O simbólico inexiste nesse país sem metáforas, em que um homem negro de 60 anos é espancado até a morte.

Essa é a Porto Alegre que elegeu a bancada mais negra da sua história, não faz cinco dias...
Lembro de amigos negros relatando coisas horríveis que passavam quando entravam em um supermercado, como o próprio Carrefour. O assédio e as violências simbólicas tavam sempre ali...
Lembro deles e sinto um aperto... Não podiam ser eles, então, sendo espancados até a morte por seguranças privados?

Hoje é 20 de novembro...e homens e mulheres negros não podem nem ir num supermercado em paz.
É 20 de novembro e uma vereadora negra em Blumenau é ameaçada de morte, é o país em que Marielle foi assassinada, que Talíria Petrone é ameaçada de morte e sequer pode sair pra votar...

É o país em que Beto foi espancado até a morte.
Nada atenua esse crime, nada atenua o racismo da nossa sociedade.

Acabou. Soquem no cu o vídeo do Morgan Freeman, a "consciência humana", o caralho... Acabou.

Se é fogo nos racistas, esse país tem que estar em chamas de Norte a Sul.

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22 Nov
Fiozin de domingo: Que o Jair é péssimo aluno de História, não é surpresa. Mas essa versão de uma natureza pacífica brasileira e que são elementos "políticos" ou "estrangeiros" (como disse o Mourão) que importam os conflitos é tão velha quanto o próprio Brasil. Image
Já na primeira constituinte a gente tem a elite senhorial brasileira apavorada em relação ao Haiti. Como Célia de Azevedo aponta, em "Onda negra, medo branco", o temor de que os conflitos vindos de fora acabassem com o Brasil ordeiro estavam na origem do país.
O @marcosvlqueiroz , que pesquisa sobre o tema, pode dizer melhor do que eu, mas a verdade é que isso resultava num paradoxo: o grosso da mão-de-obra vinha de fora, com milhares de homens e mulheres escravizados.
Read 13 tweets
6 Nov
Sinceramente, eu entendo essa ideia de igualar democratas com republicanos para quem não é americano. Mas há diferenças entre imperialismo em suas formas mais fascistas e um imperialismo que se mostra como "não-imperialista".
A diferença se dá na nossa própria correlação de forças políticas. Sem Trump, Bolsonaro poderia se tornar o fenômeno político que se tornou? Talvez sim, mas seria por outros meios e caminhos.

Trump e o trumpismo alargaram o campo do possível na política dos EUA.
E, consequentemente, em toda a América Latina. O chamado "populismo de direita" ganhou representação política em quase toda América do Sul, ainda que só no Brasil e nos EUA ele triunfou eleitoralmente.
Read 9 tweets
1 Nov
O que mais me impressiona é que no tom da matéria, o Jones representaria toda a esquerda radical (que aparentemente é tão inofensiva que tiveram que publicar uma matéria sobre ela).

Faz mais de 15 anos que tô nesse bonde.

E nenhum desses anos eu defendi ou relativizei Stalin.
Sabem por quê? Porque a esquerda radical é gente pra caralho (tá, não é, mas metaforicamente, é muito mais plural que essa caricatura que pintaram aí).

Eu me vejo muito mais próximo do Safatle nessa e a pergunta dele parece ser boa para ser retomada:
O que se ganha colocando toda a esquerda radical no mesmo barco, sendo obrigada a falar o que pensam sobre socialismo real???

A porcaria do Novo tem uma van com a Thatcher. O El País foi perguntar para o Amoedo se ele também é fã do Pinochet?
Read 7 tweets
21 Oct
Sobre influencers na história, queria dividir um "causo" aqui:

Era 2013, eu dava aula em duas escolas particulares enquanto estava no doutorado. Entre trabalho, pesquisa e deslocamentos, todo dia era umas 10-12h fácil.
Certo dia eu chego numa turma de segundo ano e um dos alunos, que gostava de mim inclusive, chega com o Guia Politicamente Incorreto, do Narloch, perguntando o que eu achava.
Não entrei de sola, mas falei que menosprezava qualquer publicação que dissesse que eu ensinava errado meus alunos.

O guri seguiu insistindo, até que um colega dele se irritou e falou: "mas cara, tu acha que o sôr tá mentindo pra ti, é?"

Corta essa cena.
Read 11 tweets
19 Oct
Todo o fui do @hugoalbuquerque traz ótimos pontos para o debate, mas esse em particular eu considero o mais tenso.

Comentei isso semana passada pensando no Trump, mas vale pra Bolívia também: o que fazer quando o fascismo já se instalou no Estado?
A alternativa mais óbvia (processos, exonerações, ou até acordos de anistia) requer um imenso capital político. Mas é necessário justamente para isolar setores que serviram ao golpe e garantir que eles não possam mais agir na ilegalidade.
Tem também toda a questão do lítio, que é a principal cartada boliviana na economia global hoje. É preciso suspender os contratos do governo Anez, o que significa ter que afirmar sua própria ilegalidade.
Read 7 tweets
18 Oct
É um bom debate, mas faço a ressalva, de historiador, que isso é também um projeto de construção de memória.

O capitalismo da ditadura foi campeão mundial em acidente de trabalhos, como bem aponta e analisa a minha colega, Ana Beatriz Silva: periodicos.ufsc.br/index.php/mund… .
Uma boa hipótese para pensar aí é comparar com outras ditaduras latino-americanas, como Chile e Argentina, para ver se há semelhante nostalgia popular de "emprego e segurança" que se criou no Brasil.
Mas meu ponto é que a ditadura foi mobilizada por uma série de candidatos e jornais nos anos 80 e 90 como referenciais nesses campos, apagando assim a memória coletiva e traumática de uma superexploração da força de trabalho.
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