no BNDES e realinhamento abrupto de preços de energia em um contexto de collapso dos preços internacionais das commodities, mas ...

3/ ... quando o governo percebeu o erro, mudou a estratégia para: flexibilização fiscal no curto prazo (lembrem da heresia do "orçamento com déficit"), reforma fiscal gradual de longo prazo e linhas emergenciais de crédito via BNDES e FGTS, que haviam recebido bastante $ ...

4/ ... Da União, por conta do pagamento dos atrasados de anos anteriores. Também houve proposta de "pacto" ou "coordenação" entre os três poderes, para continuar a combater a corrupção, sem destruição de empregos e empresas. O cenário político inviabilizou a mudança, mas ...

5/ ... Em 2016, após o golpe parlamentar, houve flexibilização fiscal e início de corte da SELIC, ainda que bem atrasado. No crédito houve aprofundamento suddden stop por parte dos bancos públicos, na expectativa de que o setor privado assumiria o seu lugar em tempo de crise.

6/ Mas a flexibilização fiscal durou pouco. A partir de 2017 entramos na sanfona fiscal do teto Temer, com contingenciamento no início do ano, liberação ao final do ano, e injeção pontual de FGTS para consumo, quando a economia ameaçava entrar em recessão.

7/ Do lado do crédito a contração aumentou, com TLP com tudo, e o BNDES virou antecipador de receitas para a União. A recuperação veio mais lenta do que o esperado, e isso ajudou a derrubar a inflação e a SELIC, mas a economia, especialmente o "PIB privado" resolveu ...

8/ ... Contrariar a estratégia do governo e não reagiu como o esperado aos juros mais baixos e suposta maior "credibilidade" da política fiscal. De modo irracional para os economistas do governo Temer e Bolsonaro (sim, é tudo a mesma coisa), o setor privado se negou ...

9/ ... A aumentar rapidamente seu gasto com base na expectativa de que a dívida pública seria menor dentro de 10 anos. Esse setor privado ... parece economista heterodox que fica insistindo que tem que ter demanda para ter produção ... Mas estou divagando. Volto ao ponto.

10/ Em 2008-10 o governo reagiu rápido a crise e isto ajudou a supera-la.

Em 2014-16 o governo demorou a reagir e isto ajudou a aumentar a crise.

Nos dois casos houve outros fatores importantes, políticos e internacionais, que também explicam o desempenho econômico, mas ...

11/ ... Política econômica ajudou a superar ou ampliar a crise.

Agora vem outro choque sério e política econômica pode ajudar a estabilizar ou desestabilizar a situação.

Tudo indica que vamos na desestabilização, com governo se concentrando em "reformas, reformas, reformas" ...

13/ ... Sem qualquer preocupação com ações de curto prazo (vide abaixo). Chegamos até ao absurdo de autoridades comemorarem que o governo contribuiu para o lento crescimento, reduzindo seus gastos com infraestrutura, saúde, educação ...
economia.uol.com.br/noticias/estad…

14/ Assim, apertem os cintos! Vai piorar antes de melhorar. Enquanto o resto do mundo discute ações emergenciais de saúde pública e política econômica, por aqui ainda estamos presos em brincadeiras ideológicas de crianças no governo. Vai demorar para o pessoal acordar.

FIM