Tenho essa sensação generalizada de que o mundo ficou muito mais careta em sexualidade.
Ontem, aqui no Twitter, alguém me chamou atenção para uma entrevista da @BSurfistinha em que ela citou o perfil que escrevi dela faz uns 15 anos.
Um fio.
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O texto foi parte de uma série de reportagens sobre sexualidade que escrevi para o NoMínimo e que depois foram reunidas num livro chamado ‘Eu Gosto de Uma Coisa Errada’
Na época, eu escrevia sobre política internacional e estava exausto após uns três anos do Onze de Setembro.
A internet já era popular, claro, mas ainda era jovem e bastante amadora.
Histórias em que pessoas vivem próximas de seus limites emocionais são sempre ricas. A gente sempre aprende alguma coisa.
É fértil para jornalismo e era muito diferente do que eu fazia.
Ontem à noite peguei o livro pela primeira em mais de década para folhear.
Eu não o escreveria, hoje.
Certamente não o escreveria como o escrevi na época, e não faz tanto tempo assim.
O mundo está mais careta, claro, em grande parte por conta do reacionarismo desta extrema-direita que é também muito hipócrita.
Convenhamos... Ser moralista reprimido padrão era vitoriana e liderado por Donald Trump e Jair Bolsonaro é o fim da picada.
Mas há um moralismo de esquerda, também. Sutilmente distinto. Uma caretice que impõe um vocabulário específico para falar sobre sexo.
Quase como se fosse necessário ter um PhD em sexualidade. Pôs a vírgula no lugar errado, a patrulha virá cancelar.
Dia desses, numa conversa com o @fabriciopontin, ele usou uma expressão a respeito disso da qual gostei.
É como se tivéssemos de pagar um pedágio ideológico para falar do tema.
Este pedágio se dá num vocabulário e numa forma de pensar.
Não sou de uma geração que viveu um tempo particularmente livre.
Cheguei à adolescência morando do lado de San Francisco quando a Aids estourou. Meus professores eram ex-hippies que diziam, em tom de lamento, que a gente não ia poder experimentar como eles.
Não pudemos, mesmo.
Virar adulto nos anos 1980 teria sido mais divertido do que virar nos anos 90, mas aquilo era uma pandemia mudando nosso comportamento.
Não era uma escolha.
Agora é uma escolha.
Esta é só uma característica a mais deste tempo em que vivemos.
Ele é mais careta.
É uma das muitas formas em que a liberdade ficou mais restrita.
Acontece.
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Tem uma conversa que nós não estamos preparados para ter no Brasil.
É sobre como pensamos impeachment.
Por isso, sei em que vai dar este fio aqui. Vai implodir.
Ainda assim, a maneira como os americanos pensam impeachment, em tempos de Bolsonaro, tem muito a nos ensinar.
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Fernando Collor de Mello sofreu impeachment acusado por agir de forma incompatível com o cargo. Por quebra de decoro. O crime tinha provas tão frágeis que ele foi inocentado no Supremo.
Mas estávamos confortáveis com isso.
A diferença real entre Collor e Dilma, queiramos admitir ou não, é que o PRN não era um partido. O PT era
O PT tem base popular real, tem militância real, representa de fato um conjunto de valores na sociedade.
O PRN não era nada, Collor não era uma liderança política relevante
Não vou fazer previsões, mas as pesquisas de ontem dão pistas sobre o que deve acontecer nas eleições de hoje em algumas capitais.
Vou falar sobre Rio, SP, Recife e POA.
Em uma dá para cravar resultado, em outra quase... Nas últimas duas é no cara ou coroa.
Um fio.
A vantagem de Bruno Covas é clara, em São Paulo.
O Ibope de sábado dá 48% para ele contra 36% para Guilherme Boulos.
O que faz deste resultado difícil de virar não é só a distância entre os dois. É que não há movimento no eleitorado. No dia 18, Covas tinha 47% e, Boulos, 35%.
Mas há dois pontos que vale ressaltar.
Primeiro começou nos zaps bolsonaristas, nestes últimos dias, um movimento pró-Boulos. O ódio ao governador paulista João Doria é grande.
É bizarro, mas Wilson Witzel está aí para lembrar que coisas esquisitas acontecem na última hora.
A gente ainda vai colecionar lições deste pleito municipal para composição de chapas com vistas 2022.
Mas uma delas tem de ser aprendida num erro tático do Bruno Covas nesta eleição de São Paulo.
É a escolha do vice.
Fio rápido.
Caso Jair Bolsonaro sobreviva à crise imensa que virá em 2021 — e não é certo que sobreviverá —, o Brasil provavelmente ainda estará num ciclo conservador.
Digamos, pois, que Bolsonaro vá a um hipotético segundo turno em 2022.
Isto quer dizer que o candidato à presidente que for disputar com ele tem de ser atraente para eleitores de centro-esquerda.
Não basta levar os votos de quem não vota em Bolsonaro.
Esquerda e direita, muitas vezes, fazem de conta que não existe.
Tudo certo, é estratégia eleitoral: melhor pintar ‘o outro lado’ como uma coisa só.
Vira briga de mocinho e bandido, mais fácil de explicar.
Só que o mundo é complicado.
Existem vários centros, na verdade.
O mais comum é um que mistura uma visão em geral descrita como de esquerda das questões sociais e de costumes com uma em geral descrita como de direita da economia.
O que isso quer dizer?
Ora...
Isso quer dizer que reconhece que o Brasil é um país desigual pacas, que o Estado precisa atuar neste problema. Reconhece a liberdade para fumar um baseado, de casar com quem se ama, da mulher de escolher e de que o Meio Ambiente é causa urgente, imediata.