Podem negros(as) criar fábulas, como brancos sempre fizeram? Filme da Beyoncé, para mim, não apresenta África idílica. Me parece uma filme afrofuturista - que imagina o futuro afrocentrado. Admiro muito Lília. Não cancelemos, dialoguemos. Um fio👇🏾🧵www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020…
“O afrofuturismo é uma estética cultural que combina ficção científica, história e fantasia para explorar a experiência afro-americana e visa conectar aqueles da diáspora negra com sua esquecida ascendência africana.” tate.org.uk/art/art-terms/…
Antes de falar que Beyoncé traz uma “África estereotipada”, é necessário dar passo atrás e pensar: mitos gregos eram mitos ou uma Grécia estereotipada? Nos é permitido fabular? Lembro aqui da Grada: pinacoteca.org.br/programacao/gr…. Mitos contam nossas histórias a partir de referenciais.
Filme traz uma visão continental. Beyoncé não o fez sozinha. Reuniu diretores africanos de partes do continente combinando referências de música e dança para compor uma visão estética afro diaspórica e logo afrofuturista slate.com/culture/2020/0…
Além da estampa de oncinha, Beyoncé lança mão de diversas referências religiosas de matriz africana para criar sua fábula afrofuturista. Oxum está lá, por exemplo, como esteve em outras obras da artista, entre outras divindades. vox.com/culture/2020/7…
Sobre as roupas, escreve Pedro Diniz: “Beyoncé e Zerina Akers, montaram um guarda-roupa que imagina os tempos de hoje se os negros tivessem tido a oportunidade de enraizar sua cultura nos centros urbanos não fosse o extermínio que os vitimaram” www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020…
Beyoncé, ao recontar a história a partir do olhar de Nala, resignifica também a centralidade masculina da narrativa, o que traz um aspecto de intersecção de raça e gênero, essencial ao feminismo negro.
Negros não precisam assumir posição de dor para contar suas histórias, daí o afrofuturismo. Para uma visão oposta, fatalista da condição da negritude, há o afropessimismo (ver Frank B. Wilderson III), mas Beyoncé vai no oposto disso: celebra negritude. newyorker.com/magazine/2020/…
Dito isso, Black is King não se exime de falar sobre o hoje. Na música “Black Parade”, lançada no dia que lembra o fim da escravidão Juneteenth, Beyoncé canta “We birth kings”, ao lembrar da violência mas a partir da ancestralidade e do orgulho.
Críticas ao filme podem ser inúmeras. No entanto, para isso, é necessário por na conta as referências que o filme traz, e seu tom afrofuturista. Não cancelemos. Dialoguemos. NYT trouxe 6 críticos pra ler a complexidade do filme nytimes.com/2020/07/31/art…
Uma das válidas críticas ao filme é a ênfase no conceito de realeza. Queremos um afrofuturismo centralizado em figuras da realeza pré-colonial ou devemos imaginar um futuro decolonial por completo? Aqui vai uma crítica neste sentido: essence.com/entertainment/…
“Black Is King” é importante, pra mim, porque nos permite um lugar que nos é relegado: criar mitos. Rejeita o lugar de dor, que não é nosso, mas nos foi imposto. Faz o que mitos na Grécia faziam, faz o que anciãos africanos e indígenas fazem: contam sobre nós a partir de nós.
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O Direito reserva proibições de conteúdo (content-based) para alguns poucos temas. P.ex.: ninguém sustenta que pode discurso de pedofilia. Pois bem, a lei expressamente pune incitar discriminação anti-judeu e apologia nazista. Não há esfera de liberdade de expressão aqui.
Ah, mas não posso falar tudo que eu quero? Não, não pode, já que se trata de uma proibição de conteúdo de discurso de ódio. Nem nos EUA pode tudo: lá não pode afetar segurança nacional (lei espionagem); não pode incitar ação ilegal iminente; não pode obscenidade.
A surpresa liberal sobre “meu deus, não posso advogar por um partido nazista?” é cínica. Já tentamos um mercado livre de ideias anti-judeu e sabe o que aconteceu? O Holocausto. Não há sociedade que permita liberdade irrestrita sem responsabilidade pelo dano a outrem.
Caro @JoelPinheiro85, em seu texto hoje na Folha, você trata como sinônimos termos que não o são: “preconceito” (opinião negativa) “discriminação” (tratamento ou impacto diferenciado) e “racismo” (sistema de poder”). Recomendo ler Adilson Moreira, “O que é discriminação?”. Abs.
Neste sentido, é um sofisma concluir que chamar alguém de um insulto referente a ser branco (p.ex. “branquelo”) signifique “racismo”, ao menos se percebermos que a literatura chama racismo de sistema de poder. Pode denotar preconceito? Sim. Mas não um sistema de opressão.
Sem esclarecermos os termos do debate fica difícil conversarmos, senão o que era pra ser debate se torna torre de Babel. Insultos - enquanto opiniões negativas (preconceitos) ou até tratamento diferenciado (discriminação) - só alçam à categoria de racismo como expressão de poder.
Datafolha: 51% concorda que "comerciais com casais homossexuais devem ser proibidos para proteger as crianças". Eu me pergunto se seria o mesmo % sem a frase "para proteger as crianças", a qual aciona na psique reacionária o falso "casais LGBTs impõem risco a crianças."
É central para o discurso anti-LGBT classificá-los como "anti-família", apesar de ser o grupo que mais se casa hoje; e classificá-los como depravados e pedófilos, acionando os porões da psique reacionária que vê depravação onde só há afeto em casais LGBTs.
Psique reacionária, forte no país, precisa da categoria "criança" no abstrato para sustentar-se. Agora, se falarmos de crianças reais, aí teríamos que falar da relevância da adoção por LGBTs, do suicídio de jovens LGBTs, do abuso sexual contra crianças em lares hetero e igrejas.
“Floyd, branco”, por Demétrio Magnoli. Aqui vão algumas das falácias do texto publicado no Globo. 🧵🧶
1. Falácia causal entre bairros negros e criminalidade e violência. Aqui, Demétrio sugere que a polícia mate mais porque há mais crimes. Dois erros: não há correlação necessária entre crimes e violência policial + sufocar alguém não se justifica por criminalidade.
P.ex. Estudo do MP do RJ mostra que não há ligação entre cidades com mais crimes e menos violência policial, bem como há estudos que apontam que a polícia mata mais em certos locais por outros fatores (não é zona de milícia). mprj.mp.br/documents/2018…
.@ECantanhede: Moro “nunca colocou preto e pobre na cadeia”. Há 3 erros crassos: 1) Moro era juiz federal, logo crimes contra União; 2) Moro fez o excludente de ilicitude (pra matar preto e pobre); 3) Moro quis por presos doentes de covid-19 em contêineres
Podemos estar mais ou menos empolgados com um candidato, mas o papel do/a comentarista é levar os fatos reais em consideração. Moro já defendeu abertamente que o encarceramento no país não é excessivo. É a 3a maior população carcerária no mundo. conjur.com.br/2020-fev-15/na…
Seria interessante se tivéssemos um debate sério sobre encarceramento na televisão. Acha que são homicidas contumazes que lotam cadeias? Errado, são presos sem julgamento, preto definido como traficante mesmo sendo usuário ou nem isso, e a moça que furtou miojo.
Além de querer manter presos velhinhos com covid em contêineres, propor excludente de ilicitude para que polícia matasse impunemente, propor a redução da pena para milícias e encher o MJ de agentes da PF, o que Moro fez mesmo enquanto ministro, inclusive p/ combater a corrupção?