Respeito, mas discordo dessa ideia de civilização milenar. Pressupõe uma unidade inquebrável do que é a civilização chinesa, uma continuidade que deixa todas as rupturas opacas.
Mais: essa ideia de que possuem seus próprios valores e princípios éticos pode ser enganosa. Em relação a quem estamos falando? Ao Brasil, que também possui os seus próprios valores?
Aliás, isso me lembra um causo: no filme Corações e Mentes (1974), um general americano justifica os bombardeios no Vietnã alegando que os "orientais" possuem outros valores em relação à vida, à morte e a moral...
Na cena seguinte, uma criança vietnamita chora inconsolavelmente por seu pai.
No fundo, a demarcação da diferença total e abstrata parece justamente evitar que a gente reconheça elementos de humanidade comum entre nós, restando somente incompreensão e exotismo.
(em tempo: os chineses não ligam para a minha opinião tanto quanto os ingleses ou os franceses 😁...na periferia do mundo, nossas posições são tratadas com irrelevância mesmo)
(em tempo 2: meu incômodo maior é com a ideia de que há uma grande estabilidade fora do Ocidente, enquanto o espaço ocidental é sempre o da modernização e da transformação...a gente pode acabar caindo numa dinâmica na qual todo agente de transformação só pode vir do Ocidente)
(tem um filmezinho que ao meu ver faz exatamente isso que é o Pantera Negra, mas vou deixar essa encrenca pra lá 😁)
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Fiozin de domingo: Que o Jair é péssimo aluno de História, não é surpresa. Mas essa versão de uma natureza pacífica brasileira e que são elementos "políticos" ou "estrangeiros" (como disse o Mourão) que importam os conflitos é tão velha quanto o próprio Brasil.
Já na primeira constituinte a gente tem a elite senhorial brasileira apavorada em relação ao Haiti. Como Célia de Azevedo aponta, em "Onda negra, medo branco", o temor de que os conflitos vindos de fora acabassem com o Brasil ordeiro estavam na origem do país.
O @marcosvlqueiroz , que pesquisa sobre o tema, pode dizer melhor do que eu, mas a verdade é que isso resultava num paradoxo: o grosso da mão-de-obra vinha de fora, com milhares de homens e mulheres escravizados.
Lembro de amigos negros relatando coisas horríveis que passavam quando entravam em um supermercado, como o próprio Carrefour. O assédio e as violências simbólicas tavam sempre ali...
Lembro deles e sinto um aperto... Não podiam ser eles, então, sendo espancados até a morte por seguranças privados?
Hoje é 20 de novembro...e homens e mulheres negros não podem nem ir num supermercado em paz.
Sinceramente, eu entendo essa ideia de igualar democratas com republicanos para quem não é americano. Mas há diferenças entre imperialismo em suas formas mais fascistas e um imperialismo que se mostra como "não-imperialista".
A diferença se dá na nossa própria correlação de forças políticas. Sem Trump, Bolsonaro poderia se tornar o fenômeno político que se tornou? Talvez sim, mas seria por outros meios e caminhos.
Trump e o trumpismo alargaram o campo do possível na política dos EUA.
E, consequentemente, em toda a América Latina. O chamado "populismo de direita" ganhou representação política em quase toda América do Sul, ainda que só no Brasil e nos EUA ele triunfou eleitoralmente.
O que mais me impressiona é que no tom da matéria, o Jones representaria toda a esquerda radical (que aparentemente é tão inofensiva que tiveram que publicar uma matéria sobre ela).
Faz mais de 15 anos que tô nesse bonde.
E nenhum desses anos eu defendi ou relativizei Stalin.
Sabem por quê? Porque a esquerda radical é gente pra caralho (tá, não é, mas metaforicamente, é muito mais plural que essa caricatura que pintaram aí).
Eu me vejo muito mais próximo do Safatle nessa e a pergunta dele parece ser boa para ser retomada:
O que se ganha colocando toda a esquerda radical no mesmo barco, sendo obrigada a falar o que pensam sobre socialismo real???
A porcaria do Novo tem uma van com a Thatcher. O El País foi perguntar para o Amoedo se ele também é fã do Pinochet?