Thread by @teofb

A defesa do Flamengo vem mal e isso não é segredo para ninguém. Um time que pretende ser campeão não pode levar 25 gols em 19 jogos. Há muitas falhas individuais e muitos problemas coletivos. O sistema defensivo não se acerta.

Por quê?

Vamos a um breve mergulho...

É impossível desconsiderar o contexto atípico dessa temporada. Já sabíamos que seria um processo difícil, com pouco tempo, muitos jogos, muitas lesões, convocações, covid, verão e ausência de torcida. Uma receita inédita.

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Isso tudo tornou o Campeonato Brasileiro, que já é meio maluco por natureza, ainda mais aleatório. Não parece ser coincidência que nesse ano tenhamos o “campeão do primeiro turno” com a menor pontuação neste formato de torneio.

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No meio de tudo isso, o Flamengo foi obrigado a reiniciar o trabalho. JJ saiu e Domenec chegou já estreando no Brasileiro. A impressão ao fim do primeiro turno é que o time não decolou.

No início, o problema era ofensivo. O Flamengo tinha muita dificuldade de furar as defesas adversárias. Agora, com o ataque mais ajustado, a parte defensiva grita!

Quando o time vai atingir um equilíbrio?

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A comparação com 2019 é relativamente injusta, mas acaba sendo inevitável. Muita gente ainda não entendeu: aquele não era um time ofensivo que também tomava poucos gols. Era um time que se defendia como ninguém e, por isso, dominava as partidas.
Falo sobre isso no livro…

O futebol é um jogo encadeado. A forma de atacar determina a forma de defender. Esse foi o equilíbrio perfeito que JJ encontrou e que, hoje, não existe mais. O time fazia uma pressão pós-perda organizada e intensa. Assim, a zaga sempre jogava protegida, mesmo que bem adiantada.

Não foi um processo fácil. Como não lembrar do gol que nos eliminou da Copa do Brasil? O meio-campo subiu para fazer pressão na saída junto com o ataque, a zaga não acompanhou e Rony entrou cara a cara.

A evolução foi um processo… E JJ precisou apostar

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Quando esses movimentos finalmente se ajustaram, o time encaixou de vez. A bola já chegava mastigada para os zagueiros, que recuperavam tranquilamente e colocavam o time de novo no ataque, criando aquele ciclo que o rubro-negro se acostumou a ver.

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Não era perfeito, claro, e exigia muita coordenação. Quando o nível de concentração caiu, o pós-perda não funcionou, a zaga ficou exposta e tomou 4 gols do Vasco. Mesmo assim, era exceção e não regra.

globoesporte.globo.com/futebol/brasil…

Hoje, é exatamente isso que acontece. A marcação-pressão não encaixa direito e dá muita liberdade para o lançamento (a bola fica descoberta). Mesmo quando encaixa, a linha de defesa não acompanha. Assim, surge o efeito mola e a zaga fica exposta.

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É regra, não exceção. E foi assim mesmo na sequência de bons resultados.

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Quem está dentro de campo também sabe disso. Filipe Luís falou depois da derrota contra o São Paulo que “a defesa recuou e deu espaço para eles no meio.”

Repare na reação dele nesse lance…

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Não é um ajuste tão simples quanto parece. Muitos fatores estão envolvidos: tempo de treinamento, cultura de marcação, capacidade dos defensores, comunicação dentro de campo, confiança, cansaço…

Zagueiro exposto acaba, por instinto, correndo para trás — e fica mais exposto.

Mas o Flamengo já passou por esse processo e 2019. Por que precisa passar de novo em 2020?

Bem… Pablo Marí faz MUITA falta comandando a altura da linha. Rafinha tinha uma capacidade impressionante de cobrir o espaço às suas costas, precisando de menos cobertura...

Além disso, vem há um mês sem Rodrigo Caio, também ótimo nesse aspecto, e Diego Alves.

Natan e Hugo foram muito bem, mas não têm a mesma experiência, cultura e voz de comando.

Sobra Filipe Luís esperneando para a linha subir...

Quer ver um exemplo de jogo em que a dupla de zaga jogou exposta por muito tempo? A final da Libetadores de 2019. Martínez Quarta e Pinola tiveram que se virar muitas vezes. Foram quase perfeitos. No finzinho, deu no que deu…

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O time como um todo pode proteger mais ou a expor mais os zagueiros. Pode ajudar a esconder ou escancarar seus defeitos. A questão é que, obviamente, os atuais zagueiros do Flamengo não conseguem segurar o rojão e, jogando expostos, são forçados muitas vezes e desabam.

O futebol é um esporte de elo fraco. O que isso significa? Que a pior peça em campo influencia muito o desempenho.

O basquete, por exemplo, é um esporte de elo forte. Ter um Lebron James impulsiona seu time a um novo patamar.

É claro que um Messi faz diferença. É óbvio que faz diferença ter os melhores em campo. Mas, no basquete, você quase sempre pode garantir que a bola chegue às mãos de Lebron...

Enquanto isso, no futebol, um gol depende de uma sequência de dezenas de ações certas entre passes, dribles, domínios, cruzamentos e finalizações. Se uma, apenas uma, dessas ações for errada, já era.

O elo fraco participa muito mais do jogo do que se imagina.

Além disso, por ser um jogo de pontuação baixa, um erro capital faz MUITA diferença no futebol.

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Atualmente, o elo fraco rubro-negro se encontra no miolo da zaga. Natan se mostrou surpreendentemente seguro, com falhas normais para um menino de 19 anos.

Thuler e Noga não empolgaram tanto nas poucas vezes que jogaram.

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Mas os principais alvos, claro, são Gustavo Henrique e Léo Pereira. Os dois zagueiros experientes que, em tese, deveriam segurar o rojão na ausência de Rodrigo Caio.

É na mão deles que o rojão vem estourando.

A meu ver, os dois são bem diferentes. Cada um tem defeito específicos e erra de formas específicos. Venho falando sobre isso no Telegram (t.me/teofb7), mas é um assunto mais longo e profundo, que fica para outro texto.

O fato aqui é que os dois vêm errando demais.

O Flamengo entrou em um ciclo vicioso muito perigoso.

Quando os zagueiros erram, perdem confiança. Assim, passam a tentar “fazer o simples” por instinto, recuam ainda mais, ficam ainda mais expostos e erram ainda mais. Aí perdem ainda mais confiança...

Isso tudo dentro de um modelo de jogo que, em condições normais, já exige mais dos zagueiros do que eles estão acostumados. Por ainda não estar ajustado, acaba exigindo ainda mais!

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A fila de zagueiros vem andando rapidamente. Domenec já usou oito duplas diferentes e é possível que Noga e Thuler recebam novas chances nos próximos jogos. Faz sentido e pode melhorar o desempenho, mas provavelmente não será o suficiente.

uol.com.br/esporte/futebo…

É difícil fazer muitas previsões sobre Domenec porque ele praticamente só tem um outro trabalho para fazermos comparações. Mesmo assim, olhando com atenção, já era possível imaginar que um de seus problemas seria no ajuste da defesa

https://twitter.com/teofb/status/1292123183982743560?s=20

O contexto é completamente diferente e não dá para transpor os números do NYCFC para o Flamengo. Mas, se essa já era uma dificuldade de Domenec, a temporada massacrante definitivamente não vem ajudando.

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Agora, Domenec se vê de frente a um dilema. Vai enfrentar o CAP em casa com vantagem no placar e depois pegar o CAM, que já mostrou muito vulnerável a contra-ataques e só tomou 2 gols a menos que o Fla até aqui.

Sem tempo para treinar e sem poder contar com jogadores importantes, vale a pena mudar a abordagem, jogar mais recuado, protegendo a defesa perto do próprio gol e explorando os contra-ataques? Ou é melhor apostar na abordagem que acredita a longo prazo?

Não seria a primeira vez. Já fez isso contra o Santos (não jogou bem, venceu e foi chamado de retranqueiro), contra o IDV no Maracanã (goleou e todo mundo gostou) e contra o Palmeiras (no empate heroico da garotada).

Não é um quebra-cabeças tão fácil de montar como muita gente imagina. Faltam algumas peças, outras estão absolutamente desgastadas. A figura completa não está formada...

Mas a temporada vai afunilando e chegando nas fases mais importantes. A realidade acaba exigindo a solução.

O time precisa decolar e a hora é agora. Não tem tempo para treinar, mas infelizmente vai ter que ser sem tempo mesmo.

Dizem por aí que ataque ganha jogo e defesa ganha campeonato. Nas próximas semanas, o Flamengo precisa mostrar o que é capaz de ganhar.