"Apartheid simbólico" é RONDESP cortar a cabeça de um morador da periferia? Ou tiro de fuzil que matou Micael de 12 anos no Nordeste de Amaralina? Ou o outro tiro que matou Railan de 7 anos no Curuzu? Agora por que a futura vereadora fala isso? A negociação, né?+
Não tem que desracializar a guerra racial que ocorre em Salvador. Não tem que suavizar na palavra. Deixar de falar racismo feito pelo Estado ou ódio anti-preto. Não há simbolismo algum. Há uma materialidade que vai desde a pobreza material até a bala ceifando corpos pretos.+
Porém esta suavização do debate racial encanta as classes médias e elites que reinventam diariamente que podemos reformar condutas raciais para superar um problema estrutural da sociedade. Vocês me perdoem, mas parecem estar tentando impedir a destruição da estrutura racial.+
Agora este é um excelente exemplo de como a gente pode se dizer anti-racista pra lá e pra cá, mas na hora de fazer o enfrentamento racial, a gente fecha com as posições centrais de mediação. Entre caça e caçador vai existir diálogo? Acaso não ouvimos Lumumba?+
Por fim, aí está uma parte da esquerda progressista que "avançou" nestas eleições. Mantém posições conciliadoras com o inconciliável. Enquanto vivemos um genocídio preto perpetrado pela política de segurança do governo estadual do PT, vamos criar novos conceitos para fingir.+
Quem fecha com a política que nos mata, não pode interpretar uma personagem que nos representa. Não existe apartheid simbólico. Existe guerra racial de altíssima intensidade.
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Não existe 20 de novembro a ser comemorado. É um lamento a morte de Zumbi e não ter no meio do Brasil uma Palmares para fazer os brancos e este Estado genocida temer. Nossa tarefa histórica? Fazer Palmares novamente. Não no simbólico, mas no concreto.+
Ninguém ache que o ódio anti-preto vai parar a cada ajuste de comportamentos para que as pessoas sejam menos racistas. Isto não existe, não temos histórico disto no planeta. O racismo estruturou toda a sociedade capitalista. Não se arranca a estrutura moldando comportamento.+
Palmares é terra! Mas é sobretudo terra comandada pelos povos pretos numa grande aliança com toda sorte de marginalizados e perseguidos. Acaso não tem chegado a hora de juntarmos nossos povos perseguidos? Ou vocês creem que esta cidade racista tem jeito?+
A crise se alastra na esquerda. Qualquer renovação da representação política não é um bom parâmetro. Temos que olhar à baixo. Os efeitos da Força Nacional contra o MST ainda são sentidos aqui. Assentamento buscando titular terra e sair do movimento? Tá rolando.+
Mais do que isto, muita liderança de base se elegendo fora de partido de esquerda por aqui, muita liderança de base em partido de esquerda ajudando a eleger políticos profissionais. O impacto disto será sentido nas próximas semanas nas reuniões.+
O pior é que sabemos que Peru, Bolívia, Chile e até EUA e Espanha aos seus modos, mostram que a derrota da direita se deu antes na rua. Nós, portanto, estamos longe da construção de uma grande jornada de lutas. Se o bolsonarismo perdeu, a direita escrota expandiu na eleição.+
Olha, eu peguei inginja de "decolonialidade". Tipo, Boaventura é português, branco. Ele ficou conhecido e ganhou dinheiro com epistemes ou ideias dos povos do sul global. Convenhamos: tem algo mais colonial que um português ganhar dinheiro explorando o sul global?+
E tipo, tem muito material massa ali. Muito texto que ajuda. Mas é isto: fruto de uma falsa novidade. Fruto da evidenciação de um outro que segue sem o poder de enunciação que Boaventura tem. E eu li Walter Mignolo e essa turma. Tem coisa boa demais. Porém a turma se perde.+
Olha, num dá pra decolonizar na ideia e não ofertar um referencial que pense a terra, pq é desde a terra que a colonização é feita. Cê imagina alçar um subalterno à condição de referência na academia enquanto seu povo é desterritorializado? Que inversão é essa?+
Mais uma vez a gente tá vendo esta situação de usar o sistema epidérmico-racial que desvaloriza e prepara o extermínio de nosso povo para criar fratricídio e expor gente que faz luta social anti-capitalista. Vai parar? Não vai porque o objetivo desse "novo empoderamento" é esse.+
Quando nós falamos de "empoderamento", nos remete logo a poder. Eu teria total acordo se falássemos de forma clara sobre melhoria das condições de existência, diminuição dos danos psicológicos e emocionais em ser preto ou preta e etc. Mas empoderamento vem de poder. Pera lá! +
Ver na TV Aberta os branco levantando a bola para uma intelectual preta cortar expondo ainda mais uma lutadora social como a @letparks, mostra que este "empoderamento" trata-se, pelo contrário, de impedir o acesso ao poder real (acesso ao Estado) de quem está em luta.+
O capitalismo só existiu por ter desvalorizado os bens naturais na mesma medida em que tornou-os precificáveis e vendíveis aos pobres que tinham acesso a isto numa relação mais harmônica com o meio ambiente. Água, carvão e madeira foram reservados para venda.+
Aquela coleta de galhos secos passou a levar campesinos e ex-campesino à cadeia na origem do capitalismo. Isto explica o movimento contraditório de dar preço na natureza, mas desvalorizá-la. Para o pobre a madeira agora teria preço, mas para os ricos o bosque era acessível.+
E assim tem sido. Se aplicássemos o valor do petróleo considerando o tempo que a natureza leva para fazê-lo e o conjunto de matéria orgânica necessária para produzir, vejam vocês, nós não o usaríamos por ser muito caro. Se aplicássemos o valor de um floresta no clima, o mesmo.+
Jacques Depelchin, um historiador congolês com uma formidável crítica à teoria da história, falava que as histórias também podiam ser medidas pelo seu PIB. A história Europeia e do EUA são globais pelo valor de seus PIB's. A história queniana é local pelo mesmo critério.+
Esta mesma dinâmica serve internamente para pensar as histórias que são consideradas nacionais - SP, RJ, MG - e aquelas que recebem alcunha de história regional. Há uma violência narrativa que não se justifica ou se legitima em texto. Ela se apresenta covardemente oculta.+
Mas as editoras sabem. Também sabem as revistas e os melhores empregos. Isto, contudo, é claramente atravessado por outros aspectos, como o racismo. O PIB da China já desloca uma parte dos olhos para sua história, mas o racismo e o anti-comunismo ainda impedem o voo.+