Alguns pensamentos sobre a possível crise do covid19 no Brasil, inspirados no grande @R2Rsquared (sem nenhuma pretensão do brilhantismo dele -- aliás, leiam tudo que ele escreveu antes):
Essa crise é exemplo de livro-texto de uso desejável de política fiscal anti-cíclica. Nenhum economista sério, de qualquer inclinação, vai discordar disso. A questão é de escolha de instrumentos e timing.
Não adianta usar o mantra de "não temos espaço fiscal", "o mercado vai nos punir". O espaço fiscal precisa ser criado, muito possivelmente via déficits/endividamento temporariamente maiores.
Insisto: o Governo precisa liderar esse processo. Terá a boa vontade do Congresso. Se não liderar, será liderado. Quem mais se preocupa com austeridade no médio/longo prazo, deveria estar mais preocupado em como suspendê-la no curto prazo para garantir que...
...uma recessão mais profunda que o necessário acabe com a reputação da responsabilidade fiscal e crie nossa versão das eleições da Argentina no ano passado.
Ainda não há motivo para pânico, mas o Ministério da Economia precisa ter pronto, o quanto antes, um amplo pacote de suporte econômico, para empresas e indivíduos. O Presidente precisa ir ao Congresso defendê-lo, se necessário.
O que incluir e como enquadrar no arcabouço fiscal vigente, deixo para especialistas mais competentes que eu. Para muita coisa, basta adaptar o que está sendo feito na Europa.
Uma ideia marqueteira: emitir algo como "corona bonds" e criar uma campanha para que os grandes poupadores os comprem a taxas ligeiramente abaixo do mercado. É um jeito de engajar a elite financeira; devem haver tantos outros.
Brasil tem a sorte de ter um grande território e regiões muito menos interconectadas do que a Europa ou os EUA. Precisamos nos aproveitar dessa vantagem para conter a epidemia.
São Paulo é o epicentro, o único hub internacional de relevância no país. Deveria seguir protocolos mais rígidos, se os epidemiologistas julgarem que há risco de se tornar uma versão tropical da Lombardia.
Não entendo como viagens de/para São Paulo ainda não foram ao menos severamente restringidas. Será muito mais fácil combater os efeitos de saúde e econômicos da epidemia se ela ficar concentrada em um Estado -- por sorte, o mais rico do país.
Esta semana será crucial: ou o número de casos vai explodir, levando a medidas mais drásticas de isolamento, ou veremos a "curva" evoluir mais suavemente como a da Tailândia, o que poderia levar a uma prevenção menos draconiana.
A reação ao covid19, creio, vai forjar reputações políticas por muito tempo. Deveria ser uma grande oportunidade para qualquer um que pense em eleições futuras mostrar que consegue cuidar bem dos seus eleitores em uma situação de alta tensão.
Como sou um otimista tonto e incorrigível, torço para que até nossas péssimas lideranças deem-se conta disso, por mais que eu deseje que muitas delas nunca mais voltem a vencer eleições. A evidência, por enquanto, aponta em outra direção, para nossa desgraça.
Aqui dá para acompanhar a evolução em comparação a outros países: ourworldindata.org/coronavirus
Ainda há poucos dados, mas o ritmo de crescimento já deveria fazer acender uma luz amarela.
Ainda há poucos dados, mas o ritmo de crescimento já deveria fazer acender uma luz amarela.
Por enquanto é isso, vou acrescentando mais coisas depois.
A querida @dridupita também se inspirou no Reis:
Vem pacote do governo hoje, diz a imprensa. "A dor ensina a gemer", como diz um velho político gaúcho, provavelmente adepto do Analista de Bagé.
Atualização: a ficha ainda não caiu.
