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15 Oct, 26 tweets, 8 min read
Ufa! O Flamengo sofreu, mas conseguiu vencer o Goiás no último lance.

Ou melhor… O Flamengo criou, martelou, mas a bola cismou de não entrar até o último lance. Assim é o futebol. O sofrimento foi mais pelo resultado (até o fim) do que pela performance em si.

Vamos à análise!
Antes do apito inicial, havia uma dúvida sobre qual seria o time, uma vez que o Fla está no meio de uma agenda insana. Domenec teve que fazer um exercício de escalação condicional: o time e as substituições planejadas na terça dependiam também do planejamento para quinta.
Isso porque, segundo o próprio Domenec, o pico de desgaste dos jogadores se dá 48h após a partida. Ou seja, provavelmente ele não pensa em repetir (quase) ninguém nos dois jogos.

Talvez contando com a volta dos convocados para quinta, colocou o que tinha de melhor no momento.
E o jogo começou como todo mundo esperava: o Goiás recuava, defendia perto da própria área e o Flamengo tentava abafar. Quando parecia que os motores rubro-negros estavam aquecidos, veio uma derrapada feia e o time tomou o gol com 12 min.
O que mais chama a atenção é o início da jogada. O Flamengo perde a bola, faz a pressão pós-perda, mas enquanto o meio-campo sobe, a zaga desce. Mais uma vez, aparece um buraco que ainda precisa ser corrigido — e fica fácil de ver com a ajuda do @KlipDraw

O gol cedo propiciou ao Goiás o que ele mais queria. O time pôde se fechar ainda mais, espremendo ainda mais gente na área.

O Flamengo tinha que jogar ladeira acima.
A boa notícia é que, assim como no sábado, o time não se desesperou e seguiu o plano ()

A queda crônica que o Flamengo vinha sofrendo depois de tomar um gol deu lugar à segunda virada de placar seguida.
A principal alteração tática em relação aos jogos anteriores era do lado direito.

Antes, com Gerson por ali, o Flamengo tinha uma dinâmica bem definida para abrir o corredor e aproximar os meias

A mudança de uma peça mudou tudo.
Por ser um ponta mais agudo, driblador e destro, Michael jogava bem aberto, às vezes no mesmo corredor que Matheuzinho (coisa que Domenec criticou na coletiva há pouco tempo) e quase sempre buscava o fundo.

No primeiro tempo, até havia coesão nos movimentos e o Flamengo conseguiu criar jogadas por ali.

Mas com essa dinâmica e com o Goiás muito bem fechado pelo meio, o ataque do Flamengo era canalizado para o lado e só sobrava o cruzamento como opção.
Segundo o @SofaScore, foram 42 (!!!) cruzamentos do Flamengo no jogo. (O Instat, de onde eu costumo tirar os números aqui, conta 35)

O ponto é: o time cruzava demais.
Até levava perigo dessa forma, mas cruzava demais.

Era preciso envolver, atrair, enganar. Era preciso desorganizar a defesa goiana para acelerar e dar o bote. Contra aquele muro dentro da área, tudo ficava mais difícil.
O primeiro gol do Flamengo, inclusive, nasce de um tiro de meta do Goiás.

Natan ganhou no alto, Gerson conseguiu um leve toque para Pedro e a defesa desmoronou. Bruno Henrique conseguiu acelerar e fazer o que faz melhor.

Mas nem sempre o Flamengo teria uma transição tão limpa se oferecendo...

Para desorganizar a defesa, então, o time abusava das bolas longas e viradas de jogo. Atraía para um lado um lado e acelerava do outro.

O time ainda tem muito a melhorar nesse jogo de atração e criação de espaços.

Mesmo assim, conseguiu colocar a partida naquele ciclo que a gente já conhece. Atacava, pressionava, retomava e atacava.

O Goiás foi ficando muito desconfortável.

Desta forma, o Flamengo criou muito no primeiro tempo e poderia ter saído vencendo. Talvez até vencendo confortavelmente.

Mas assim é o futebol…

No segundo tempo, o Goiás voltou ainda mais fechado. Logo no primeiro minuto, o time de Enderson Moreira já tinha nove jogadores, além do goleiro, defendendo a própria área.
Esse recuo a mais reforçou o ciclo. Cada vez mais, o Flamengo atacava, pressionava, recuperava e continuava atacando. O segundo tempo começou alucinante.

O ciclo estava na sua intensidade máxima.

Mas a paralisação para o atendimento de Breno quebrou um pouco o ritmo. O jogo voltou à primeira marcha e demorou um pouco para engrenar.

Assim é o futebol…
O time foi subindo o ritmo aos poucos. O lado direito, no entanto, não conseguiu engatar mais. As jogadas por ali pifaram. As ultrapassagens sumiram, as distâncias aumentaram, os erros começaram a se acumular…

Muita gente se irritou — com razão, se olharmos só para esse jogo — com a indisposição de Domenec para fazer substituições, principalmente daquele lado.

Mas, além da falta de opções no banco, é importante lembrar da escalação condicional e do desgaste 48h depois.
O treinador falou sobre isso logo no início da coletiva, na primeira pergunta. Vale a pena assistir pelo menos essa parte. Quer usar um time (quase) totalmente na quinta.

Além do desgaste, Domenec disse que estava gostando da atuação até ali.

De fato, houve uma queda nos 20 minutos finais. De fato, o time se desorganizou um pouco. De fato, o lado direito sofreu mais. De fato, a saída de Gerson atrapalhou.

Mas, de fato, o Flamengo também criou muito no segundo tempo.

No fim, Pedro salvou a pele rubro-negra com mais um gol de centroavante. É isso que conta quem não viu o jogo, pelo menos.

Talvez o mais correto fosse dizer que ele fez justiça no placar.

O Goiás "soube sofrer", mas é difícil segurar a pressão do Flamengo por 90 minutos.
Tem sido um período louco para o Clube.

Desfalques, lesões, convocações, coronavírus, calendário, gramado ruim, falta de treinamento, cansaço… Tudo junto. O time não vem dando espetáculo, mas vence.
Vence algumas vezes com mais autoridade, outras com menos.

Talvez a fala mais importante de Dom até aqui tenha sido outra, ainda no vestiário: “quanto mais fodidos, mais fortes! Quanto mais fodidos, mais juntos!”

Assim é o futebol do Flamengo. Pelo menos neste momento difícil.

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