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13 Oct, 26 tweets, 8 min read
“Clássico não se joga, se vence.”

Há quem acredite, há quem discorde. Fato é que o Flamengo foi lá e venceu, mesmo sem jogar. Aliás, mesmo em um jogo pouco jogado. Uma exibição fraca e cheia de erros, mas suficiente para garantir três pontos importantíssimos.
Mas clássico se joga? Se vence? O excelente @csguimaraes escreveu na semana passada sobre essa frase. O texto é sobre o Gre-Nal, mas vale para Flamengo x Vasco também.

Ele conclui que, de fato, clássico se vive, não apenas se analisa. não basta apenas jogar bem. E eu concordo absolutamente.

Preciso, porém, fazer uma ressalva...

Criou-se no Brasil uma falsa dicotomia entre jogar bem e vencer. Como se escolha fosse jogar bem OU vencer. Na verdade, é jogar bem PARA vencer.

O caminho mais curto para a vitória é jogar bem. Por isso, clássico se vence E se joga.
O Flamengo venceu, APESAR de não ter jogado bem. Nada bem. Foram muitos erros, muita confusão... Tecnicamente, um dia muito ruim. Fisicamente, o time parece ter sentido no segundo tempo (o que é uma preocupação grande para a insana agenda dos próximos dias).
O Vasco também foi mal. Achou um gol aos 9 minutos e apenas se defendeu depois.

Tentou esfriar o jogo, mesmo faltando 80 minutos, mas não conseguiu nem prender a bola. O time cruzmaltino só teve seis posses de bola mais longas do que 30 segundos.
O Flamengo teve 22 posses de bola maiores do que 30 segundos ao longo do jogo.

Perdendo desde o início, atacou pacientemente. Teve dificuldade de entrar na defesa e esbarrou em um dia pouco inspirado dos jogadores de frente, mas pelo menos não se desesperou.
Depois de virar o placar aos 25 do segundo tempo, também passou a tentar esfriar. Mas só conseguiu ficar com a bola DUAS vezes por mais de 30 segundos. Nenhuma nos 15 minutos finais. Começou a errar demais, aceitou a pressão e sofreu mais do que deveria.

De fato, o jogo do Flamengo não funcionou como o esperado. Ainda sem Everton Ribeiro e Arrascaeta, a ideia era similar à do jogo contra o Sport: Gerson era um armador pela direita, Diego era um meia centralizado e Bruno Henrique atacava como um ponta pela esquerda.
Mas os mecanismos criados para jogar em cada um dos lados era diferente. Contra o Sport, o lado esquerdo funcionava assim: Filipe Luís arrastava a marcação para dentro com o intuito de deixar Bruno Henrique no mano-mano, recebendo de frente.
O futebol não é sobre fazer a bola chegar seu melhor jogador, mas sobre como e quando ela vai chegar.

Encontrar BH de costas, com a marcação apertada, é uma coisa. De frente, no um-contra-um e sem cobertura, é outra.

O tal jogo de posição reflete muito sobre isso.
Vamos ver, então, todas as vezes em que BH recebeu a bola na ponta esquerda contra o Sport. O padrão fica bem claro.

Mas havia um problema a mais…

Três jogadores do Sport podiam chegar na cobertura.

Quando alguém do Flamengo subia por ali, fixando a marcaçãodeles , BH levava perigo. Quando ninguém fixava os marcadores, a marcação dobrava e BH se complicava. Reveja o vídeo…
Agora vejamos todas as vezes que ele recebeu a bola na ponta esquerda contra o Vasco. Especialmente no primeiro tempo, se vê muitas vezes Filipe Luís e BH no mesmo corredor e algumas tentativas de bola longa nas costas da defesa.

No segundo tempo, aparece um padrão mais parecido com o do jogo anterior. Mas o gol sai justamente em um lançamento nas costas, como aqueles do primeiro tempo, uma jogada combinada para esse jogo.

Do lado direito, no entanto, o mecanismo era completamente diferente...
Como Gerson é um armador, a ideia era usá-lo para arrastar a marcação para dentro, abrindo o corredor para a passagem do lateral por fora.

Contra o Sport, foi assim que o Flamengo levou perigo. Repare em Isla, sempre explodindo para atacar o espaço.

Mas Isla foi para a seleção e entrou Matheuzinho. Contra o Vasco, o lateral direito foi mais conservador nas ultrapassagens e algumas vezes apareceu atraindo a marcação para dentro, emulando aquela dinâmica do lado esquerdo.

O problema, então, não é ter Gerson pela direita. Pelo contrário. Inclusive, essa é uma solução momentânea para uma questão circunstancial.

A questão é ajustar como e quando a bola pode encontrá-lo e quais opções de jogada ele tem quando isso acontecer.
É bom lembrar que Gerson ganhou o apelido de “coringa” justamente por ter jogado em várias posições logo que chegou ao Flamengo.

Nos jogos contra Botafogo (), Grêmio () e Inter (), jogou pela direita.
Gerson é diferente de BH, portanto as dinâmicas precisam que ser pensadas para cada um.

Recebendo por fora, sem o apoio explosivo do lateral e/ou de um meia agressivo que ataque a área, dificilmente ele vai criar muito pelo lado.
Contra o Vasco o time ficou confuso. Os padrões não eram claros e não potencializaram os jogadores. Nas poucas vezes que as jogadas encaixaram, o time esbarrou em muitos erros individuais. Foi, no geral, uma noite ruim.
Mas time piorou quando Michael entrou e Gerson foi jogar centralizado.

O jogo virou um fim de pelada, com o Vasco saindo de qualquer maneira e deixando a defesa exposta. O Fla não se defendia com segurança, não prendia a bola e não aproveitava os contra-ataques...
Dado todo o contexto, a maratona, o covid, as lesões, convocações, não-sei-quantos-jogos em não-sei-quantos-dias, o Flamengo vem buscando sobreviver enquanto encontra seus melhores padrões. Ainda oscila.
Essa temporada atípica ainda é completamente imprevisível. Não dá para saber o que vai acontecer ali na frente.

Mas vale lembrar que também oscilou em 2019, mesmo nos bons momentos... Ou ninguém aí assistiu o clássico contra o Botafogo no Engenhão?
A grande notícia do sábado foi a primeira virada de placar na era Domenec. O time já havia sofrido MUITO depois de tomar o primeiro gol em outros jogos ()

Agora, sofreu um gol cedo contra um rival importante, mas manteve a calma e não fugiu do plano.
Sinceramente, não sei se clássico não se joga ou se vence. Mas sei que o Flamengo não precisou jogar muito para vencer dessa vez.

O time ainda tem muito a evoluir. Por enquanto, foi o suficiente.

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