Menos de 48h após a última partida, o Flamengo novamente entrou em campo. Ignorar o contexto na análise desse jogo seria leviano, já que ele afeta diretamente o rendimento do time. Vamos trocar uma ideia sobre esse contexto e o que aconteceu dentro das quatro linhas nesse empate.
Não bastasse o elenco todo ter sido infectado por COVID recentemente e o já insano calendário devido a pausa da pandemia, a “cereja do bolo” foi ser submetido a jogar uma partida 48h após o término da anterior. Mas qual é o problema disso?
Estudos fisiológicos indicam que o ápice da fadiga muscular e da sensação de cansaço físico ocorre justamente 48 horas após uma partida. É quando o atleta apresenta maior queda de rendimento. Não há tempo para o cara se recuperar fisicamente.
Isso porque durante uma atividade de alto rendimento, o atleta sofre uma série de microlesões musculares. Essas microlesões são medidas através da análise do volume sanguíneo de CK (creatinoquinase). E quando esse volume CK atinge o ápice? Justamente 48 h após uma partida.
Exigir que o atleta volte a jogar em alto nível exatamente nesse intervalo em que o volume CK está no ápice é insano. Fora que há um aumento considerável de probabilidade de o atleta apresentar contusões musculares. Por um jogo pode-se perder um jogador por semanas ou até meses.
O segundo problema está relacionado ao regulamento da competição. Segundo o Artigo 25 do Regulamento Geral das Competições da CBF deveria ser respeitado um intervalo mínimo de 66 h entre jogos. O motivo? Os estudos fisiológicos que falei anteriormente.
Oras, se há estudos científicos que comprovam o alto risco de se jogar em espaços tão curto de tempo e que são corroborados com o regulamento da competição, então por que raios essa partida foi disputada nessa data? Pra essa pergunta eu não tenho resposta.
Bom... a partida aconteceu. Vamos discutir sobre o que aconteceu dentro de campo. Dome de novo manteve o 4-2-3-1. Grande parte dos jogadores que atuaram 2 dias antes estavam liberados para jogar apenas por alguns minutos. Desses, Pedro, Arão, T. Maia e Isla iniciaram a partida.
O RB Bragantino, que havia jogada sua última partida no domingo, veio também com alguns desfalques. Arthur e Alerrandro, dois de seus principais jogadores, ficaram de fora. O 4-2-3-1 de Barbieri tinha em Claudinho sua principal arma ofensiva.
O Braga iniciou a partida fazendo uma pressão alta que dificultava a saída de bola do Flamengo. Com Arão enfiado no meio dos zagueiros fazendo a saída de 3, os homens de meio do Fla tinham dificuldade em gerar linhas de passe para o Fla conseguir progredir em campo.
A dinâmica ofensiva do Fla estava um pouco diferente, principalmente do lado esquerdo. Isso porque Dome pedia para que Lincoln, que jogava de ponta-esquerda, atacasse por dentro e Renê por fora. Tudo isso na mesma altura, configurando uma espécie de 3-2-5 no momento ofensivo.
Só que dentro desse contexto de ter o lateral dando amplitude na última linha ofensiva, não faz muito sentido entrar com Renê. Ramon tem muito mais a entregar nesse tipo de dinâmica, já que Renê não é um primor ofensivo e prefere atacar por dentro, assim como o titular F. Luís.
O ritmo do jogo era baixo e poucos lances de perigo foram criados por ambos os times. O Braga começara a abrir mão da pressão mais alta e o Flamengo apresentava claro cansaço físico, o que atrapalhou demais a dinâmica ofensiva do time.
Isla parecia sem potência para fazer ultrapassagens, É. Ribeiro e Lincoln erravam demais e Diego recuava muito em campo para ajudar na saída de bola, despovoando o entrelinhas e desconfigurando um pouco o 4-2-3-1, já que não havia mais um meia flutuando por trás do centroavante.
Barbieri sentia muita falta de Artur, seu principal articulador, e ainda viu Leandrinho ter que sair aos 18’ do 1T por contusão, dificultando ainda mais o rendimento ofensivo do já remendado time paulista.
Mas na volta do 2T o RB descobre o caminho das pedras rubro-negro: o lado direito de defesa. Numa boa troca de passes com participação fundamental de Claudinho, algumas falhas individuais permitem que o Braga abra o placar.
Primeiro, a orientação corporal de Thuler na origem da jogada. Mesmo com a bola descoberta, Thuler está com os dois pés plantados no chão e com o corpo virado de frente pra bola, quando o correto seria ele estar perfilado de lado, pronto para correr pra trás se necessário.
Quando sai o passe, o tempo que ele perde tendo que girar o corpo para depois começar a correr é o suficiente para que Ytalo chegue na frente. Na sequência, vemos um problema provavelmente associado ao cansaço físico do elenco.
Claudinho dispara para dar opção e Arão, que estava cobrindo as costas de Isla, não consegue acompanhar a jogada, deixando Claudinho receber livre na entrada da área. Não tem como dissociar esse lance ao cansaço físico acumulado.
Após o gol, o RB dá indícios de que vai aproveitar bem os espaços que o Flamengo naturalmente passaria a deixar e emplaca um bom contra-ataque logo na sequência. Mas parou por aí. O Fla conseguiu controlar bem as transições do Braga fazendo uma pressão pós-perda bem efetiva.
Do minuto 5 ao 30’ do 2T o jogo foi praticamente todo dentro do campo de ataque do Flamengo, que conseguia recuperar rápido a posse e se mantinha em momento ofensivo por longos períodos.
A origem do gol de empate inclusive sai de uma recuperação de posse de Diego ainda no campo de ataque e numa das poucas chegadas a linha de fundo que Isla aguentou fazer na partida, sai o cruzamento para o gol do Lincoln.
Nesse momento, Bruno Henrique acabara de entrar e Dome havia passado Vitinho para a posição central da linha de 3 meias do 4-2-3-1, jogando por trás do atacante. Posição essa que foi justamente onde ele melhor rendeu nos tempos de CSKA. Achei o teste muito válido.
Barbieri substituiu, renovando o fôlego do time e imaginando uma pressão maior do Flamengo para conseguir a virada. Só que o time já estava morto com farofa. T. Maia, É. Ribeiro e Isla eram os mais extenuados.
Não houve organização, nem força para conseguir a virada, o que é absolutamente compreensível. No meio dessa sequência louca de jogos logo após os casos de COVID no elenco, o Fla disputou 8 jogos em 25 dias e saiu invicto (6V e 2E). É absolutamente admirável.
Mas mais que isso... com um desempenho muito bom dentro do limite do possível. Não dá pra criticar o time dizendo que “empatou com um time da zona de rebaixamento” ignorando completamente todo o contexto. Fora que o RB Bragantino é um bom time e tem seu valor.
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No meio de uma sequência muito intensa de jogos, o Fla conseguiu vencer mais uma. De novo contra uma equipe extremamente defensiva. Mesmo com alterações na dinâmica ofensiva, o Fla criou e viu um Tadeu fechando o gol. Vamos de fio sobre os aspectos táticos da partida.
De forma surpreendente, Dome escalou o que havia de melhor nas mãos. Nenhum jogador fora poupado. As duas únicas diferenças para o time que jogou contra o Vasco eram o retorno de Nathan e a entrada de Michael no lugar do suspenso Diego.
Apesar da manutenção do 4-2-3-1 houve alteração na dinâmica ofensiva pelo lado direito do campo. Isso porque Michael jogou no setor e Gérson foi deslocado para meia central. Desta maneira, o Fla passava a ter pontas mais agudos e de profundidade dos dois lados do campo.
“Clássico é clássico e vice-versa”. Essa folclórica frase que ficou famosa diz um pouco sobre o que foi esse Vasco e Flamengo. A partida não teve alta qualidade tática ou técnica, mas foi disputada e até divertida de se ver. Vamos de fio.
O Fla permanecia com os desfalques dos selecionáveis e agora também de Isla, liberado para jogar a 2ª partida do Chile na data FIFA. Nathan descansou e Léo Pereira teve nova oportunidade. O 4-2-3-1 foi mantido com Diego na meia central e Gérson na meia-direita.
O Vasco comandado por Alexandre Grasseli, treinador do sub-20 do clube que esteve como interino após a (bizarra) demissão de Ramon, fez algumas mudanças. Jogadores contestados pela torcida como Yago Pikachu e Fellipe Bastos perderam vaga.
Um 1º tempo modorrento. Do jeito que o Sport queria e Jair planejou. Mas a leitura de jogo de Dome e a análise de como encontrar os espaços deixados pelo adversário fizeram a diferença no 2º tempo. Segue o fio e vamos trocar uma ideia sobre como Dome mudou o jogo.
Dome manteve o 4-2-3-1 e mesmo com os desfalques de Arrascaeta e ER7, armou o time para tentar manter ao máximo a estrutura do time. Diego entrou como meia central e Gérson empurrado para a meia-direita, dando espaço a volta de T. Maia como volante.
Gérson é talvez o jogador com características mais parecidas a de É. Ribeiro no elenco. Meia canhoto, tem como tendência puxar as jogadas pra dentro, abrindo o corredor para Isla atacar. Mesma dinâmica que ocorre quando ER7 está em campo.
QUAL ATACANTE TEM MAIS PODER DE FOGO NO BRASILEIRÃO?
Análise gráfica da relação entre número de finalizações e taxa de conversão dos atacantes pode mostrar algumas conclusões interessantes. Veja como está o atacante do seu time e entenda o gráfico nesse fio.
Perceba que o gráfico tem 4 quadrantes: 1) Superior direito- muita finalização com alta conversão 2) Inferior direito - muita finalização, mas baixa conversão 3) Inferior esquerdo - pouca finalização com baixa conversão 4) Superior esquerdo - pouca finalização, mas alta conversão
No quadrante superior direito temos jogadores que conseguem finalizar bastante e convertem grande parte das chances que tem. É o melhor dos dois mundos e é, portanto, os atacantes de maior destaque no gráfico. São eles: Thiago Galhardo, Pedro, Marinho e R. Kayser.
Se o Flamengo teve o retorno de alguns jogadores importantes no time titular, Eduardo Barros trouxe um CAP praticamente todo reserva. O Athletico não perdia há 6 jogos e até fez bom início de 1T, mas não conseguiu segurar um Fla que cresceu demais na segunda etapa. Segue o fio.
O 4-2-3-1 ganha cada vez mais sequência no Flamengo. Apesar do retorno dos laterais titulares, o Fla não tinha Thiago Maia poupado por desgaste físico. Assim, a dupla de volantes teve Arão e Gérson. Na linha de meias, BH na esquerda, Vitinho na direita e Arrascaeta por dentro.
Do lado do CAP, nomes importantes como Wellington, Erick, Christian e Cittadini foram poupados devido à sequência pesada de jogos e Eduardo Barros trouxe um time bem alternativo. 4-4-2 com losango no meio e destaque para o recém contratado Renato Kayzer no comando de ataque.
O Flamengo precisava responder à sapatada que levou do Del Valle na semana passada. Não importa se o time estava recheado de meninos ou se metade do elenco ainda estava fora por COVID. E com uma mudança de estratégia tática e a superação dos meninos, conseguiu. Segue o fio...
O Flamengo ainda estava remendado devido aos casos de COVID no elenco. Alguns jogadores importantes foram relacionados, mas sem condições de iniciar a partida, deram espaço a muitos meninos no 11 inicial. A linha de defesa era toda sub-20: Matheuzinho, Noga, Natan e Ramon.
O 4-2-3-1 foi mantido. A formação começa a tomar forma, padrão e continuidade. Com Gabigol de volta e Pedro também titular, o herói do título da Libertadores 2019 foi jogar na ponta direita. Lincoln repetiu a posição que jogou contra o Palmeiras, ponta esquerda.