E a "fraqueza" dos doentes que tiveram COVID-19, o que seria?

Um estudo bem interessante que traz dados de fisiologia.

- 110 pacientes que não foram pra UTI nem receberam ventilação mecânica, avaliados 90 dias após alta hospitalar

- Causa frequente da fraqueza: muscular
Após 3 meses, ao menos 74% das pessoas tinham algum sintoma importante, destes 50% tinham também falta de ar.
O teste cardio-pulmonar completo foi parado em 94.6% das vezes por fadiga, falta de ar em 3.6% e arritmia em 1.8%.

35% tinham capacidade reduzida de consumir oxigênio: 21% por causa respiratória "pura",
24% cardiovascular "pura",
8% resp e cardio e
47% muscular
Esse é um estudo interessante, que adiciona ao que sabemos de sequelas de COVID-19. Isso também já sabemos de outras infecções graves, inclusive pneumonia.

Vale lembrar que os com maior acometimento pulmonar podem ter sido excluídos por haverem morrido ou por necessitarem
ventilação mecânica. É uma clínica de reabilitação na Itália, o que pode também ter selecionado os doentes, porém dizem que todos foram avaliados, não somente os que estariam pior ou que foram referenciados.
Eu usei termos para a população geral. Cada termo tem uma definição. O teste também traz muitas informações super valiosas que não é meu campo de trabalho. Peço ajuda de quem quiser ler e ilustrar.

@FredLAFernandes @IvensGiacomassi
A chance de melhora ao longo do tempo é grande. Mas nem para todos, depende de vários fatores, inclusive de reabilitação, dieta, capacidade prévia, etc. Quanto mais passa o tempo, mais demorado se torna a recuperação, e aqui já eram 90 dias após alta hospitalar, que é um marco.
Já desfechos a longo-prazo de doentes graves sim é umas das minhas áreas de pesquisa e pretendo voltar ao tema.

Dentro da metodologia, é muito interessante o possível viés de seleção implicado, dado que os muito graves e os nada graves, muitas vezes perdemos seguimento.
E os que evoluem a óbito não conseguimos avaliar muitas variáveis, de provas funcionais a qualidade de vida, etc.

Em doentes de UTI, além de óbito, avaliamos capacidade funcional, prejuízo financeiro, volta ao trabalho, etc.
O artigo em pre-print

medrxiv.org/content/10.110…

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27 Nov
Pessoal, vamos se proteger, proteger a quem amamos e proteger a nossa sociedade.

A volta de casos no Brasil é bem clara em muito locais. Casos hospitalizados e graves. É a mesma história que já contamos aqui desde Março: o vírus está circulando e temos muitos susceptíveis.
A prevenção sempre será a melhor ferramenta que temos para combater a pandemia. E quem acompanha desde o começo sabe: as mesmas mentiras ou ilusões voltaram. Muitas são de má fé, mas outras são porque estamos cansados e queremos esperança. Só que
o vírus não lê nem entende nossa linguagem. Ele só se reproduz, tem muitas vantagens do lado dele, se transmite, infecta, produz mais vírus e segue o caminho dele. Já conhecemos muito dele, e as dinâmicas já conhecemos de muitos anos de estudo. Melhoramos algo em tratamento.
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20 Nov
Uma boa notícia 😷:

Um estudo quantificou a proteção para reinfecções de quem já produziu anticorpos para COVID-19

✅ 4 hospitais no Reino Unido
✅ ~12 mil profissionais da saúde seguidos por 6-7 meses

✅ Quem tinha anticorpo prévio: ⬇️ menor risco de reinfectar / ter sintoma
Método resumido: este estudo fez uma coorte no baseline e seguiu majoritariamente profissionais de saúde, tendo testes regulares e screening. Também diferenciam se os testes foram de screening (assintomáticos) ou se as pessoas tinham sintoma.
Método resumido: A análise principal foi ter anticorpo IgG contra a spike como exposição da coorte no baseline (grupo com IgG x grupo sem IgG). Também análise complementar para IgG contra o nucleocapsídeo. Tb analisaram se o título do anticorpo poderia trazer maior proteção.
Read 14 tweets
16 Nov
Estamos todos felizes com mais uma vacina mostrando eficácia (provável: espero publicação de dados e fim de seguimento)

Três pensamentos rápidos:
1 - Como pode ser outra vacina ter eficácia >90%?
2 - O que estamos protegendo com a vacina?
3 - Como vamos distribuir?
#useMascara
Otavio, mas temos que esperar a publicação final e seguimento para comemorar de verdade? Sim

Você já viu mudanças, ou quando sai o artigo, as coisas não eram assim como falado na press-release? Sim

Devido ao que estamos vivendo no mundo, porém, seria improvável que as empresas
estariam blefando, por várias razões.

Também é bem provável que mesmo ao final do seguimento a eficácia se mantenha, os modelos bayesianos que se construíram simulando o que relataram mostram boa margem (o trial da pfizer é baysiano).
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6 Nov
Vou fazer um fio com um ultra-resumo das últimas novidades da pandemia e COVID-19 👀

💟 Testes
✅ Segunda onda Europa
✅ Epidemiologia
✅ Tratamentos
✅ Mutações
A vida está bem corrida e vou listar algumas fontes e artigos. Para muitas coisas, vários fios excelentes já foram feitos. Também desculpa por não conseguir responder aos contatos em tempo hábil.
💟 Testes
A grande novidade dos testes é o teste rápido de antígeno. Ele deu a largada na pandemia meio que enferrujado, a maioria não acreditando muito no seu potencial. Porém, ele não foi deixado de lado e fomos estudar-lo melhor. Aqui um ponto que falo desde o começo é que
Read 31 tweets
1 Nov
E a reação cruzada da sorologia para Sars-CoV-2 e Dengue?

Debatemos bastante no começo mas ainda faltavam dados. Um fio breve sobre o que venho lendo:

- Ainda faltam dados
- Parece existir reação cruzada, principalmente para testes rápidos e IgM
- Temos alguns dados brasileiros
Neste estudo, que avaliou 11 testes disponíveis para COVID (vale a pena ver a performance dos mesmos), testou-se também 20 amostras de dengue do começo de 2019, ou seja, antes da epidemia (ie, não tem como serem COVID)

medrxiv.org/content/10.110…

Parabéns às autoras e autores.
- 20 casos de dengue foram testados com 4 kits de COVID

Alguns testes tiveram especificidade de 80%, ou seja, casos sabidamente dengue e não covid, deram positivo para covid, especialmente IgM. Se isso se confirma, podemos ter sim falsos positivos nos inquéritos sorológicos e tb
Read 20 tweets
28 Oct
Uma linhagem do Sars-CoV-2 vem predominando na Europa

-Inclui mutação da Spike
-Não sabemos se é um fenômeno porque ela consegue se transmitir mais facilmente ou fatores epidemiológicos
-Ainda sem dados se causa doença mais/menos grave
-Aparentemente se expandiu da Espanha
Aqui um fio de um dos autores, o grande Iñaki @icoes

Embora ela venha predominando, ainda existem muitas linhagens circulando
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