Hoje, vários postaram aqui um questionamento a partir deste virtual apoio do PT à candidatura Boulos/Erudina. A questão foi: o PSOL não teria que fazer o mesmo gesto em relação às candidaturas petistas com mais intenção de votos? Vou tentar fazer uma ponderação a respeito:
1) Toda aliança das esquerdas é positiva. O caso mais emblemático, neste momento, é o de Portugal. O PS português, que por anos se aliou com o centro e centro-direita, após a prisão do ex-primeiro ministro Sócrates, deu uma guinada à esquerda e se aliou ao Bloco de Esquerda
2) A aliança PS (meio PT de Portugal) com Bloco de Esquerda (meio PSOL de lá) gerou um potente governo português com imenso sucesso, denominada de Geringonça.
3) Contudo, estamos muito próximos do dia 15 de novembro: as quatro próximas semanas. Significa que não temos mais uma aliança ou coligação possível, mas uma desistência para apoiar uma candidatura que se apresenta mais potente nas pesquisas de intenção de voto
4) O problema é que nem sempre a desistência de uma candidatura criará uma mudança significativa no cenário eleitoral. Este é o caso da eleição de Belo Horizonte. PT e PSOL somam pouco mais de 5% das intenções de voto. Somados, nem fazem cócegas à possível reeleição de Kalil
5) Neste caso de Belo Horizonte, quem desistiria? O candidato do PT? Mas, qual mudança de cenário geraria? Seria um tranco na militância petista sem levar o PSOL a uma situação nitidamente mais favorável. PSOL nunca superou 4% dos votos na capital mineira. Já o PT, governou BH
6) Mas, não se desiste de uma candidatura apenas para auxiliar uma outra, do mesmo campo, mais potente. Também se desiste para evitar um resultado desastroso que pode comprometer a imagem pública do candidato ou do partido. O caso de São Paulo parece emblemático.
7) Se Tatto terminar com 1% dos votos e o PSOL com mais de 10%, ficará nítido que a esquerda mudou de guarda na capital paulista. Será quase impossível alterar esta constatação (ao menos, subjetiva). O impacto sobre o futuro do PT paulistano pode, efetivamente, ser demolidor
8) Se Tatto desiste para apoiar Boulos/Erundina, diminuirá o impacto negativo da derrota. Pode trabalhar, ao contrário, uma imagem de solidariedade e desprendimento e até inaugurar uma nova fase das esquerdas brasileiras, ao estilo Portugal.
9) Este é o caso de Belo Horizonte ou Rio de Janeiro? Belo Horizonte, definitivamente, não parece ser o caso. PSOL e PT caminham para o fracasso eleitoral. No RJ, a situação envolveria as candidaturas do PDT e PT. Ocorre que estão em empate técnico (8% e 7% da intenção de voto)
10) No RJ, a desistência do PT ou PDT em favor da outra candidatura deste mesmo espectro levaria ao empate técnico com o atual prefeito, que tenta a reeleição. Contudo, não há qualquer certeza a respeito. Finalmente: quem desistiria estando em empate técnico?
11) A situação do RJ é similar à de Fortaleza. O candidato de extrema-direita começa a cair, mesmo permanecendo à frente. Em seguida, surge a candidata do PT. E, em terceiro, o candidato do PDT. A diferença entre os dois primeiros colocados é de 5%.
12) A diferença entre a candidata do PT (23%) e o candidato do PDT (16%) é de 7%. É o caso de alguém desistir em apoio ao outro? Evidentemente que não. Ambos têm chance real.
13) Então, não se trata de um "toma lá, dá cá" entre partidos de esquerda, muito menos entre PT e PSOL. A situação mais definida e dramática é, sem dúvida, a de São Paulo.
14) Russomano em queda (mais, ainda em primeiro lugar, com 27% de intenção de voto), Covas com subida de 1% (chegando a 21%) e Boulos com crescimento de 3% (chegando em 12%), projeta um final de campanha eletrizante.
15) O cálculo político, então, não se atém apenas às chances que uma desistência leva à outra candidatura de seu campo ideológico. Nem mesmo uma troca de favor e gentilezas. Leva em conta o impacto de uma derrota que pode levar à perda de poder eleitoral real.

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16 Oct
Farei um breve comentário sobre a avaliação IBOPE sobre avaliação dos cidadãos de Belo Horizonte sobre os governos Bolsonaro, Zema e Kalil. Segue microfio
1) 74% dos moradores de BH aprovam o governo de Alexandre Kalil. O que Kalil tem de tão especial? Ele fez uma composição no governo que foi clássica no governo Sarney: nas políticas sociais, se apoiou na esquerda; em outras áreas, no centro. E assumiu uma postura firme e franca Image
2) Sobre o governador Zema: 33% de avaliação positiva e 26% de negativa. 37% acham sua gestão razoável. Uma avaliação que indica um governo morno, mais para medíocre (que está no meio, regular). Tem relação com a imagem simplória que ele plantou Image
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15 Oct
Finalmente, a direção do PT SP decidiu ser direção. Não há como sustentar uma candidatura com 1% de intenção de votos. É destruir a biografia do candidato, é diminuir as chances dos candidatos a vereador, é ignorar o recado popular. Apoiar Boulos/Erundina é fortalecer a esquerda
Mais que isso: é demonstrar inteligência política e se revelar simpático aos olhos de grande parte do eleitorado progressista de São Paulo, que gira ao redor de 30% (concentrado, em especial, nas periferias sul e leste da cidade).
Que este desastre deixe a lição de como decisões protocolares, autorreferentes, sem consulta ou olhar sobre o mundo fora da bolha da burocracia partidária, destrói qualquer agremiação política, por mais lastro que tenha, porque a política não está na direção. Está nas ruas.
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12 Oct
Bom dia. Prometi fazer um fio sobre os fanatismos políticos que assolam o Brasil. Serão 3 fanatismos que tentarei analisar: os "camisa de força", os "sossega leão" e os "psicanalista, já!". Segue o fio
1) Comecemos pela definição do que entendo ser fanatismo político. São aqueles que, a partir de uma ideia-força simplista, interditam qualquer dúvida. A dúvida destrói a crença e, portanto, é sinal do demônio, como o riso era vistos, na Idade Média, como obra de Lúcifer
2) A interdição da dúvida tem o efeito, para o fanático, de impedir que a realidade se imponha, destruindo a construção de seu mundo paralelo. Como se percebe, o fanatismo tem relação com um trauma ou profundo medo que o joga num armário escuro, quente e acolhedor
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10 Oct
Boa tarde. Prometi um fio sobre a necessidade de enraizamento de candidatos a cargos majoritários ou não passarão de celebridades. Então, lá vai.
1) Zygmunt Bauman é o autor que alertou para o mundo das celebridades efêmeras que o século XXI gerou e, muitas vezes, substitui a liderança social. Para o autor: "as celebridades do nosso tempo são pessoas comuns que são percebidas como pessoas comuns"blogacritica.blogspot.com/2014/10/conver…
2) Mais: para Bauman, "a sociedade de consumo cria a demanda por celebridades, e reconstrói o sistema de estrelas." Moro, Ciro Gomes e Luciano Huck são projetos de liderança que não conseguem romper com a tarja de celebridades. Mas, o que são lideranças sociais ou políticas?
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8 Oct
Farei um fio sobre o fim da Lava Jato e seus "super heróis" fabricados num diminuto momento histórico do país. Vai sem deixar saudades.
1) A Operação Lava Jato tem inicio com investigações contra doleiros, de 2009 a 2013. Mas, a partir de 2014, ano da reeleição de Dilma Rousseff (e de embate crescente com Aécio Neves), o Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba criou uma força-tarefa para atuar nesta frente
2) A força-tarefa do MPF inicialmente envolveu os procuradores Deltan Dallagnol, Carlos Fernando Lima, Roberson Henrique Pozzobon, entre outros. Em 2015, ganham a companhia de um grupo de trabalho atuando junto à Procuradoria-Geral da República em Brasília
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5 Oct
Uma das deficiências mais importantes neste período é o da formação política do campo progressista. Percebo que há uma um consenso sobre esta deficiência, mas, infelizmente, poucos sabem exatamente do que falam. Farei um mini fio a respeito. Lá vai.
1) A formação tem lastro, obviamente, na educação. E, em termos gerais, há duas formas de educar: pelo estímulo à respostas condicionadas (baseadas na teoria comportamental de Pavlov e Skinner) e no processo de construção coletiva de conhecimento, onde o outro é sujeito
2) Então, temos modelos em que o educador é sujeito e o que assiste a aula é objeto; mas, temos outra situação em que os dois são sujeitos porque o método cria diálogo entre conhecimento formal e sabedoria adquirida na existência. Muitos pesquisadores trabalham com esta distinção
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