Bom dia. Hoje, vou retomar uma tese que defende há tempos: o fim do Senado no Brasil. São muitos países que possuem sistema unicameral. Segue o fio
1) Comecemos pelos países que possuem estrutura unicameral: China, Portugal, Suécia, Finlândia, Islândia, Dinamarca, Israel, Estônia, Croácia, Cuba, Venezuela, Peru, Equador, Angola, Líbano, Grécia, Guatemala, Honduras, Turquia, Sérvia, Hungria, Coreia do Sul, Ucrânia ....
2) No sistema bicameral tupiniquim, o Senado, em especial, possui uma lógica neopatrimonialista, tal como sugere Simon Schwartzman: a existência de uma racionalidade de tipo técnica onde o papel do contrato social e da legalidade jurídica seja mínimo ou inexistente.
3) O Senado brasileiro não se funda num contrato com a sociedade. Ao contrário, é a câmara legislativa mais elitista e apartada da sociedade brasileira. Por este motivo é a casa legislativa mais cara do país.
4) José Murilo de Carvalho, em Os Bestializados sugere que ao se implantar a eleição direta no Brasil a participação popular foi limitada aos alfabetizados. Distinguiu-se a sociedade política da sociedade civil, distinção que alimenta a existência do Senado
5) Senadores permanecem oito anos com seus cargos garantidos. Não necessitam descer ao mundo da sociedade civil. Podem se candidatar ao poder executivo e, mesmo sendo reprovados pelo voto popular, retornam ao seu posto.
6) Na obra “O Senado do Império” somos esclarecidos que ao ser criado, a eleição do Senado Imperial ocorria a partir de uma lista tríplice, das quais, o Imperador escolhia um a seu bel prazer. Senadores eram eleitos por províncias com as quais não tinham qualquer ligação.
7) No início da República os senadores passaram a ser eleitos: dois no inicio e, no casuísmo do pacote de abril dos militares, em 1977, passaram a três. Teoricamente o Senado passou a representar a Federação.
8) Enfim, uma breve provocação para destacar que o país tem muito o que discutir
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Prometi um fio sobre os como os eleitores brasileiros expressam grande desencanto com a política e o Brasil e uma possível revisão em relação à aposta na renovação política. Lá vai.
1) Nas eleições municipais passadas e na eleição de 2018, houve consenso entre analistas políticos que o eleitorado brasileiro se inclinava para a renovação radical como fator decisivo para seu voto. Daí a eleição de candidatos do Partido Novo e do PSL.
2) Conduto, uma análise mais criteriosa e apurada da renovação real na Câmara de Deputados indicava um índice muito baixo. A despeito da imprensa divulgar um percentual de renovação superior a 45%, minha equipe chegou a um índice muito menor: 17%
Bom dia. Retomo o fio sobre o neopetismo, a queda de qualidade das direções petistas contemporâneas e a permanência do PT como partido âncora do sistema partidário brasileiro. Segue o fio.
1) No fio de ontem, procurei retratar como as direções petistas foram se afastando do projeto socialista, se tornaram pragmáticas e parlamentarizadas, perderam o foco na mudança da sociedade e na disputa de valores, se acomodando ao status quo e, daí, subordinadas ao marketing
2) Uma das características desta mudança profunda no perfil das direções petistas é a acelerada transição para o que a literatura especializada denomina de "partido cartel". Trata-se de partido que independe do eleitor ou da base social, vivendo dos recursos públicos
Prometi um fio sobre o neopestismo e o paradoxo entre o PT ter as piores direções de sua história e se manter como principal partido do sistema político nacional. Segue uma análise sobre este paradoxo
1) Começo explicando o que denomino de neopetismo. Trata-se da geração que emerge à direção do PT (e dos filiados) do pós-2002, ou seja, com o advento do lulismo. Gente que não vivenciou o período de adversidades e ataques da construção de um partido que se definiu socialista
2) Em relação aos dirigentes neopetistas, seu perfil passou a ser pragmático, marcado pela lógica rebaixada do marketing (que não se propõe a disputar, mas meramente absorver o ideário popular, mesmo que contrário à linha partidária) e "parlamentarizada"
Farei um breve comentário sobre a avaliação IBOPE sobre avaliação dos cidadãos de Belo Horizonte sobre os governos Bolsonaro, Zema e Kalil. Segue microfio
1) 74% dos moradores de BH aprovam o governo de Alexandre Kalil. O que Kalil tem de tão especial? Ele fez uma composição no governo que foi clássica no governo Sarney: nas políticas sociais, se apoiou na esquerda; em outras áreas, no centro. E assumiu uma postura firme e franca
2) Sobre o governador Zema: 33% de avaliação positiva e 26% de negativa. 37% acham sua gestão razoável. Uma avaliação que indica um governo morno, mais para medíocre (que está no meio, regular). Tem relação com a imagem simplória que ele plantou
Hoje, vários postaram aqui um questionamento a partir deste virtual apoio do PT à candidatura Boulos/Erudina. A questão foi: o PSOL não teria que fazer o mesmo gesto em relação às candidaturas petistas com mais intenção de votos? Vou tentar fazer uma ponderação a respeito:
1) Toda aliança das esquerdas é positiva. O caso mais emblemático, neste momento, é o de Portugal. O PS português, que por anos se aliou com o centro e centro-direita, após a prisão do ex-primeiro ministro Sócrates, deu uma guinada à esquerda e se aliou ao Bloco de Esquerda
2) A aliança PS (meio PT de Portugal) com Bloco de Esquerda (meio PSOL de lá) gerou um potente governo português com imenso sucesso, denominada de Geringonça.
Finalmente, a direção do PT SP decidiu ser direção. Não há como sustentar uma candidatura com 1% de intenção de votos. É destruir a biografia do candidato, é diminuir as chances dos candidatos a vereador, é ignorar o recado popular. Apoiar Boulos/Erundina é fortalecer a esquerda
Mais que isso: é demonstrar inteligência política e se revelar simpático aos olhos de grande parte do eleitorado progressista de São Paulo, que gira ao redor de 30% (concentrado, em especial, nas periferias sul e leste da cidade).
Que este desastre deixe a lição de como decisões protocolares, autorreferentes, sem consulta ou olhar sobre o mundo fora da bolha da burocracia partidária, destrói qualquer agremiação política, por mais lastro que tenha, porque a política não está na direção. Está nas ruas.