Quando um time joga mal, um clichê comum é dizer que "falta padrão de jogo". Que o time é uma bagunça.
É o que acontece no Flamengo.
Mas não é pelo tal do padrão. O Flamengo tem uma ideia de jogo, até que bem clara. Só que ela não tá sendo executada como deveria. Segue o fio👇
Primeiro de tudo, o que é esse tal de padrão de jogo?
Diz o dicionário que o termo "padrão" significa "Aquilo que serve para ser imitado como modelo; protótipo".
Logo, padrão é algo a ser seguido. Algo para se espelhar e REPETIR ao longo do tempo.
Padrão é algo para você se basear.
Um padrão de jogo é um posicionamento ou movimentação que os jogadores devem seguir nos momentos do jogo (ataque, defesa, transição) para todo mundo chegar no mesmo objetivo: a vitória.
Um dos padrões mais nítidos do Flamengo de Rogério Ceni é a saída de três, com o Arão vindo entre os zagueiros e o Gérson logo na frente, liberando os laterais para jogar mais à frente quando o time inicia as jogadas.
Sim, isso mesmo...
É o mesmo movimento da era Jorge Jesus!
Esse mecanismo aconteceu várias vezes nos jogos do Flamengo com o Rogério. Foi uma das primeiras coisas que ele impôs ao time. Dava pra ver já na estreia.
Olha aí, acontecendo de novo contra o Flu...
E acontecendo de novo hoje, na derrota para o Ceará.
Tá vendo que tem padrão de jogo? Que tem ideia? Isso aí é fruto de treinamento.
Não dá pra dizer que não tem padrão, que é uma bagunça...estaríamos desrespeitando a única verdade no futebol: o jogo.
O problema é que esse padrão não tá produzindo os resultados que ele se propõe. É como se o caminho traçado por Ceni não levasse ao destino.
E aí a gente tem que investigar as razões disso...
De cara, são duas razões:
- lentidão nos movimentos
- perdas de bola em excesso
Aqui, o Flamengo inicia a construção da jogada com a saída de três e Gérson encaminha a bola a Filipe Luís. Arrascaeta tenta virar o corpo para criar uma triangulação por aquele lado.
Enquanto isso, o restante do quarteto se concentra por dentro, perto da área.
Padrão.
Filipe Luís vê duas coisas acontecendo na frente dele:
Arrasca corre em X
Bruno Henrique aparece
E ele decide tocar pro Bruno Henrique, que enfrenta um adversário no 1x1 como foi tantas vezes em 2019.
O Flamengo seguiu o padrão. O que deu errado?
Primeiro, a interação nesse lado esquerdo foi tão lenta que o Flu teve tempo para se organizar e impedir que a área ficasse desprotegida. Tem um jogador chegando na cobertura do Bruno, lá na direita.
Segundo, o Bruno não consegue dar a passada longa e driblar...e perde a bola.
Mesma coisa contra o Ceará.
Saída de três feita, laterais projetados, meias na entrelinha...Gérson recebe e vai tabelar com o Arrasca. Pedro, inteligente que ele, vai fazer o pivô e começa a correr próximo de Arrasca.
Só que a troca de passe é tão lenta que o Fluminense "adivinha" o pivô do Pedro e se antecipa. E o Bruno Henrique, que deveria estar se projetando naquele espaço, fica parado.
Esses erros estão acontecendo cada vez mais...principalmente quando o Fla tá com a posse de bola.
É curioso ver que a ideia do Ceni, APENAS A IDEIA, não é tão distante do que JJ queria para o time.
Vocês devem estar lembrados, mas em 2019 o Gabigol cansou de sair da referência e vir atacar espaço. E o Rodrigo Caio cansou de avançar, como na imagem.
Éverton Ribeiro recua entrelinha, dá um toque de primeira e o Gabigol ataca o espaço....só que tudo tá mais lento. O adversário consegue adivinhar e neutralizar.
Afinal, atacar é um grande exercício de gerar dúvida no adversário. A própria ideia de jogo existe pra isso.
É por isso que precisamos sair desses clichês e entender o que acontece no jogo. Só assim a gente sabe o que tá de errado e faz uma avaliação mais pautada na realidade.
E hoje a realidade do Flamengo não é a de um time que está disputando título.
É a de um time em transição.
Transição de ideias e métodos. Afinal, o clube não se preocupou em documentar o que Jorge Jesus fez e criar minimamente um legado. Por mais que o português ganhasse títulos, ele não deixou nada que pudesse ser copiado em campo para outras temporadas. globoesporte.globo.com/blogs/painel-t…
Aí vem o contexto: pandemia mundial, técnicos recusando....
O Flamengo chegou em Domènec Torrent. Um adepto do Jogo de Posição, com uma personalidade diferente da de JJ. Nem melhor ou pior, apenas diferente, num país que nunca tinha vindo na vida... globoesporte.globo.com/blogs/painel-t…
Nesse momento, o Fla tinha a oportunidade de fundar de fato uma cultura. Era momento de implementar um novo estilo de jogo, independentemente dos resultados.
Quando o calendário começou a ficar apertado, a inconstância e os muitos erros individuais começavam a prejudicar o time nos resultados. Em campo, se via uma equipe que criava muito - e errava muito atrás.
O que você faz nesse momento?
Avalia o que não tá dando certo na ideia.
O Flamengo achou que nada prestava. Quando isso acontece, a gente não demite a pessoa?
E aí, a gente não contrata a pessoa pra "arrumar o problema"?
Aí o Flamengo contratou o Rogério Ceni. Só que o Ceni era esse "bombeiro" que o time precisava?
A diretoria sabia que Rogério Ceni teve três pré-temporadas no Fortaleza e quase foi demitido com 4 meses de trabalho, após perder o Estadual de 2018? Que ele teve respaldo para o trabalho evoluir?
Ou só chamaram o nome em alta mesmo?
A diretoria tinha conhecimento do modelo de jogo do Rogério Ceni? Sabia que ele apostava num modelo mais reativo nos últimos anos? Sabe que ele adora um pivô como mecanismo ofensivo? Sabia dos seus métodos de treinamento? globoesporte.globo.com/blogs/painel-t…
Se Rogério Ceni fosse "fraco", ele não teria ganhado tudo o que ganhou no Fortaleza.
Ele apenas está no contexto errado.
Por isso o que está acontecendo no Flamengo não é fruto da falta de qualidade do treinador ou da falta de padrão de jogo.
É falta de planejamento mesmo.
É falta de entendimento, expectativa errada...
E também pouca preocupação com o futuro.
No fim, Jorge Jesus não revolucionou em nada o futebol brasileiro como se falava nos surtos clubistas que fazem sucesso no Twitter.
O buraco é mais profundo.
É um buraco de realidade.
O Flamengo tem o melhor elenco do Brasil. É o time mais rico do Brasil.
E é uma equipe em transição. Com uma ideia de jogo que está nascendo. Entender esse momento da melhor forma passa por um 2021 melhor.
Ou troca o técnico e espera um novo Jesus...
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Você já parou para pensar como que técnicos, analistas e jogadores trabalham for do jogos?
Como que é o dia-a-dia quando ninguém está vendo?
O técnico Maurício Barbieri eu uma pista dessa rotina: é feita de estudo e treino visando unicamente uma coisa: a vitória. Segue o fio 👇
Todo mundo no futebol quer vencer. Não existe uma única alma que não se empenhe ou entre em campo para perder.
Vencer é o que nos move. Todos querem, só que só tem pra um time.
Então o que resta é tentar. Chegar perto. Fazer o máximo para alcançar os três pontos.
O futebol não seria apaixonante se ele não fosse tão subjetivo assim. No fim você não tem muita fórmula ou jeito de fazer as coisas certas. Você tem que unicamente tentar.
E uma das formas de tentar é estudar o adversário e procurar, antes do jogo, formas de vencê-lo.
Como você lida com as coisas: impõe seu jeito ou se adapta à situação?
O Palmeiras se adaptou.
E saiu da Argentina com uma vitória construída a partir de um ajuste de Abel Ferreira: uma linha de cinco defensores.
Como Abel chegou nessa ideia? Por que deu certo? Segue o fio 👇
Quando você procura se adaptar às situações da vida, o mais importante é ler bem o momento. Entender o adversário e mapear seus pontos fortes e fracos.
Analisar.
Esse jogo não começou ontem. Começou nas reprises que Abel Ferreira e sua comissão assistiram nos últimos dias.
Nas reprises, Abel viu que o River tem um ponto muito forte. Um mecanismo que cria diversas situações de gol.
São as tabelas por dentro. Ignazio, Suárez, Borré, De La Cruz e Carrascal jogam próximos, tocam rápido e giram para tirar um zagueiro de lugar e abrir espaço na área.
Rony é o melhor jogador do Palmeiras, semifinalista da Libertadores.
É quem mais cresceu com Abel Ferreira, que melhorou o time no resultado, desempenho e nos detalhes.
Sim, detalhes, como a posição do corpo do Rony ao receber a bola, explicam essa crescente. Segue o fio 👇
Quando a gente assiste um jogo, por diversão ou não, é natural olhar só a bola. Ela é o centro do jogo! Valorizamos o que ele faz, como maneja e controla.
Mas lembrem: futebol é interação. Quem tem a bola depende de quem não a tem para o time continuar o jogo e chegar ao gol.
Vamos fazer um teste?
O que você espera desse lance aqui? Que o Veiga, que tá com a posse, faça algo de mágico: drible todo mundo, dê um super lançamento ou ao menos uma troca de passes rápida que torne o time bonito, certo?
É o que separa a atuação do São Paulo contra a LDU, que custou vaga na Libertadores, do 4 a 0 no Botafogo que reforça a liderança do Brasileirão.
O elenco é o mesmo, o técnico é o mesmo....
Sabe o que mudou?
O tempo. Logo ele, que teimamos desrespeitar. Segue o fio👇
Para muitos, futebol é um exercício simples onde 22 pessoas chutam uma bola até fazer o gol. Então basta contratar as melhores pessoas em cada tarefa dentro de campo (que são as posições), juntá-las e pronto! O time vence. Não é errado pensar assim, parece uma conclusão lógica.
Só que precisamos lembrar que o futebol é uma atividade humana. Seria muito mais fácil se não tivessem pessoas na equação, com suas diferenças, visões e mentalidades diferentes. Então não basta simplesmente juntar os bons. É preciso que eles formem um time.
A expectativa não foi exatamente cumprida de imediato. Rogério perdeu três clássicos em quatro meses com o Fortaleza, sendo dois deles na final do Cearense de 2018.
A torcida pediu a imediata demissão de Rogério, chamado de estagiário e inexperiente.
Hoje é a 1º vez que técnicos portugueses se enfrentam no Brasileirão.
Para muitos é uma prova de como os brasileiros estão defasados...
Não é isso. Ninguém tá olhando para o que importa: educação. Nacionalidade não torna ninguém melhor. Ter lugar pra estudar sim. Fio👇
Você já parou pra entender como um país tão pequeno que é possível percorrê-lo de costa a costa em 4 horas e com pouco mais de R$ 10 milhões de habitantes (menor que São Paulo e Rio de Janeiro) exporta técnicos tão bons ao mundo?
Bom, tudo começa numa viagem em 1935.
Cândido Oliveira, membro da comissão técnica da Seleção na época, queria melhorar o time para classificar os portugueses para a Copa de 1938.
Ele viajou para Londres para um estágio no Arsenal, onde não chegou a trabalhar com Herbert Chapman, mas viu todo seu legado.