Aqui uma análise do comportamento da segunda expansão da pandemia no Espírito Santo (ES) e dos cenários possíveis para o próximo período.

Durante a primeira onda, a Grande Vitória (GV) teve comportamento antecipado de casos, internações e óbitos em relação ao interior.
Até o presente momento a segunda expansão da pandemia no ES foi caracterizada por aumento de casos, internações e óbitos em quase todo o seu território.

No entanto tivemos um comportamento assimétrico invertido em relação a primeira onda: o interior se antecipou a GV.
Ao longo de 2020 o vírus viveu "amplo espalhamento" no no Brasil (BR) e no ES. Em diversos municípios pequenos a primeira onda só ocorreu no último quadrimestre, em outros, o mesmo período, representou uma segunda expansão equivalente ou maior que a primeira onda.
Na ausência de ampla cobertura vacinal em um território e de tratamento medicamentoso específico, onde circulam diversas variações do mesmo vírus e de outras doenças respiratórias, a "onda real" deve acompanhar-se da tríade 1) +casos novos, 2) +internações e 3) +óbitos.
Neste contexto a ausência do crescimento de óbitos pode representar melhora da capacidade de testagem e tratamento hospitalar em uma população maior de casos leves e moderados. O Brasil é um caldeirão de variações de cepas do coronavírus em franca transmissão comunitária.
Vejamos a diferença do comportamento da pandemia analisando o comportamento dos óbitos, dado tardio que não é afetado pela mudança de critério de testagem, migrações, feriados, transições de prefeituras ou escassez de insumos nos laboratórios públicos ou privados.
Não obstante terem diagnosticado mais casos que na primeira onda, Vitória, Serra, Cariacica e Vila Velha (G4) desenham um comportamento diferente de todas as demais regiões do Espirito Santo: não tiveram na segunda expansão da doença um total de óbitos maior ou igual a 1ª onda.
Ao concluir o mês de janeiro a Região Sul do ES terá dois meses consecutivos de óbitos por COVID-19 superiores aos dois meses de pico da primeira onda.
Já a região central, deverá alcançar equivalência de óbitos em relação a primeira onda até a primeira quinzena de fevereiro.
Diferente das demais regiões, a região norte do ES apresenta um segundo mês consecutivo de aumento substancial de óbitos quando comparamos dezembro/janeiro. Ressaltando que ainda poderão se confirmar casos novos e em investigação nesses meses.
Na região de saúde metropolitana, que abrange também os municípios da região de montanhas, ao retirar o G4, vemos a ascensão consecutiva de óbitos ocorrendo desde outubro, podendo alcançar em janeiro o teto de estabilidade equivalente a dezembro.
Não são significativos os dados do comportamento da COVID-19 em solo capixaba entre entre os meses de janeiro e abril de 2020. Mas podemos analisar o comportamento sazonal das doenças respiratórias no ES para analisar novo cenário possível.
Ao analisar as sazonalidade das curvas de "Síndromes Respiratórias Agudas Graves" (SRAG) no Espirito Santo, vemos que de 2018 a 2020, o início do aumento de casos foi observado a partir das semanas epidemiológicas 8-9, equivalente a segunda quinzena de fevereiro.
O que poderia modificar o comportamento sazonal? Mudanças de hábitos e estilos de vida da sociedade, novos medicamentos, cobertura vacinal, mudanças na estrutura econômica, mudança climática e outras determinantes. Nenhuma está na perspectiva da sazonalidade esperada para 2021.
O que pode mitigar a sazonalidade?
- uso adequado de máscaras.
- disciplina social no distanciamento social.
- cobertura vacinal para gripe e coronavírus.
- diagnóstico precoce e bloqueio da cadeia de transmissão.
- evitar ambientes fechados.
- lavar as mãos e superfícies, etc.
E como estamos:
- Máscaras: adesão moderada.
- Distanciamento social: baixo, depende de coesão social e suporte econômico.
- Cobertura Vacinal: chegaremos em junho ainda vacinando grupo de risco.
- Diagnóstico precoce: ampliada capacidade de testagem do Estado e Municípios.
O Calendário de vacinação contra o Coronavírus ainda não garante plena cobertura a população brasileira em 2021. Até o presente momento a Campanha de Imunização contra a "Gripe" não tem um calendário no Ministério. Estimamos que deva começar em abril. Já em franca alça de SRAGs.
Com a imunização ampla dos trabalhadores da saúde, em especial da atenção primária (APS), teremos condições de ousar mais nas ações das equipes de APS e de Vigilância em Saúde nos territórios de suas respectivas responsabilidades sanitárias.
Independente do que se defina nacionalmente, iremos avançar na imunização dos idosos com os próximos lotes da vacina contra a COVID-19.

Vacinação reduz mortalidade.

Testagem em massa reduz letalidade e melhora a capacidade de bloqueio da doença.
Letalidade Alta = Baixa testagem.

Observemos:
Município - Bairro - Letalidade

Vitória - Santo André - 4,4%
Cariacica - Presidente Médici - 5,5%
Vila Velha - São Torquato - 4,1%
Serra - Divinópolis - 5,4%

Territórios com letalidade alta em relação a do Estado (1,9%).
As estratégias de enfrentamento a pandemia em 2021 não podem só repetir as fórmulas de 2020: é preciso atualiza-las e incrementar novas práticas.

A letalidade de cada bairro e de cada macroterritório de saúde precisa ser objeto de intervenção concreta das equipes de APS.
Mapas de Gestão de Risco Municipais precisam ser incorporados, com ações dirigidas ao comportamento de expansão/estabilidade/regressão da doença.

Com leitos seguiremos resistindo, mas com vacinas e ações territoriais podemos avançar na capacidade do controle epidemiológico.
No início da pandemia, analisávamos a doença a cada dia, a cada semana. Já temos temporalidade ampla, capaz de reconhecer seu comportamento ao longo de meses e em diversas épocas do ano.
O @GovernoES seguirá apostando na ciência, na transparência, no planejamento estratégico, na estímulo a ampliação/qualificação da atenção primária, na opção pela epidemiologia de campo, modernizando a regulação, fortalecendo a rede hospitalar e ampliando o SAMU.

SomoSUS.
A dimensão do que fazemos é da amplitude da nossa responsabilidade. Sim é fato, somos um Estado pequeno, não comandamos o Brasil, mas o que importa é que somos um povo que "só fita os Andes".

Mas não nos furtamos, lutamos e com horizonte largo:
Venceremos.

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More from @dr_nesio

1 Jan
Hoje pude rever essa entrevista dada ao @AGazetaES. Em síntese e novas considerações:
1) Enquanto diversos países do mundo já começaram a vacinar, o Brasil não.
2) O registro das vacinas nos países está relacionado ao avanço das negociações das mesmas.

globoplay.globo.com/v/9140256/
3) A @anvisa_oficial estabelceu normas que atrasam o registro das mesmas. Essa questão esta sendo revisada pela Agência e temos a expectativa de aceleração da incorporação das vacinas no país.
4) A aprovação do uso emergencial da vacina da Pfizer pela @WHO só reforça a acertividade de termos uma legislação estadual que permita a compra das vacinas mesmo sem registro na @anvisa_oficial, desde que esteja em uso em outros países e com devida autorização e regulação.
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31 Dec 20
O ano terminou, mas a pandemia infelizmente não. Apesar de todas as tolices, estupidezes e verdadeiros crimes de responsabilidade que vivemos em 2020, precisamos reconhecer que existem realidades que permitem a esperança.
O grande brasileiro, que tive a oportunidade de conhecer, Ariano Suassuna dizia que o "otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso."
Aqueles que acreditam que já vivemos tudo de pior em 2020, que não há o que piorar, que agora é só acionar a boa vontade das instituções e que o Brasil irá melhorar por obrigação da história, são otimistas.
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15 Dec 20
Um fenômeno pouco analisado até o presente momento na segunda expansão da COVID-19 no ES, está relacionada a ocorrência de uma primeira onda tardia de casos observados em inúmeros municípios do interior. Analisemos a média móvel de 14 dias (MM14D), a letalidade e os óbitos.
Dores do Rio Preto possui 7 mil habitantes, apresentou sua primeira curva significativa de casos observados a partir da segunda quinzena de novembro. O município teve somente dois óbitos registrados pela COVID-19. Último pico registrado de 8,64 no dia 7/12.
Alto Rio Novo (8 mil hab.), teve na primeira oscilação o pico de 3,86 casos observados no dia 17/07, chegando a apresentar em dezembro 7,21 casos, quase o dobro de crescimento.
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10 Dec 20
Desde o início da pandemia soubemos que os casos de COVID-19 evoluíam em formas não-críticas em 90-95% dos casos, em especial na população jovem. No entanto, mesmo entre eles, o número de perdas será sempre proporcional ao total de casos.
No dia 28 de fevereiro registramos 5 casos de COVID-19 no ES e de lá até hoje foram 285 dias. Neste período entre jovens de 20-29 tivemos 143.713 notificados, 125.304 testados e 37.546 confirmados.
Deste total de jovens infectados e confirmados por testes até o dia de hoje, 48% foram infectados nos últimos 100 dias. Nesta faixa etária os casos saltaram de 3.804 em setembro para 7.781 em novembro, um crescimento de 104,55%.
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6 Dec 20
Com os dados disponíveis até dia 5/12, o Estado do Espírito Santo já ultrapassou o pico de casos observados na primeira expansão da COVID-19. Na semana epidemiológica (SE) 27 (28/06-04/07) tivemos 9.035 casos, exatas 20 SE após, na SE47 (15-21/11) já apresentamos 9.219 casos.
Avaliando os picos diários, no dia 22/06 alcançamos um pico diário 2.003 casos observados contra 2.026 no dia 23/11.
Na Média Móvel de 14 dias (MM14D), tivemos um pico de 1.285 casos dia 02/07, contra 1.284 no dia 23/11, nos próximos dias este dado tende a ser superado.
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4 Dec 20
A vacina contra a COVID-19 desenvolvida pela @pfizer é, reconhecidamente, uma das mais avançadas e seguras. Seu desenvolvimento foi acompanhado e é respeitado por toda a comunidade científica internacional.
As preocupações com o armazenamento das doses estão sendo exageradas, não justificam a recusa da oferta. Com entregas fracionadas, o transporte em caixas especiais com gelo seco permitem sua entrega oportuna nos territórios onde vivem 80% da população brasileira.
Ainda que a @pfizer só entregue a vacina ao longo do primeiro semestre de 2021, sua compra ampliará a capacidade de vacinação da população brasileira. A retomada em "v" da economia pode virar um "w" se a vacinação ampla da população não ocorrer.
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