Fui ler a entrevista do Paulo Guedes pra Veja e é uma das coisas mais ridículas que eu já vi (começando pela capa, claro - não é defensável um negócio desses depois dos últimos dois anos: é propaganda política, não jornalismo). veja.abril.com.br/economia/econo…
A mentira começa com a Reforma da Previdência: não foi resultado do esforço heroico do Guedes, mas em larga medida herdada do governo Temer e organizada pela centro-direita no Congresso. Se dependesse do Guedes e sua insistência na capitalização não tinha passado nada.
Esse cálculo sobre o congelamento dos salários do funcionalismo é absolutamente fictício, não tem como colocar número, porque ninguém sabe o contrafactual (quais aumentos viriam a ser concedidos).
Ainda mais ridículo é ele tentando rebater a constatação de que não entrega nada. Que acordo com a União Europeia, Guedes, o que nunca vai sair porque teu chefe taca fogo na floresta? É escandaloso ele chamar os críticos de negacionistas, considerando o presidente a quem serve!
O negacionismo do Guedes é sobre sua manifesta incompetência. Diz que “fez sua parte” e coloca a culpa nos militares, no Congresso, no “entorno do presidente”. Só o chefinho amado escapa.
Continua, como sempre, com seu papel de animador de torcida - só faltam os pompons - com previsões absolutamente delirantes. Inclusive referentes à pandemia, concordando com o chefe psicopata que ela está acabando.
Ao mesmo tempo, é mais pró-vacina, o que mostra ter consciência de que o negacionismo do chefinho é um crime e uma estupidez - e, mesmo assim, continua apoiando o Bolsonaro! Não surpreende, mas os adjetivos que tenho vontade de usar são impublicáveis.
Acho que o momento mais ridículo foi quando ele se apresentou como o que salvou Bolsonaro do impeachment, graças ao envio do Weintraub pro Banco Mundial. É um misto de arrogância, insegurança, canalhice e descolamento da realidade que seria cômico se não fosse trágico.
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@jcaetanoleite@historianess@ktgerbs@romulopredes 2) O abolicionismo nunca veio de cima, mas sim foi impulsionado por movimentos populares e interclassistas com intensa participação negra, que forçou os grupos dominantes a fazer algo. Como citei num Tweet, “Power concedes nothing without a demand”, disse Douglass.
@jcaetanoleite@historianess@ktgerbs@romulopredes A abolição no México foi feita por um presidente afro-indígena (depois fuzilado) e em todas as repúblicas hispano-americanas dependeu do apoio negro aos liberais; na Grã-Bretanha, a “Guerra Batista” dos escravizados em 1831-2 da Jamaica foi essencial.
O grande historiador inglês Lawrence Stone uma vez escreveu que processos importantes são multicausais, e certamente foi o caso da abolição. É politicamente interessante para alguns entender a abolição como resultado do cristianismo e do Iluminismo, mas é mais complexo que isso👇
O texto acima é um resumo disso no meu próximo livro. 1) O cristianismo era a gramática através da qual as pessoas expressavam sua visão de mundo, então era usado para tudo, tanto pelos radicais defendendo a transformação social quanto pelos conservadores que queriam preservá-la.
2) Então o cristianismo dissidente pôde ser usado para criticar a escravidão, pelo menos desde o século XVII. A tendência dominante foi, porém, sua legitimação, aqui como no mundo anglo-americano. Vide os trabalhos de @historianess, @ktgerbs e Zeron.
Não tenho opinião sobre a mudança de nome da ex-torre David Hume, mas também não entendo o pânico moral. Ninguém está propondo queimar os seus livros ou deixar de estudá-lo.
Mas só escrevi esse minifio por causa da ignorância (muito comum) do último parágrafo: @JoelPinheiro85, o Haiti aboliu a escravidão e condenou o racismo primeiro, graças à ação dos escravizados (e não do Hume ou do Smith), antes do Reino Unido sequer ter abolido o tráfico.
Eu leio e cito o trabalho do @CEClynch, e agradeço o tempo gasto em comentar nosso artigo. Pena, porém, que ele parece não tê-lo lido. Não vale a pena escrever uma tréplica, mas vou fazer apontamentos sobre o Império, deixando as considerações metodológicas para o @phpacha.
Sob o disfarce de um “comentário”, Lynch nos critica por assumirmos uma visão plebiscitária: Império x República. O curioso, porém, é que não fazemos um único elogio à República: chegamos mesmo a mencionar seus fracassos no texto como uma explicação para o apelo da monarquia.
Já que o comentário não é ao nosso texto, vamos aos equívocos de Lynch. Ele começa com uma “incrível salada” para poupar o Império: recua para a Colônia e mistura bandeirantes (cuja mitologia só foi cristalizada no séc. XX) e senhores de engenho (constituintes de outra mitologia)
Não deveria responder em respeito à regra dos dois desvios (@lmonasterio), mas... 1) Não dizemos que a monarquia foi a culpada pela escravidão, mas que foi um regime que viveu em simbiose com ela 2) Não passamos pano para os problemas atuais, explicitamente reconhecidos no texto
3a) 1822-1850 foi o auge do tráfico transatlântico para o Brasil: quase 1.440.000 africanos escravizados foram embarcados para cá, mais que em qualquer outro período equivalente.
Fonte: slavevoyages.org.
3b) A 1a tentativa de acabar com o tráfico atlântico foi em larga medida resultado da pressão britânica, que culminou no tratado de 1827. Entretanto, não foram tomadas medidas efetivas, de modo que após um período de declínio o comércio se recuperou para abastecer a cafeicultura.
O @cenevivaricardo me fez ficar pensando na bibliografia do curso sobre História da Desigualdade (séculos XIV-XXI), então vamos procrastinar um pouco em vez de escrever.
Depois, Europa Moderna com o grande Braudel, pareado com o Piketty (cap. 2). Eu gostaria de passar o @guido_alfani, mas acho que ele não tem nada em português ou espanhol. Ele e o Jaime Reis ficariam como leituras complementares.