Papo rápido sobre autodefesa. Os mais velhos que enfrentaram latifúndio, polícia, jagunço nos tem ensinado algumas coisas. A primeira ilusão são as armas. Bagunçam organizações e não garantem muita coisa sem uma organização consolidada e com uma formação vigorosa. O que defende?+
Eles nos têm ensinado que o fundamental da resistência é conhecer o território, ser amigo e familiar dele e ter abundância alimentar. Quem vai defender ficará afastado da tarefa de produção e manutenção da sua existência e de sua família. Então precisamos alimentá-los.+
Com reserva de comida, nós podemos sair do território, acampar em outro lugar, voltar, sair, ocupar outra terra até consolidar o processo de vida na terra almejada. E não existe forma eficaz de defesa que ignore a comida das guerreiras e guerreiros.+
O elemento interior é a dedicação à vida de quem defende. Veja, se você come água, se você faz reggae pesado, se vc tem vício em alguma droga, vc tá de viagem e não pode sentar neste assento. Vc bebe e no bar fala uma merda, morrem companheiras e companheiros.+
Então eles nos têm ensinado que cuidar da gente é tarefa de quem vai dedicar-se de coração e de corpo ao povo. É sem massagem e é de verdade. Então, malha, mano, mas pensa que a defesa é ter comida, pq qd a fome chega, é isso que mantém nosso povo sem trair e desistir.+
Por fim, larga a ilusão aventureira. Não dá pra ir ali e voltar com essas coisas. A luta dos povos atravessa nosso coração e a gente, portanto, se dedica a isto todos os dias, de quando acordamos a quando descansamos. E sem um profundo amor pelos povos, nada ocorre.+
Exato, se tens treinamento e ferramentas e não nutre-se de amor pela causa, daqui a pouco você tá enfrentando liderança pq se acha o tal. Estas coisas nos atrasam muito. Pega a visão das coisas simples e fundamentais. Daí vamos!
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Não existe 20 de novembro a ser comemorado. É um lamento a morte de Zumbi e não ter no meio do Brasil uma Palmares para fazer os brancos e este Estado genocida temer. Nossa tarefa histórica? Fazer Palmares novamente. Não no simbólico, mas no concreto.+
Ninguém ache que o ódio anti-preto vai parar a cada ajuste de comportamentos para que as pessoas sejam menos racistas. Isto não existe, não temos histórico disto no planeta. O racismo estruturou toda a sociedade capitalista. Não se arranca a estrutura moldando comportamento.+
Palmares é terra! Mas é sobretudo terra comandada pelos povos pretos numa grande aliança com toda sorte de marginalizados e perseguidos. Acaso não tem chegado a hora de juntarmos nossos povos perseguidos? Ou vocês creem que esta cidade racista tem jeito?+
"Apartheid simbólico" é RONDESP cortar a cabeça de um morador da periferia? Ou tiro de fuzil que matou Micael de 12 anos no Nordeste de Amaralina? Ou o outro tiro que matou Railan de 7 anos no Curuzu? Agora por que a futura vereadora fala isso? A negociação, né?+
Não tem que desracializar a guerra racial que ocorre em Salvador. Não tem que suavizar na palavra. Deixar de falar racismo feito pelo Estado ou ódio anti-preto. Não há simbolismo algum. Há uma materialidade que vai desde a pobreza material até a bala ceifando corpos pretos.+
Porém esta suavização do debate racial encanta as classes médias e elites que reinventam diariamente que podemos reformar condutas raciais para superar um problema estrutural da sociedade. Vocês me perdoem, mas parecem estar tentando impedir a destruição da estrutura racial.+
A crise se alastra na esquerda. Qualquer renovação da representação política não é um bom parâmetro. Temos que olhar à baixo. Os efeitos da Força Nacional contra o MST ainda são sentidos aqui. Assentamento buscando titular terra e sair do movimento? Tá rolando.+
Mais do que isto, muita liderança de base se elegendo fora de partido de esquerda por aqui, muita liderança de base em partido de esquerda ajudando a eleger políticos profissionais. O impacto disto será sentido nas próximas semanas nas reuniões.+
O pior é que sabemos que Peru, Bolívia, Chile e até EUA e Espanha aos seus modos, mostram que a derrota da direita se deu antes na rua. Nós, portanto, estamos longe da construção de uma grande jornada de lutas. Se o bolsonarismo perdeu, a direita escrota expandiu na eleição.+
Olha, eu peguei inginja de "decolonialidade". Tipo, Boaventura é português, branco. Ele ficou conhecido e ganhou dinheiro com epistemes ou ideias dos povos do sul global. Convenhamos: tem algo mais colonial que um português ganhar dinheiro explorando o sul global?+
E tipo, tem muito material massa ali. Muito texto que ajuda. Mas é isto: fruto de uma falsa novidade. Fruto da evidenciação de um outro que segue sem o poder de enunciação que Boaventura tem. E eu li Walter Mignolo e essa turma. Tem coisa boa demais. Porém a turma se perde.+
Olha, num dá pra decolonizar na ideia e não ofertar um referencial que pense a terra, pq é desde a terra que a colonização é feita. Cê imagina alçar um subalterno à condição de referência na academia enquanto seu povo é desterritorializado? Que inversão é essa?+
Mais uma vez a gente tá vendo esta situação de usar o sistema epidérmico-racial que desvaloriza e prepara o extermínio de nosso povo para criar fratricídio e expor gente que faz luta social anti-capitalista. Vai parar? Não vai porque o objetivo desse "novo empoderamento" é esse.+
Quando nós falamos de "empoderamento", nos remete logo a poder. Eu teria total acordo se falássemos de forma clara sobre melhoria das condições de existência, diminuição dos danos psicológicos e emocionais em ser preto ou preta e etc. Mas empoderamento vem de poder. Pera lá! +
Ver na TV Aberta os branco levantando a bola para uma intelectual preta cortar expondo ainda mais uma lutadora social como a @letparks, mostra que este "empoderamento" trata-se, pelo contrário, de impedir o acesso ao poder real (acesso ao Estado) de quem está em luta.+
O capitalismo só existiu por ter desvalorizado os bens naturais na mesma medida em que tornou-os precificáveis e vendíveis aos pobres que tinham acesso a isto numa relação mais harmônica com o meio ambiente. Água, carvão e madeira foram reservados para venda.+
Aquela coleta de galhos secos passou a levar campesinos e ex-campesino à cadeia na origem do capitalismo. Isto explica o movimento contraditório de dar preço na natureza, mas desvalorizá-la. Para o pobre a madeira agora teria preço, mas para os ricos o bosque era acessível.+
E assim tem sido. Se aplicássemos o valor do petróleo considerando o tempo que a natureza leva para fazê-lo e o conjunto de matéria orgânica necessária para produzir, vejam vocês, nós não o usaríamos por ser muito caro. Se aplicássemos o valor de um floresta no clima, o mesmo.+