Existe um centro.

Esquerda e direita, muitas vezes, fazem de conta que não existe.

Tudo certo, é estratégia eleitoral: melhor pintar ‘o outro lado’ como uma coisa só.

Vira briga de mocinho e bandido, mais fácil de explicar.

Só que o mundo é complicado.
Existem vários centros, na verdade.

O mais comum é um que mistura uma visão em geral descrita como de esquerda das questões sociais e de costumes com uma em geral descrita como de direita da economia.

O que isso quer dizer?
Ora...

Isso quer dizer que reconhece que o Brasil é um país desigual pacas, que o Estado precisa atuar neste problema. Reconhece a liberdade para fumar um baseado, de casar com quem se ama, da mulher de escolher e de que o Meio Ambiente é causa urgente, imediata.
Mas isto também quer dizer responsabilidade fiscal, parar com essa coisa velha de ter um monte de estatais, abrir as portas para o comércio exterior, botar o Estado para cuidar de Saúde, Educação, Infraestrutura e Segurança.

E um quinhão para investir em ciência.
Tem muita gente que pensa assim no Brasil.

Essas pessoas não sabem que são de Centro. Não vou nem dizer qual a escola ideológica a quem pertencem porque aí viriam pedras.

Mas a gente precisa começar a conversar a sério sobre 2022.
Digamos que Jair Bolsonaro sobreviva a 2021.

Aos escândalos de corrupção de seus filhos que vão se aprofundar, à crise econômica que ele e Paulo Guedes construíram, a sua incompetência e à verborragia reacionária, doente.

Digamos que sobreviva e tenha força para o 2º turno.
O voto no segundo turno que precisará ser capturado para evitar uma vitória de Bolsonaro é o voto de direita e centro-direita.

Um candidato muito de esquerda não vai conseguir trazer este voto.

A esquerda pode espernear e reclamar e gritar. Não vai trazer.
Isso quer dizer que qualquer candidato de centro ou de direita ganhe de Bolsonaro?

Claro que não.

Alguém como Sérgio Moro vai afastar a esquerda. Aí é a esquerda que dirá ‘é uma escolha muito difícil’.

Também não adianta.
Não entro no mérito de quem é este candidato.

(Pode ser um nome de centro-esquerda, diga-se.)

Precisa ser um nome que gente o suficiente na direita tope e que não cause repulsa na esquerda.

Joe Biden foi isso, nos EUA.

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23 Oct
‘Todo mundo também dizia que Hillary ia ganhar. Essas pesquisas não são confiáveis.’

Vc já ouviu isso?

Donald Trump tem chances vencer?

Claro que tem.

Mas 2020 é muito diferente de 2016 e é importante compreender o que houve de ‘errado’ com as previsões daquele ano.
Primeiro: as pesquisas nacionais não erraram. Hillary venceu a eleição. Mas não é o voto popular que elege quem preside os EUA. É o Colégio Eleitoral, escolhido de acordo com o resultado dos pleitos de cada estado.

Quase sempre dá na mesma. Em 2000 não foi, em 2016 também não.
As pesquisas estaduais variam em acurácia. Primeiro porque é mais difícil, mesmo, com amostras menores. Depois porque, em alguns casos, prestava-se menos atenção.

Em algumas, no Cinturão da Ferrugem, o erro médio foi ligeiramente superior ao habitual.
Read 14 tweets
16 Oct
Estou numa posição que não costumo estar.

Sendo criticado ao mesmo tempo por gente que tem argumentos consistentes, gente que respeito como @pablo_ortellado e @ctardaguila, e, ao mesmo tempo, gente que está sempre do mesmo lado não importa o quê. Nomes que não vou citar.
O debate é o seguinte: o @nypost publicou uma reportagem na qual diz ter um email em que um ucraniano corrupto agradece a Hunter Biden, filho do candidato democrata à presidência dos EUA Joe Biden, por ter promovido um encontro com seu pai, quando vice-presidente.
Que evidências que o Post apresenta de que o email é real? Nenhuma.

Que evidências que o Post apresenta de que o encontro ocorreu? Nenhuma.

A campanha de Biden tem fortes indícios de que Biden teria outro compromisso na hora.
Read 19 tweets
28 Sep
Carol Solberg, jogadora de vôlei, foi denunciada ao STJD por ter gritado Fora Bolsonaro numa entrevista à TV após uma partida.

O direito à livre manifestação do que lhe é caro como pessoa é um dos mais básicos em uma Democracia Liberal.

Um fio.
Pode ser opinião política. Crença religiosa. Manifestação de apoio ou repúdio a pessoas.

Atletas, na história, sempre se manifestaram politicamente.

E, claro, sempre houve quem desejasse lhes tolher a palavra.
Em geral, usa-se para isto um argumento comercial.

‘Uma competição esportiva não é local para isso.’

Por que não é?

Porque envolve interesses, transações, patrocínios, é um jogo de imagem que não quer afastar ninguém de nenhum grupo etc.
Read 8 tweets
21 Sep
A gente já sabe um bocado sobre como redes sociais, seus algoritmos e política se relacionam.

Os algoritmos gostam de discurso que inflama. Que deixa pessoas exaltadas.

É porque estas emoções as deixam mais atentas, as fazem frequentar mais as redes.

Que vivem de publicidade.
A extrema-direita no Brasil, e em boa parte do mundo, já havia aprendido a manipular esta dinâmica.

A turma da centro-esquerda está ironizando que Stalin esteja voltando ao debate.

A centro-direita também fazia pouco quando a turma da intervenção militar constitucional apareceu
A centro-esquerda acha que o debate é um espantalho construído pela direita.

Não é não.

Stalinismo é a isca lançada pela esquerda radical para ampliar seu alcance e ampliar seu espaço dentro das esferas de influência da própria esquerda.
Read 12 tweets
20 Sep
Tem imenso valor a decisão do @magazineluiza de propor contratar apenas trainees negros.

A decisão é possivelmente ilegal.

Isto, me parece, é irrelevante.

Ao fio.
Esta é uma posição pessoal minha: eu sou a favor de políticas de ação afirmativa.

De cotas.

Sociedades têm dívidas históricas. No caso da brasileira, 54% de nós nos declaramos negros ou pardos para o censo.

IBGE: 17% dos 1% mais ricos são negros ou pardos.
Estatísticas refletem aquilo que medimos. Neste caso, o corte econômico e étnico de nossa sociedade.

Se os números não são próximos, então isto quer dizer que negros têm menos oportunidades do que brancos nesta sociedade.

Não são tratados como iguais em seus direitos e deveres.
Read 4 tweets
29 Aug
O surgimento de uma direita radical aqui e no mundo capaz de produzir vitórias eleitorais é um dos temas que me consome nestes últimos anos.

Estes fenômenos nunca podem ser explicados por uma única razão. Não é um evento, um meio de comunicação novo, ou uma mudança social.

+
Mas cada um destes itens entram na conta.

Foi por isso que mergulhei no Integralismo, o fascismo brasileiro dos anos 1930 para escrever meu novo livro.

Eu queria entender o que houve naquele mundo para compreender se há similaridades.

E há.

+
E há.

Naquela época a economia agrária migrava para uma industrial, causando muitas inseguranças. Hoje há a migração da industrial para a digital.

Havia mudanças de valores da sociedade em contraste com quem não queria mudanças.

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