Thread by @lucasmafaldo

Estou vendo muita gente dizendo que vai passar um tempo fora das redes sociais nesse período para preservar a saúde mental.

Estão corretos. Dependendo de como você usa, isso aqui faz mal mesmo mesmo.

E mais ainda: pode derrubar a sua inteligência.

Eis o mecanismo da coisa:

Quando você entra aqui, você vê um monte de gente:

(i) resumindo problemas complexos em poucas linhas;

(ii) descrevendo posições dos adversários de modo distorcido/incompleto;

(iii) dizendo que quem não concorda é mau-caráter.

Essa combinação é explosiva. Ela transmite a impressão que as soluções para o mundo são simples e o único obstáculo real é que tem gente que pensa diferente.

Isso não é polarização: isso é "bolhificação". Você fica dentro de um bolha e acha que tudo que está fora é loucura.

Depois que a bolha se forma, as pessoas dentro da bolha passam a procurar motivos para mostrar porque as pessoas de fora da bolha são ridículas, burras, monstruosas, etc.

Então, quando mais você consume esse tipo de mídia, MENOS você entende o outro lado.

Você não entende as motivações e os pressupostos dos seus adversários, então você se torna MAIS incapaz de discutir com ele.

As discussões caem de nível, viram provocações baratas e as pessoas ficam cada vez mais agressivas.

Esse processo não ocorre apenas nas redes sociais, mas o problema das redes é que elas ampliam essa força destrutiva. Agora, as pessoas podem ter essa dose de "maus sentimentos" a qualquer minuto do dia.

Além do impacto cognitivo, isso causa também um impacto fisiológico: você entra aqui, começa a brigar e seu nível de cortisol começa a subir.

Isso é um fenômeno natural: historicamente, nós usamos esse pico de cortisol para nos concentrar em tarefas importantes. Agora, porém...

... em vez de usar o pico de energia para caçar, ir para a batalha, etc., nos usamos o mesmo pico para lacrar na internet.

Além dos resultados serem ridículos, a própria curva de excitação-relaxamento fica bagunçada.

Em uma situação de normalidade, você tem um pico de cortisol durante as batalhas da vida, mas depois relaxa e passa um tempo descansando, se recuperando, contemplando o que aconteceu.

Esse período de baixa atividade serve para curar o corpo e dar estabilidade à personalidade.

As redes sociais, no entanto, quebram esse sistema natural. Em vez de uma grande batalha seguida de relaxamento, as pessoas passam 24 horas por dia conectadas, reativas, ativadas.

Isso está criando uma geração nervosa, ansiosa e, contra-intuitivamente, mais agressiva.

É por isso que quem faz esporte de combate é muito mais calmo do que o tuitero médio. Quem sabe o que é brigar de verdade não fica dando quinze chiliques por dia.

Felizmente, isso tem cura.

O primeiro passo é reduzir sua exposição à maluquice: ficar offline e, quando estiver, não interagir com babacas.

O segundo é normalizar sua cabeça: rotina, atividade física, sono.

O terceiro (quase impossível, aparentemente): é humanizar seu adversário.

Em vez de pensar: "como é possível que haja monstros que pensam assim"...

.. pense: "quais são os pressupostos e motivações que levaram essa pessoa a ter posições diferentes da minha?"

Isso não quer dizer que você vai necessariamente mudar de opinião. Talvez o adversário esteja mesmo totalmente errado.

Mas agora você: (i) está calmo e (ii) sabe exatamente o porquê dele estar errado.

Isso significa que você está no controle dos passos seguintes -- inclusive...

... talvez você possa convencê-lo a mudar de opinião e ganhar um aliado.

Ou, se o sujeito estiver maluco demais, você pode simplesmente ignorá-lo e continuar tendo um dia produtivo.

Mas a escolha é sua -- e não mais do seu fígado.