Há exatos 20 anos, Michael Schumacher tirava a Ferrari de uma espera de 21 anos por um título de pilotos na F1. Essa conquista veio depois de muito trabalho, anos de desenvolvimento e uma equipe dos sonhos. Conto como isso aconteceu nessa thread
Toda essa história começou muitos anos antes: no final de 1991, Michael Schumacher entra na F1, com apoio da Mercedes. Mas simultaneamente a esse fato, Luca di Montezemolo assumia a presidência da Ferrari. Pegando a montadora em crise financeira, sem dar lucros por anos.
Luca recuperou rapidamente a marca, e desde então ela da lucros astronômico todos os anos. Em 1993, ele contratou Jean Todt, que foi o chefe da Peugeot nas conquistas do Dakar e Le Mans. Em 1994, Paolo Martinelli assumiu como chefe do departamento de motores da equipe
Em 1995, Schumacher já era campeão do mundo e caminhava para o segundo título pela Benetton, quando foi contratado para o ano seguinte pela Ferrari, por um caminhão de dinheiro. Sendo o melhor piloto do grid naquele momento, ele tinha outras escolhas como Williams e McLaren.
O próprio piloto declarou: "Se fosse para ter o melhor carro, assinaria com a Williams. Mas quero algo maior. Quero levar a Ferrari ao título". Porém parte dos Tifosis estavam bravos, não queria Schumacher, já que o grande ídolo Jean Alesi estava indo embora da equipe.
Berger, o outro piloto da Ferrari, que era o piloto mais bem pago do grid na época também iria sair da equipe, no lugar dele viria o britânico Eddie Irvine, da Jordan.
Mas os desafios eram gigantes, John Barnard (projetista) e Michael Schumacher não se entendiam tão bem assim. Fora que John mantinha seu escritório na Grã-Bretanha, assim como departamento de performance da Ferrari, o que dificultava mais ainda as coisas.
Além disso, Paolo Martinelli tinha tomado uma decisão corajosa: trocar os potentes motores V12 pelos V10. O motor Ferrari 045 era fraco e pouco confiável. Apesar de tudo, Schumacher conquistou três vitórias, terminando o campeonato em terceiro, mas sem ter chances de título.
Ao final de 1996, os fracos resultados colocaram a cabeça de Jean Todt a prêmio, Montezemolo queria a demissão dele. Porém Michael Schumacher interviu, pediu a manutenção do francês no cargo. Outra coisa que mudou foi que Luca queria que toda a Ferrari tivesse na Itália.
Com isso, John Barnard disse que não poderia voltar, além de tudo, anos depois ele admitiria que seu estilo e de Michael não casavam. Para aquele carro render melhor, ele deveria ter a traseira mais presa, porém Michael era o estilo exatamente oposto disso.
E falando em estilo, Schumacher já mostrava ter muita velocidade logo no inicio na F1, mas com a introdução do cambio semiautomático e posteriormente com o reabastecimento, o alemão mostrou ter a melhor adaptação possível
Para 1997, Michael Schumacher trouxe as outras duas grandes peças para o sucesso da Ferrari: Ross Brawn e Rory Byrne, ambos trabalharam junto na Benetton. Brawn veio para ser diretor técnico e Byrne para ser projetista.
Schumacher era apelido de "A Maquina" e não era a toa, extremamente focado no trabalho, testava até a noite se fosse preciso, em uma época aonde a F1 permitia testes ilimitados. (Foto de 99)
Em 1997, a Ferrari já apresentava melhorias e mesmo com um carro inferior, Schumacher disputou o título contra Villeneuve. Mas a disputa acabou de maneira ruim para Michael, que em um GP que considero o mais sujo da história (algum dia conto o porque).
Michael desesperado tentou tirar VIlleneuve da pista, acabou na brita e ainda perdeu o vice-campeonato em julgamento posterior da FIA.
Em 1998, o adversário agora era outro, a McLaren com MIka Hakkinen, que tinha trazido o projetista Adrian Newey da Williams. A superioridade da McLaren, principalmente no inicio da temporada era grande.
Schumacher fez um grande ano, a quem diga que foi o melhor ano de sua carreira, mas acabou com o vice-campeonato, perdendo para Hakkinen. Isso foi devido principalmente a dois fatores: quando liderava o GP da Bélgica de 98, com grande vantagem, acabou batendo em Coulthard.
Schumacher ficou furioso e com razão, foi até o boxe da McLaren cobrar o piloto, anos depois David assumiria a culpa pelo acidente, dizendo que lhe faltava experiência naquele momento e que tentou deixar Schumacher passar.
Ainda sim, chegou no GP do Japão precisando apenas de uma vitória, conquistou a pole e parecia que estava tudo certo para o sonhado título, porém o carro quebrou no na volta de apresentação, ele teve que largar do pit (em último).
Quando estava em terceiro (sem dar pinta de chegar perto de Hakkinen) o pneu furo após Michael passar por cima de detritos. A temporada novamente acabava sem título para Ferrari e para Michael Schumacher
Em 1999, a McLaren começou melhor novamente. E Schumacher começou como terminou em 1998, ficando parado no grid e teve que largar dos boxes. Acabou terminando a corrida em oitavo. Após uma largada muito boa, Irvine contou com o abandono das duas McLaren para vencer
Mas as quatro corridas seguintes seriam boas para Schumacher, um segundo lugar no Brasil e duas vitórias em San Marino (contando os abandonos da McLaren) e Mônaco e um terceiro lugar na Espanha. Deixou o alemão com 30 pontos, seis a frente de Hakkinen.
Porém Schumacher abandonaria no Canadá quando estava liderando, sua batida, junto com a de Hill e Villeneuve, daria o nome ao Muro dos Campeões. Na França um desempenho muito abaixo do esperado, apenas P5. Schumacher chegou na Grã-Bretanha com 32 pontos, 8 atrás de Hakkinen
Tirando Mônaco e Canadá, a Ferrari em desempenho tinha ido pior nas outras cinco etapas, Schumacher estava na briga apesar de tudo. Não só ele, mas Irvine também estava bem, não tendo abandonado nenhuma etapa, ele tinha 26 pontos e estava em terceiro.
Mas em Silverstone aconteceu o pior, na primeira largada ele largou mal, saindo de P2, perdeu duas posições, quando estava tentando passar Irvine, o freio não respondeu e ele bateu forte, quebrando a perna direita e acabando com qualquer chance de título do alemão em 99.
Houve uma segunda largada, Eddie Irvine tomou a segunda posição de Coulthard. Hakkinen teve um problema na roda e abandonou. Mas Coulthard com um melhor ritmo passou Irvine. Por fim, ao final daquela corrida Eddie Irvine saiu com 6 pontos. Empatando em pontos com Schumacher
Para resumir a continuação de 1999, mesmo com um carro superior a McLaren conseguiu perder o título de construtores e por pouco não perdeu o de pilotos também. Os erros e falhas foram grandes para isso acontecer, uma lista na verdade:
- 🇦🇺 Quebra dupla
- 🇸🇲 Batida do Hakkinen
- 🇫🇷 Hakkinen rodando
- 🇬🇧 Roda solta de Hakkinen
- 🇦🇹 Batida dos dois carros
- 🇩🇪 Estouro de pneu de Hakkinen e quebra da asa de Coulthard
- 🇮🇹 Hakkinen rodando e abandonando
- 🇪🇺 Erro de estratégia e Coulthard saindo da pista
Schumacher chegou a voltar naquela temporada para as duas últimas etapas, na Malásia que fazia seu primeiro GP, o primeiro circuito projetado por Tilke a entrar na F1. Schumacher fez a pole com 0.947 de vantagem para Irvine.
Na corrida ele mostrou que além de ser o melhor piloto daquela geração era também o melhor segundo piloto, segurou as McLaren, atrapalhando na estratégia da equipe britânica, no final entregou a vitória ao Irvine, dobradinha, liderança para Irvine, por 4 pontos.
Porém no Japão, Hakkinen tomou a liderança no começo e ninguém mais pegou o homem, sendo campeão. Irvine ficou com o vice-campeonato, mas a Ferrari ao menos conquistava o título de construtores depois de 16 anos (desde 1983).
Para 2000, Irvine deu lugar ao brasileiro Rubens Barrichello, que estava em alta após um bom ano na Stewart. A Ferrari começou bem, mesmo com 1-2 na qualificação do GP da Austrália, as duas McLaren abandonaram no inicio, Schumacher venceu com Barrichello em P2
Na etapa seguinte, no Brasil, Schumacher venceria novamente e Hakkinen abandonaria. Em San Marino de novo uma vitória, mesmo com um ritmo melhor da McLaren, Schumacher ganhou a posição nos boxes e conquistou a terceira vitória.
Na Grã-Bretanha, Schumacher não tão bem, a McLaren fez dobradinha, Coulthard em primeiro e Hakkinen em segundo, o alemão completou o pódio. Barrichello abandonou a prova quando liderava na volta 35.
Na Espanha, Schumi liderava na volta 41, segurando Hakkinen, quando começou a perder rendimento por conta de um furo de pneu, ele perdeu posição para Hakkinen e Coulthard, segurou o irmão para Barrichello poder passa-lo (vídeo), acabando em P5
No GP da Europa, em Nurburgring, uma atuação inspirada de Schumacher, largou em P2, Coulthard o pole largou mal e Hakkinen em P3 pulou para a ponta passando os dois. No inicio da prova ainda o alemão passou por Mika, sendo que com a chuva ele fez a diferença.
Michael venceu com uma boa margem para Hakkinen. Em Mônaco, uma vitória tranquila foi pelos ares, quando sua suspensão quebrou. Hakkinen teve problemas, a vitória ficou com Coulthard, Barrichello em P2 e Fisichella (Benetton) em P3.
No Canadá, uma atuação ruim das McLaren. Schumacher parecia liderar tranquilamente para mais uma vitória, quando teve problemas de freio, mas como o carro mais próximo era Barrichello, que não ia passa-lo ele pode vencer. Vitória número 40 da carreira do Alemão.
Ao final das oito primeiras etapas, a classificação era a seguinte:
1 M. Schumacher - 56 2. Coulthard - 34 3. Hakkinen - 32 4. Barrichello - 28
Na três etapas seguintes, Schumacher abandonaria, na França com problema de motor, Austria e Alemanha por colisões no inicio da prova. Nas duas primeiras, duas dobradinhas da McLaren, com Coulthard em primeiro na França e Hakkinen em primeiro na Áustria.
Na Alemanha tudo indicava outra dobradinha da McLaren, mas Barrichello, que tinha largado de trás, tomou uma decisão corajosa quando começou a chover, venceu a prova. Foi sua primeira vitória, festa e alivio na Ferrari.
Já que em caso de vitória de uma McLaren, Schumacher perderia a liderança do campeonato. Agora o campeonato era estava assim: 1. Schumacher 56 2. Coulthard 54 3. Hakkinen 54 4. Barrichello 46
Na Hungria não teve jeito, outra grande grande largada de Hakkinen saindo de P1 para P3. A McLaren sobrou nessa prova, vitória de Mika, com Schumacher em segundo, colado nele, Coulthard em terceiro. Hakkinen ia para 64 pontos, abrindo dois pontos para Schumacher
Na Bélgica, Schumacher largou em P5, a largada foi atrás do SC (e você pensando que é de hoje), Hakkinen era P1, mas na chuva o alemão dava show e escalou o pelotão, conseguiu assumir a liderança, quando a pista estava começando a secar. Mas perdeu de novo ao ter que parar.
Schumacher parou na volta 22, colocando pneus slicks, Hakkinen na volta 28, voltou como líder, mas rodou, o alemão assumiu a liderança, mas em 12 voltas, Hakkinen com um melhor ritmo chegou, e em uma das batalhas mais incríveis da F1, roubou a liderança e venceu.
Hakkinen aumentava a liderança, agora 74 contra 68. O tricampeonato do alemão estava escapando de suas mãos de novo. mas na Itália, veio a reação do Schumacher, em um GP que começou com um grande acidente, Schumacher mostrou força, venceu na Itália, com Hakkinen em segundo.
Schumacher vencia pela 41° vez. Quando se deu conta na entrevista coletiva pós GP, que tinha chegado ao números de Senna, de qual o alemão nunca escondeu sua admiração, acabou chorando.
Ainda atrás dois pontos, Schumacher chegou em Indianapolis. Fez a pole, mas perdeu ela para Coulthard na largada, depois acabou passando Coulthard na volta 6 (vídeo). Atrás dos dois vinha Hakkinen, que na volta 25 abandonou com um problema no motor, quando era P2
Schumacher venceu o GP, saindo 8 pontos a frente de Hakkinen, Barrichello e Frentzen completaram o pódio. No Japão, uma vitória garantia o campeonato. Schumacher foi pole, com Hakkinen em segundo, em uma disputa muito acirrada.
Schumacher então precisaria roubar a posição de Hakkinen, o que não seria fácil, o ritmo era parelho, mas uma leve chuva no segundo stint ajudou, Schumacher com mais combustível deu um overcut em Hakkinen, assumiu a liderança, rumando a vitória e ao terceiro título
Não foi fácil, Schumacher acreditou em um projeto, teve que interferir nele, trouxe pessoas, foi incansável na busca do título, depois de duas vezes bater na trave e cinco anos de trabalho, conseguiu o tão sonhado título da Ferrari.
Após esse GP, restava apenas o GP da Malásia, Schumacher venceu, com Barrichello em terceiro, isso garantiu os os construtores. Queria agradecer ao @allishow_, @cnslf1, @smilani80 e @FR_Brandao que me ajudaram a montar essa gigantesca thread.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
AVUS foi a única pista a sediar o GP da Alemanha sem ser na Alemanha, isso porque na época Berlim Ocidental não pertencia nem a Alemanha Ocidental, muito menos a Oriental. Era simplesmente um enclave no meio da parte comunista, uma cidade autônoma.
Em 2004, o Burro do Shrek apareceu na F1 e virou febre. Sua aparição se deve porque dois mecânicos da Jaguar compraram um refrigerante e ganharam o burro Inflável de brinde +
Isso aconteceu na Bélgica, durante o GP daquele ano. Eles resolveram então levar o burro para passear no paddock em Spa. E quem ficou bravo com a história? A FIA? Não! A FOM? Não! Foi a própria direção da Jaguar Racing. +
A direção da equipe proibiu o Burro de circular. Porém, a Ford (dona) anunciou a venda da Jaguar, Cosworth e da equipe de F1 dias depois. Em Monza, ninguém segurou o Burro, ele ficou no boxe da Jaguar, foi engenheiro, mecânico. Virou o xodó da equipe. +
Há exatos 42 anos, Ronnie Peterson, um dos pilotos mais lembrados de todos os tempos, falecia, após um GP da Itália simplesmente dantesco. Conto como isso aconteceu nessa thread
Peterson era um piloto reconhecidamente talentoso, com estilo agressivo, na época, fazia coisas que nenhum outro piloto fazia, como entrar certas tangencias, que só ele conseguia. Ronnie, como era chamado, sempre dava show. Encantou uma geração, mesmo que nunca tenha sido campeão
vice-campeão de 1971, pela March. Em 1973, quando chegou na Lotus, andava no mesmo ritmo que Emerson Fittipaldi, tendo até mais vitórias naquele ano que o brasileiro. Com a saída de Emerson do time, ele assumiu o cargo de piloto principal.
Mercédès Jellinek (1889-1929) foi a mulher que serviu de inspiração ao nome da Mercedes-Benz, talvez a única montadora com um nome feminino. Conto como isso aconteceu nessa thread
Mercedes era filha de Emil Jellinek, ele era um diplomata áustrio-húngaro que vivia em Nice, na França. Em 1986, atraído por um anuncio, Emil fez uma visita à Daimler Motoren Gesellschaft (DMG), a sede da empresa ficava em Cannstatt, perto de Stuttgart, na Alemanha
Emil comprou um Phoenix Double-Phaeton, carro de 1894 que gerava 8 cv e poderia chegar a até 24 km/h. Ele gostou do veículo, e dois anos depois, em 1898, ele decidiu virar vendedor da marca, solicitando mais 6 carros.
Há exatos 11 anos, era revelado ao mundo pelo jornalista @RegiLeme durante o GP da Bélgica, que o acidente de Nelson Piquet Jr. no GP de Singapura de 08 foi premeditado, para dar a vitória a F. Alonso. Essa notícia chocou o mundo da F1. Conto como isso aconteceu nessa thread
Em 2007, entrava uma nova regra na Formula 1, ela definia que em caso de parada nos boxes durante o SC, o piloto devia esperar todo o grid se alinhasse para sair do sair do pit lane. Essa regra inclusive foi o motivo da desclassificação de Massa e Fisichella no GP do Canadá de 07
Em 2008, no mesmo GP, Hamilton iria "atropelar" Kimi Raikkonen que estava parado esperando liberação.
Há exatos 54 anos, um dos maiores talentos da história do automobilismo morria, o britânico Kenneth Henry Miles, mas conhecido como Ken Miles. Grande responsável pelo sucesso do Ford GT40 entre outras conquistas. Seu acidente foi um mistério por algum tempo +
Dois meses antes de sua morte, Ken tinha tido uma performance incrível nas 24 Horas de Le Mans, perdendo a vitória por politicagem por parte da Ford. Mas ele não de desanimou e junto com Carroll Shelby e a equipe da Shelby American começou a desenvolver o carro para 1967 +
Batizado inicialmente de J-Type, o protótipo chegou a ser levado aos testes das 24 Horas de Le Mans de 1966. O J-Type era um carro mais refinado aerodinamicamente assim com as Ferrari 330 P3, tinha um chassi inteiramente de alumínio entre outras inovações +