O que mais me impressiona é que no tom da matéria, o Jones representaria toda a esquerda radical (que aparentemente é tão inofensiva que tiveram que publicar uma matéria sobre ela).
Faz mais de 15 anos que tô nesse bonde.
E nenhum desses anos eu defendi ou relativizei Stalin.
Sabem por quê? Porque a esquerda radical é gente pra caralho (tá, não é, mas metaforicamente, é muito mais plural que essa caricatura que pintaram aí).
Eu me vejo muito mais próximo do Safatle nessa e a pergunta dele parece ser boa para ser retomada:
O que se ganha colocando toda a esquerda radical no mesmo barco, sendo obrigada a falar o que pensam sobre socialismo real???
A porcaria do Novo tem uma van com a Thatcher. O El País foi perguntar para o Amoedo se ele também é fã do Pinochet?
O Livres botou lá uma homenagem a Herbert Spencer. Já cobraram deles se eles defendem o darwinismo social???
MBL já chamou o Mandela de terrorista. Já perguntaram se são a favor do Apartheid?
Eu sou a favor que todo o espectro político, de cabo a rabo, assuma seus BOs.
Mas é sempre na esquerda que isso recai, né? É sempre a gente que tem que falar de Venezuela, Stalin, Cuba... O outro lado é sempre ilibado. Haja saco!
Paulo Guedes defende abertamente a política econômica dos primeiros anos do nazismo e a imprensa nem tchum!
É uma luta de narrativas sempre desigual, impressionante.
Acho que em parte, nem deveria reclamar disso. Não é como se nada disso fosse novidade.
É só meio ridículo, porque o El País se coloca como um veículo sério. Mas requentar a mesma agenda do Globo e chamar de jornalismo é boring demais.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Sinceramente, eu entendo essa ideia de igualar democratas com republicanos para quem não é americano. Mas há diferenças entre imperialismo em suas formas mais fascistas e um imperialismo que se mostra como "não-imperialista".
A diferença se dá na nossa própria correlação de forças políticas. Sem Trump, Bolsonaro poderia se tornar o fenômeno político que se tornou? Talvez sim, mas seria por outros meios e caminhos.
Trump e o trumpismo alargaram o campo do possível na política dos EUA.
E, consequentemente, em toda a América Latina. O chamado "populismo de direita" ganhou representação política em quase toda América do Sul, ainda que só no Brasil e nos EUA ele triunfou eleitoralmente.
Sobre influencers na história, queria dividir um "causo" aqui:
Era 2013, eu dava aula em duas escolas particulares enquanto estava no doutorado. Entre trabalho, pesquisa e deslocamentos, todo dia era umas 10-12h fácil.
Certo dia eu chego numa turma de segundo ano e um dos alunos, que gostava de mim inclusive, chega com o Guia Politicamente Incorreto, do Narloch, perguntando o que eu achava.
Não entrei de sola, mas falei que menosprezava qualquer publicação que dissesse que eu ensinava errado meus alunos.
O guri seguiu insistindo, até que um colega dele se irritou e falou: "mas cara, tu acha que o sôr tá mentindo pra ti, é?"
A alternativa mais óbvia (processos, exonerações, ou até acordos de anistia) requer um imenso capital político. Mas é necessário justamente para isolar setores que serviram ao golpe e garantir que eles não possam mais agir na ilegalidade.
Tem também toda a questão do lítio, que é a principal cartada boliviana na economia global hoje. É preciso suspender os contratos do governo Anez, o que significa ter que afirmar sua própria ilegalidade.
É um bom debate, mas faço a ressalva, de historiador, que isso é também um projeto de construção de memória.
O capitalismo da ditadura foi campeão mundial em acidente de trabalhos, como bem aponta e analisa a minha colega, Ana Beatriz Silva: periodicos.ufsc.br/index.php/mund… .
Uma boa hipótese para pensar aí é comparar com outras ditaduras latino-americanas, como Chile e Argentina, para ver se há semelhante nostalgia popular de "emprego e segurança" que se criou no Brasil.
Mas meu ponto é que a ditadura foi mobilizada por uma série de candidatos e jornais nos anos 80 e 90 como referenciais nesses campos, apagando assim a memória coletiva e traumática de uma superexploração da força de trabalho.
Todo o respeito a historiadores que estão lá, voltando às fontes do período ptolomaico no Egito para discutir se Cleópatra era negra ou não.
Mas vocês sabem que o debate sobre racialização tem menos a ver com a antiguidade e mais com a contemporaneidade, né?
A racialização das representações históricas é um jogo praticado na era Moderna europeia e que se torna fundamental para a construção de branquitude ocidental desde a ópera Aida, de Verdi.
Cito essa ópera porque talvez ela tenha sido a primeira representação branca do Egito Antigo na cultura de massas europeia (se é que dá para ler a ópera como cultura de massa), mas vá lá.
8 anos depois da apresentação da peça, em pleno Egito em 1871, o Pashá Ismail, ainda disse:
"Puxa, mas como você pode reivindicar a Revolução Chinesa, olha o tanto de gente que morreu".
(alerta de gatilho)
Bom, é complexo. Eu reconheço que os erros cometidos ao longo da Revolução são terríveis, com alto custo humano. Mas reconheço também que...
...a situação da China, sem revolução de 1949, era muito pior. O quão pior?
Bem, só para tocar na questão da fome. É consensual para o próprio governo chinês que a política desastrosa do Grande Salto Para Frente matou 20 milhões de pessoas.
Mas as cifras variam conforme o método dos historiadores. Frank Dikköter, por exemplo, estima em 45 milhões - mas é acusado de inflar os números com estatísticas pouco ou nada confiáveis. Yang Jisheng fala em 36 milhões, mas há desconfiança também: sci-hub.st/https://www.js…