É o que separa a atuação do São Paulo contra a LDU, que custou vaga na Libertadores, do 4 a 0 no Botafogo que reforça a liderança do Brasileirão.
O elenco é o mesmo, o técnico é o mesmo....
Sabe o que mudou?
O tempo. Logo ele, que teimamos desrespeitar. Segue o fio👇
Para muitos, futebol é um exercício simples onde 22 pessoas chutam uma bola até fazer o gol. Então basta contratar as melhores pessoas em cada tarefa dentro de campo (que são as posições), juntá-las e pronto! O time vence. Não é errado pensar assim, parece uma conclusão lógica.
Só que precisamos lembrar que o futebol é uma atividade humana. Seria muito mais fácil se não tivessem pessoas na equação, com suas diferenças, visões e mentalidades diferentes. Então não basta simplesmente juntar os bons. É preciso que eles formem um time.
E quando falamos em time, uma palavra mágica entra em cena: processo. Processo é uma série de etapas que algo precisa passar para acontecer. Tem começo, meio e fim. Jogar futebol não é levar a bola da defesa pro meio, chegar no ataque e finalizar? Olha aí as etapas, tarefas....
Se futebol é um jogo de processos, executados por pessoas com suas diferenças, qual é a única coisa que pode fazer todo mundo entender quais são as etapas e como executá-las para chegar o objetivo final?
Simples: tempo de trabalho. Treino. Derrota. E mais repetição até entender.
Desde o ano passado, Diniz pensa a primeira etapa de construção do São Paulo com dois meias na linha dos zagueiros, como Tchê Tchê faz aqui. Ele quer que os laterais fiquem mais no ataque e o meio se junte por dentro. Eis o processo. Falta executá-lo.
Na imagem acima, todo mundo executa a etapa. Só o Hernanes que demora a circular por dentro (nas costas da pressão do River).
Se há processo, há multidependência. Cada ação interfere na ação do companheiro.
Essa demora do Hernanes faz Tchê Tchê levar a bola até o lado.
O zagueiro encaixa no lateral (que executou seu papel e ficou aberto). Como a bola passou do meio, o time entra numa outra etapa: a de criação.
Tanto que o lateral recebe a bola, vira o corpo e irá criar a jogada aos companheiros. O que ele vê na frente é uma falha de processo.
Sabe qual é a falha? Olha a posição corporal e local do campo em quem está perto da bola. Simplesmente não dá pra continuar a troca de passes, porque não há apoios (ou opções de jogo) seguras o suficiente para impedir que o River retome a posse.
Então o lateral opta por jogar em Igor Gomes. Ao fazer isso, ele se preserva do risco de driblar ou correr para a área, resolvendo um problema que o time não resolveu. É uma opção segura, que o resguarda diante do não cumprimento do processo que o time deveria fazer.
O Igor recebe e vira o corpo pra proteger. Uns segundos depois, o Sara entendeu que era hora de dar apoio e foi lá e virou o corpo pra receber o passe. Gabriel Sara entendeu o processo, só não entendia que tinha que executar esse movimento mais rapidamente pra cumprir a etapa.
Tática é a coisa mais humana que existe. É ela que explica quem está ou não está dentro do processo. Quem precisa melhorar sua atitude, quem se arrisca mais que o necessário, quem se protege. Veja o Hernanes, que não dá apoio ou Igor. E o lateral, que continua na posição do passe
As pequenas falhas de cumprimento das etapas fazem o São Paulo tocar para trás, não invadir a área do River num jogo que terminou empatado.
É natural pedir a cabeça do técnico. Afinal, ele é o responsável.
Só que o técnico só pode corrigir os erros se ele tem tempo.
O São Paulo fez a mesma jogada contra o Botafogo. Ele é apenas melhor executado porque Tchê Tchê e Luan tiveram tempo pra avaliar os erros e corrigir no próximo jogo.
Agora os meias sabem que precisam estar mais próximos e não longe como o Hernanes lá em cima.
Isso faz com que o zagueiro possa avançar mais. Dá mais confiança pra ele se arriscar como o lateral não arriscou na outra jogada.
Outro que entendeu melhor o processo desse jogo ultra apoiado do São Paulo é o Igor Gomes, que se aproximou como não fez há meses atrás.
Aliás, pra quem quer saber mais sobre jogo apoiado, expliquei no Redação SporTV como que funciona.
O zagueiro dá a bola ao lateral como contra o River.
AGORA OLHA A DIFERENÇA.
O time inteiro entendeu que precisa dar apoio pro lateral. Todo mundo virou o corpo e aproximou.
Reinaldo tem quatro opções de passe. Contra o River, o lateral tinha apenas uma.
Não teve nenhuma mágica. Não teve mudança de jogador. Não teve nada além do poder do tempo, do treino e da repetição.
O que o Diniz faz no São Paulo é básico: treina o time, depois vê no vídeo o que deu certo e o que não deu e no outro dia conversa e treina pra arrumar.
A diferença do Diniz que "não tinha capacidade pra estar no SP" com o Diniz "maravilhoso e líder" é só o tempo que ele teve para fazer esse trabalho. Se ele sai, viria um outro técnico, com uma outra visão...
E o time precisaria de tempo pra entender essa visão.
Nenhum jogador gosta de perder. Ele apenas faz coisas que estão mais ou menos conectadas com o restante do time.
Aquele cara que chuta a bola de longe quando poderia passar quer vencer como o torcedor. Apenas a ação dele está desconectada do time.
Futebol é processo porque é a soma dessas ações, dentro de uma organização para cumprir as etapas pra chegar ao gol (ou defendê-lo), que faz o time vencer. E para entender isso é preciso de tempo, de paciência, resiliência...
Por isso técnicos precisam ficar no cargo.
Por quanto tempo? Não é exato. Imagino que um treinador precise ficar uma temporada inteira, assim ele comanda esse processo e o clube avalia se deu certo ou não. Vale pro Diniz, pro Guardiola, pro Abel e pro Luxemburgo. Precisamos ser justos. TODO MUNDO precisa de tempo.
Se o clube demite pelo resultado, contrata pelo nome, depois demite pelo resultado e vai trocando quando perde, ele não dá a chance desses processo se completar. É o que o Flamengo fez com Domènec, cuja troca não surtiu efeito algum em termos de resultado. globoesporte.globo.com/blogs/painel-t…
Passamos muito tempo discutindo qualidades individuais - se o cara é bom, se é ruim, se é campeão ou não. Isso é um desperdício. Precisamos discutir mais o tempo das coisas. Temos que falar mais sobre qual etapa do processo de construção de uma equipe que seu time está.
O Flamengo, por exemplo, acabou de começar um novo processo. Então as derrotas são quase que naturais, porque o elenco tá entendendo as ideias do Rogério Ceni, que em plena pandemia, não teve treinos o suficiente para corrigir e melhorar o time. globoesporte.globo.com/blogs/painel-t…
Já o Tottenham está com Mourinho há mais tempo, então o time já entende as ideias do treinador, está numa etapa mais avançada de desempenho e consegue cumprir o que é proposto e até mudar isso estrategicamente pensando num adversário, como o City. globoesporte.globo.com/blogs/painel-t…
O Vasco fez a opção de demitir Ramon no início do processo, sabe-se lá o porquê. Então aquelas ideias "ramonizadas" não tiveram continuidade, não puderam ser desenvolvidas e equipe entrou em colapso total.
Tiago Nunes foi demitido do Corinthians após uma derrota num clássico. E se ele tivesse ficado para desenvolver suas ideias, comandado esse processo para passar por cima da má-fase? Não deu muito certo trocar o técnico... globoesporte.globo.com/blogs/painel-t…
Manter o técnico no cargo no momento de maior pressão, quando o torcedor o detesta, é confiar no processo.
O São Paulo comprou a briga. Não sei se por planejamento, mas comprou. Deu o tempo pra Diniz corrigir até os próprios erros.
O São Paulo pode ser campeão ou não. Mas respeitou aquilo que há de mais humano, tão óbvio que nossa ignorância diária insiste em não ver: pessoas precisam de tempo.
Não dá pra colher resultados diferentes fazendo a mesma coisa. O São Paulo fez diferente. E é líder por isso.
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A expectativa não foi exatamente cumprida de imediato. Rogério perdeu três clássicos em quatro meses com o Fortaleza, sendo dois deles na final do Cearense de 2018.
A torcida pediu a imediata demissão de Rogério, chamado de estagiário e inexperiente.
Hoje é a 1º vez que técnicos portugueses se enfrentam no Brasileirão.
Para muitos é uma prova de como os brasileiros estão defasados...
Não é isso. Ninguém tá olhando para o que importa: educação. Nacionalidade não torna ninguém melhor. Ter lugar pra estudar sim. Fio👇
Você já parou pra entender como um país tão pequeno que é possível percorrê-lo de costa a costa em 4 horas e com pouco mais de R$ 10 milhões de habitantes (menor que São Paulo e Rio de Janeiro) exporta técnicos tão bons ao mundo?
Bom, tudo começa numa viagem em 1935.
Cândido Oliveira, membro da comissão técnica da Seleção na época, queria melhorar o time para classificar os portugueses para a Copa de 1938.
Ele viajou para Londres para um estágio no Arsenal, onde não chegou a trabalhar com Herbert Chapman, mas viu todo seu legado.
A coisa mais difícil que tem é um time executar a estratégia do treinador à risca...
Pois foi exatamente o que o Palmeiras fez hoje.
O time seguiu, do início ao fim, a arapuca que Andrey Lopes pensou para surpreender o Atlético-MG de Sampaoli. Vamos aos detalhes no fio 👇
Andrey Lopes sabia que o Galo ia começar o jogo com uma postura propositiva e com três jogadores na saída de bola.
Quem faz o desenho varia, e muito, mas a estrutura é quase fixa com Sampaoli: três fazem a saída, dois ficam à frente e mais cinco se postam ao ataque.
Mais importante que o desenho é entender o porquê dele. Se pergunte mais o porquê das coisas.
Por que o Sampaoli gosta desse 3-2-5? Simples: ele quer superioridade numérica em duas etapas do jogo: iniciação das jogadas e finalização, como o campinho mostra.
Uma falha infantil do Gustavo Henrique ou uma jogada planejada: como você vê o 2º gol do Inter contra o Flamengo?
Na real, tanto faz. Todo mundo tem uma opinião. Uma verdade interna.
O futebol nos faz crescer como seres humanos quando entendemos e não julgamos. Bora pro fio 👇
O que é errar?
Diz a filosofia que erro é quando o que nós temos de conhecimento sobre algo, seja lá o que for, não reflete a realidade. É um desacordo. Uma inadequação na cabeça.
Então pra entender o erro você precisa, antes de tudo, entender a realidade da outra pessoa.
É aí que complica. É difícil entender a realidade do outro. Exige esforço, desprendimento e leva tempo...não temos como ficar pensando sempre no outro.
É mais fácil julgar. Botar a realidade do outro na nossa perspectiva e dizer se está de acordo (certo) ou desacordo (errado).
Os espanhóis têm uma palavra que resume quando um time joga tão coordenado que fica difícil roubar a bola: automatismo.
Nada mais do que uma repetição. Um hábito.
A derrota do Palmeiras hoje (e outros jogos ruins) podem ser explicados pela falta desses automatismos. Fio 👇
Para entender o que o nome complicado significa, vamos simplificar as coisas: futebol é meio que lógico. Quem ataca quer levar a bola do ponto X até o ponto Y. Quem defende quer evitar que ela chegue até o ponto Y.
Atacar é levar a bola até os melhores setores para criar o gol.
Dá pra conduzir essa bola de muitos jeitos, como drible e passe. Para passar, é preciso que um jogador se desloque do ponto X até o ponto Y e receba a bola naquele setor. Pronto: o time conseguiu andar uns metros à frente
(bem básico, mas o importante é entender a lógica)
A ideia de "marcar" no futebol sempre esteve relacionada à ter jogadores que roubam a bola e são fortes.
Isso vem mudando.
Hoje, marcar é um exercício de tirar espaço do adversário, justamente o que o Flamengo não fez no massacre do Independiente Del Valle.
Segue o fio👇
Dá para tirar espaço de muitas formas: deixando quem está com a bola livre e cercando quem tá ao redor, impedindo que o passe seja feito, ou pressionando ao máximo a bola para roubar e não deixar o time jogar.
O Flamengo optou pelo segundo jeito.
Para ganhar em musculatura, o mecanismo de Dome foi fazer Gérson saltar o tempo todo no zagueiro com a melhor perna e deixar Gabigol, ainda fisicamente abaixo, no volante que fazia a saída de três. O @schmidt_felipe desenhou aqui.