Bom dia. Farei um pequeno fio sobre minha fala na live da Coletiva, a candidatura da médica Sônia Lansky à Câmara Municipal de Belo Horizonte em que 9 lideranças sociais se apresentam como co-vereadores dela. Falei sobre a "nova sociedade" que necessita de uma "nova política".
1) Sobre a nova sociedade: a marca prática da nova sociedade é a provisoriedade. Aquele compromisso social e a fidelidade política do século XX para com alguma organização vem decaindo rapidamente. Agora, o avatar propicia múltiplas personalidades, dúvidas e mudanças de rumo
2) Hoje é possível deslizar na opinião a respeito de qualquer coisa podendo aceitar um argumento no grupo de whatsapp e discordar do mesmo argumento em outro. E ninguém o cobrará pela incoerência. Na ação social, temos a substituição de movimentos sociais por mobilizações sociais
3) A mobilização social é tópica; os movimentos sociais são mais perenes. A primeira se faz essencialmente a partir de uma emoção forte; a segunda, pela razão. Uma é explosiva; a outra é calculista. Uma se basta; a outra, procura abrir uma avenida política.
4) Uma das causas desta provisoriedade no comportamento social e político é o ressentimento e desconfiança com tudo o que é público. Ressentimento que gera o fechamento em bolhas, nas associações mais intimistas e afetivas.
5) As bolhas podem se expressar em coletivos, em discurso identitário que, como toda "solidariedade mecânica", odeia tudo o que não é espelho. A saída para parte do sindicalismo norte-americano foi a aposta na organização por bairro e etnia.
6) A experiência da covereança da Coletiva em BH adota esta lógica. Já foi testada em outras campanhas eleitorais recentes: a candidatura é uma soma de perfis, de engajamentos de pessoas que estão em pautas e coletivos distintos. Uma espécie de "candidatura mosaico"
7) Esta proposição de uma candidatura-mosaico teria sentido no século XX? Ela não aponta para uma outra forma de organização política ou até mesmo estatal? Algo mais fragmentado que se unifica a partir da diversidade? Aqui está um dos mais importantes desafios para a esquerda
8) Então, analisemos este desafio. Se a identidade da esquerda é a luta pela igualdade e a superação de situações de injustiça social, deve, necessariamente, dialogar com esses segmentos marginalizados ou estará pregando no deserto.
9) Acontece que desde os anos 1990, a esquerda brasileira, liderada pelo PT, foca no plano institucional e nas campanhas eleitorais. Ora, nada mais distante do cotidiano dos marginalizados e dos coletivos que acabo de citar. O que gera um apartheid político.
10) Pior: em nosso país, como a desigualdade é brutal (a ONU sugere que somos o sétimo país do mundo neste quesito) e histórica, forjou-se no Brasil uma cultura estamental, que nos define socialmente no nascimento: se sou negro, meu futuro está selado.
11) Com a ida para o campo institucional, parte da esquerda brasileira passou a tratar os marginalizados como massa, como multidão. Deixou de nomear lutas, inserções, peculiaridades, sofrimentos concretos. Justamente porque deixou de ser expressão política das situações concretas
12) Tratando os marginalizados social e politicamente como massa, o marketing político ganhou força no interior das esquerdas. Marketing cria um desejo de compra, como sabemos. Portanto, a questão aqui não é expressar desejo, mas construir desejo.
13) Este é nosso problema no momento: a esquerda brasileira precisa recriar laços com a base social. Por um novo caminho, o caminho da presença numa sociedade fragmentada, organizada em bolhas. Uma empreitada das mais difíceis e desafiadoras. (FIM)
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Prometi, ontem, postar comentários sobre o levantamento que minha equipe fez das pesquisas de intenção de voto em capitais e cidades-polo do Nordeste, Sudeste e Sul do país. Vou postar agora. Segue o fio.
1) Primeiro, algumas advertências. Fizemos um levantamento em virtude do acesso a pesquisas de intenção de votos. A seleção de cidades-polo, portanto, não segue um critério político, mas de acesso aos dados. Em segundo lugar, não se trata de vaticínio, mas de leitura de dados
2) Comecemos pelas capitais do Nordeste. As pesquisas não indicam uma região exatamente marcada pelo voto progressista. E também não indicam uma relação com o cenário nacional ou até mesmo com o governo estadual de plantão.
Prometi um fio sobre os como os eleitores brasileiros expressam grande desencanto com a política e o Brasil e uma possível revisão em relação à aposta na renovação política. Lá vai.
1) Nas eleições municipais passadas e na eleição de 2018, houve consenso entre analistas políticos que o eleitorado brasileiro se inclinava para a renovação radical como fator decisivo para seu voto. Daí a eleição de candidatos do Partido Novo e do PSL.
2) Conduto, uma análise mais criteriosa e apurada da renovação real na Câmara de Deputados indicava um índice muito baixo. A despeito da imprensa divulgar um percentual de renovação superior a 45%, minha equipe chegou a um índice muito menor: 17%
Bom dia. Hoje, vou retomar uma tese que defende há tempos: o fim do Senado no Brasil. São muitos países que possuem sistema unicameral. Segue o fio
1) Comecemos pelos países que possuem estrutura unicameral: China, Portugal, Suécia, Finlândia, Islândia, Dinamarca, Israel, Estônia, Croácia, Cuba, Venezuela, Peru, Equador, Angola, Líbano, Grécia, Guatemala, Honduras, Turquia, Sérvia, Hungria, Coreia do Sul, Ucrânia ....
2) No sistema bicameral tupiniquim, o Senado, em especial, possui uma lógica neopatrimonialista, tal como sugere Simon Schwartzman: a existência de uma racionalidade de tipo técnica onde o papel do contrato social e da legalidade jurídica seja mínimo ou inexistente.
Bom dia. Retomo o fio sobre o neopetismo, a queda de qualidade das direções petistas contemporâneas e a permanência do PT como partido âncora do sistema partidário brasileiro. Segue o fio.
1) No fio de ontem, procurei retratar como as direções petistas foram se afastando do projeto socialista, se tornaram pragmáticas e parlamentarizadas, perderam o foco na mudança da sociedade e na disputa de valores, se acomodando ao status quo e, daí, subordinadas ao marketing
2) Uma das características desta mudança profunda no perfil das direções petistas é a acelerada transição para o que a literatura especializada denomina de "partido cartel". Trata-se de partido que independe do eleitor ou da base social, vivendo dos recursos públicos
Prometi um fio sobre o neopestismo e o paradoxo entre o PT ter as piores direções de sua história e se manter como principal partido do sistema político nacional. Segue uma análise sobre este paradoxo
1) Começo explicando o que denomino de neopetismo. Trata-se da geração que emerge à direção do PT (e dos filiados) do pós-2002, ou seja, com o advento do lulismo. Gente que não vivenciou o período de adversidades e ataques da construção de um partido que se definiu socialista
2) Em relação aos dirigentes neopetistas, seu perfil passou a ser pragmático, marcado pela lógica rebaixada do marketing (que não se propõe a disputar, mas meramente absorver o ideário popular, mesmo que contrário à linha partidária) e "parlamentarizada"
Farei um breve comentário sobre a avaliação IBOPE sobre avaliação dos cidadãos de Belo Horizonte sobre os governos Bolsonaro, Zema e Kalil. Segue microfio
1) 74% dos moradores de BH aprovam o governo de Alexandre Kalil. O que Kalil tem de tão especial? Ele fez uma composição no governo que foi clássica no governo Sarney: nas políticas sociais, se apoiou na esquerda; em outras áreas, no centro. E assumiu uma postura firme e franca
2) Sobre o governador Zema: 33% de avaliação positiva e 26% de negativa. 37% acham sua gestão razoável. Uma avaliação que indica um governo morno, mais para medíocre (que está no meio, regular). Tem relação com a imagem simplória que ele plantou