Nesse ano assisti à série "Hollywood" e fiquei bem emocionado com a utopia que a série aborda com a história de pessoas negras que lutaram pelo sonho do cinema em plenos anos 50, com pós-guerra e segregação.
Aqui é onde a representatividade me emociona. Aqui que eu gosto de ver.
Quando colocamos (além da ficção) a representatividade no topo dos objetivos de luta, caímos na cilada do já batido jargão "pretos no topo", que nos desvia o olhar para entender que contra a opressão ao povo preto, derrubar "o topo" tem que estar no topo para nós, pretos. 🤯
Conquistas individuais, papéis de liderança e espaços de poder ocupados por algumas pessoas pretas podem sim significar alguma mudança conjuntural, mas não estrutural. Por isso "Pretos no topo" não faz sentido.
Combater racismo é mais do que pedir por negros "chefes", por mais funcionários negros e por novas políticas de segurança e proteção à propriedade privada.
É luta por educação, moradia, saneamento, saúde pública, segurança pública e combate à desigualdade social e econômica.
É diálogo com a rua, com o morro e a favela para priorizar as demandas de quem sangra, e não desmobilizando sua luta ao sentar com a aristocracia, ela sim que criou e subiu ao topo. Combater o racismo é combater esse sistema de poder neoliberal que é RACISTA!
Não quero fazer parte de uma luta que se dá por satisfeita com uma pessoa negra sendo destaque na TV e assistida por uma criança escondida dos tiros embaixo da cama para não morrer, mas se sentindo representada aquele que "venceu".
Meritocracia antirracista é mentira!
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O "Cala boca, negro" me doeu demais. Chorei com o Gerson, pois não foram poucas vezes que isso ocorreu comigo. Já tive risada como reação de um policial que perguntou minha profissão. Fui desautorizado inúmeras vezes.
Quase todos os meus apelidos da infância eram sobre minha cor.
Eu comprei um novo jogo e tô adorando. Queria escrever sobre ele, gravar podcast, pois é isso que eu gosto de fazer. Mas a minha existência é atravessada diariamente por violências, sejam elas sofridas por mim ou por outros.
Por isso eu escrevo textos sobre raça, por isso eu falo sobre ser negro, pois cresci em um lugar que só existe porque o racismo (pessoas e estrutura) decidiu, e outros continuam crescendo e sofrendo as mesmas violências.
No país que não há racismo e estão tentando o importar pra cá, completam-se hoje 110 anos da Revolta da Chibata.
Marinheiros negros tomam o controle dos mais poderosos navios da marinha e apontam os canhões para a capital do Brasil (Rio) após um marinheiro sofrer 250 chibatadas.
A marinha brasileira, relegada ao abandono após a Guerra do Paraguai, se vê em meio a um Brasil explodindo em revoltas nos primeiros anos da república, desfalcando cada vez mais as forças armadas. Dessa forma, negros e pobres são cada vez mais recrutados para a marinha.
Repleta de marujos negros, a marinha parecia não ter se tocado que a escravidão foi findada 22 anos antes, e importou para si não só tratamento, como condições de trabalho e também castigo semelhantes ao modelo escravista.
É parte do projeto desmobilizatório o contato frequente com a morte para a naturalização da mesma.
Eu cresci em uma comunidade onde parte significativa dos garotos que jogaram bola comigo, morreram em esquinas próximas à minha casa. Lá ficavam, e todos nós víamos.
A primeira vez é traumatizante, a segunda também, a terceira nem tanto, até acostumar. Não com a morte, mas com a tristeza, a frequência.
Eu vi primo, tio, amigo, colega, vizinho, todos morrendo nesse projeto que na prática não faz nada além de tirar vidas. Inclusive inocentes...
Esse povo que sofre com a morte, é o povo que não tem tempo pra pensar sobre ela. Precisa sobreviver, e sobrevive no limite. Jornadas imensas de trabalho, salários mínimos, às vezes menos que o mínimo.
É preciso comer. Há bocas para alimentar. Como processar os traumas?
Eu queria poder, no #DiadaConscienciaNegra , falar sobre nós. Sobre cultura, arte, poder e legado, e a eternização da nossa história por nós, que sofremos com uma historiografia embranquecida que fez de tudo pra nos apagar.
Mas somos atravessados por Carrefour e mais uma morte.
20 de Novembro deveria ser uma data para exaltar e relembrar Zumbi. Sua figura representando a luta, a resistência e estratégia de todo um povo que foi violentado e escravizado.
Mas, atravessados por mais um assassinato, Não foge à mente como Zumbi foi brutalmente assassinado.
Queria poder falar do samba, da sua identidade, ligação com o morro e seu poder formador da cultura brasileira.
Mas não temos esse direito no dia 20. Somos obrigados a lembrar que o samba denunciou violências, assassinatos e abandono do estado nos morros. Foi a nossa voz.
O @pretozeze falou no Roda Viva algo que penso há tempos e me chamou atenção: a falta de análise que gera a fala preconceituosa sobre o voto do povo carioca.
A atuação nas urnas do carioca do subúrbio, da favela, muitas vezes não se trata nem de voto, mas de pequenas conquistas.
O @pretozeze falou coerentemente sobre a atuação e influência de grupos armados.
A presença de tráfico e milícia é sintoma da ausência do estado. E a ausência é total. Presença física, serviços, estrutura.
A mudança de representação no Estado para muitas pessoas nada significa.
Para quem não tem saneamento básico decente e só tem serviços básicos precários (quando não negados), pouco importa o prefeito. Às vezes, importa um pouco, o vereador.
O cara da comunidade que vai botar um poste, fechar um esgoto, inaugurar um campinho de futebol com churrasco...
O Agente Laranja, usado pelos EUA, foi a arma de mais um dos vários crimes cometidos no Vietnã, o ambiental, até hoje causando impactos na natureza e na vida das pessoas.
Crimes contra a humanidade, contra a natureza e Guerra do Vietnã nessa thread com algumas imagens fortes:🧵
O Vietnã, dividido entre norte (Hanói) e sul (Saigon), tem a interferência dos EUA em seu processo de independência após os "Viet Minh", liderados por Ho Chi Minh, vencerem a França e os expulsarem do país.
Os EUA interferem patrocinando, treinando e enviando soldados para fortalecer Saigon.
O objetivo é anticomunista: derrotar Hanói, Ho Chi Minh e os Vietcongs (anteriormente Viet Minh)