Alberto Fernandez teve um 2020 infernal: herdou um país em forte crise econômica e, ainda, foi atravessado pela desorganização regional promovida por Bolsonaro e pela Pandemia de Covid-19. Entre percalços, termina o ano muito bem com a aprovação do aborto legal (1/5).
Alberto acertou na quarentena radical, mas não suportou a pressão pela reabertura, que saiu desorganizada, mas agora tenta compensar com parcerias para vacinação com mexicanos e russos, o que pode dar muito certo. De todo modo, ele saiu na frente do Brasil (2/5).
Na política externa, ele foi até onde pode, estabeleceu boas pontes e se mostrou um interlocutor legítimo, sensato e racional, mas não pode colher ainda tantos frutos. Ainda assim, é ele que Biden, Macron ou Putin recorrem para falar na América do Sul (3/5).
Houve um grande acerto no que toca à reversão do golpe na Bolívia, um tiro na água na disputa pelo BID e, por fim, um erro grave no toca a Venezuela e o relatório Bachelet. Mas ele aguentou bem nas cordas os problemas do bolsonarismo (4/5).
As duas grandes vitórias de Alberto foram a tributação de grandes fortunas e a legalização do aborto, duas pautas delicadas, que ele conseguiu vergar ao seu favor, dando uma tendência progressista (5/5).
P.S.: Alberto precisa, urgentemente, promover a estabilização da inflação. Se fizer, se consagra, se não terá dificuldades pelo desgaste, mas ainda assim, só encontraria um adversário à altura em Larreta, o prefeito de Buenos Aires, um direitista com bons modos.
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Os EUA tentaram dar uma volta na China, derrubando o sistema local no final dos anos 1980, mas uma vez perderam a briga, se distraíram com a queda da URSS e o ensaio de demonização de Pequim ficou para o futuro, que é hoje (1/7).
O que o expansionismo desenfreado da era Clinton demandava era da China como exportadora de produtos baratos por um lado, mas também como compradora de títulos da dívida americana por outro. A escalada parou por ali (2/7).
Editoriais do NYT como este foram congelados e trazidos de volta só há pouco, por Donald Trump (3/7).: nytimes.com/1991/09/22/wee…
Doria, é claro, mascarou a pandemia de Covid-19 durante as eleições e isso foi bem grave assim como o retorno precipitado ao trabalho e tudo mais, MAS, na questão da vacina ele está certo. Inclusive, as DUAS leis que Bolsonaro sancionou sobre a pandemia autorizam ele (1/5).
A ANVISA É OBRIGADA a autorizar a vacina que venha a ser importada: "§ 7º-A. A autorização de que trata o inciso VIII do caput deste artigo deverá ser concedida pela Anvisa em até 72 (setenta e duas) horas após a submissão do pedido à Agência, (...)" (2/5).
"(...) dispensada a autorização de qualquer outro órgão da administração pública direta ou indireta para os produtos que especifica, sendo concedida automaticamente caso esgotado o prazo sem manifestação" -- se não vier a autorização em 72 horas, ela é desnecessária (3/5).
A inflação vai bombar em 2021 e, a bem da verdade, o processo de alto de preços tardou a acontecer, por vários fatores. Entenda (1/7):
O Brasil possui aluguéis e grandes tarifas de serviços essenciais, como energia, atrelados a chamada correção monetária, isto é, à compensação pela inflação registrada em um ano, calculada em geral por um índice ligado a produtos que variam bastante pelo dólar (2/7).
Ao contrário de um país sério, o Brasil vários índices de inflação. O oficial, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), não é utilizado para a aberrativa "correção monetária", algo que fazia sentido na época da hiperinflação, mas não hoje (3/7).
As eleições parlamentares na Venezuela seriam vencidas pelo governo, então a oposição fez o de sempre nessa situação: boicotou para deslegitimar o pleito. O que deveria ser uns 50% por causa da pandemia de quórum virou 30% (1/7).
Levamdo em consideração o boicote e a pandemia, o comparecimento em 2020 foi maior do que 2005, quando também o ocorreu boicote da Oposição, que registrou 25% de quórum (2/7).
Em 2015, a oposição venceu a disputa com 74% de quórum, mas agiu apenas para derrubar Maduro, gerando uma crise grave que debelou um processo constituinte inconcluso, que serviu para a Assembleia Constituinte travasse a Assembleia Nacional (3/7)
Li o tal texto do Pablo Ortellado acusando Caetano de Stalinismo e isso é risível, não apenas pelo fato em si, uma vez que Caetano nunca defendeu Stalin, como pelo fato de ser...o Caetano, a figura mais não-stalinista do mundo. Isso diz muito sobre Pablo do que sobre Caê (1/5).
Sem querer ser monotemático, mas a gente precisa falar sobre isso: Caetano desembarcou do Liberalismo e falou dos problemas do Liberalismo. Hoje, falar dos crimes do Liberalismo vale à acusação de "stalinista" para qualquer um no Brasil (2/5).
Sintomático, intelectuais liberais acusando o golpe e atacando qualquer um que aponte o quanto a violência liberal não é normal -- e falamos de colonialismo e racismo (3/5).
Quando eu falo que é fundamental localizar o liberalismo no século 19, onde de fato ele nasceu, não é só preciosismo e precisão, mas é o cuidado de impedir que os liberais se apropriem da tradição iluminista como eles fazem para se legitimar (1/7).
Esse erro metodológico se chama "anacronismo"; Na época de Locke sequer havia a palavra liberalismo, mas a questão é que esse erro na verdade atende a uma demanda ideológica e de classe (2/7).
De novo, pela milionésima vez, o Liberalismo não é uma invenção britânica, mas Ibérica: é uma questão da Espanha e Portugal imediatamente posterior às invasões napoleônicas e que tem a ver com (1) não retorno ao absolutismo, mas (2) recolonização das Américas (3/7).