Em meu texto sobre o doc The New Corporation, aponto como é importante buscar esclarecer por que fazemos (faço) afirmações como "o capitalismo está destruindo o planeta" e "o mercado é sociopata", já que, isoladas, podem soar apenas como hipérbole ou insanidade de esquerdista.
Então, para tentar ampliar o alcance desta conversa, vou tentar ressaltar uns pontos aqui em formato de fio, incluindo a ligação entre a forma de agir das corporações e o ressurgimento de líderes fascistas no mundo. Se quiserem silenciar esta thread, entenderei.
Acho que uma das questões que fazem com que as pessoas resistam à ideia de que as corporações agem de modo monstruoso reside em nossa tendência natural de não acreditar que uma pessoa (física ou jurídica) faria algo ruim propositalmente. Comecemos por aí, então.
O fato é que mesmo que os CEOS das maiores corporações QUISESSEM fazer alguma diferença positiva no mundo, isto seria inviável em função de suas obrigações legais de privilegiarem o investimento de seus acionistas, já que têm uma responsabilidade para com estes.
O problema, portanto, só seria solucionado com uma mudança estrutural, não individual. Aliás, estes limites financeiros estão presentes também em várias das iniciativas supostamente “filantrópicas”, como aquela financiada por Bill Gates e que constrói escolas na África.
A Bridge International Academies apresenta vários problemas graves que decorrem da exigência do lucro (pois é). Não é à toa que várias associações de professores do continente denunciam enfaticamente o despreparo dos profissionais contratados pela empresa.
Os "professores" contratados pela Bridge basicamente se limitam a ler em tablets, em sala de aula, os roteiros preparados pela matriz e que os instrui até mesmo com relação a como devem se movimentar na sala e se dirigirem aos alunos.
E isto sem considerarmos a gravidade de se entregar a educação das crianças e dos jovens para corporações multinacionais, comprometendo a identidade nacional e cultural do país.
"Mas se a iniciativa privada não fizer, ninguém vai fazer, já que o Estado é incompetente e corrupto!" - esta é a afirmação que os neoliberais já têm na ponta da língua para defender todo tipo de absurdo. Então vamos tentar entender um pouco do que está por trás disso.
Até os anos 70, mesmo obtendo largos lucros, muitas das principais corporações do mundo se ressentiam por não conseguirem expandi-los ainda mais, já que havia regulamentações que limitavam ilegalidades, controlavam a exploração predatória de recursos naturais e, claro, impostos.
Impostos estes que eram revertidos em investimento em Saúde, Educação e infraestrutura para beneficiar a população. Foi aí que Milton Friedman e seus colegas da Escola de Chicago começaram a defender um outro modelo de relação entre corporações e Estado e o troço desandou.
Este modelo passou por um teste no Chile, depois do golpe de 73, quando Pinochet entregou as chaves da economia pros discípulos de Friedman e estes rapidamente privatizaram estatais, desregulamentaram todos os setores e a cortaram impostos voltados para as elites.
A desigualdade econômica e social saltou, mas as elites amaram -e a partir da década de 80, Thatcher e Reagan adotaram e propagaram este modelo neoliberal. Aliás, além de libertarem as corporações de toda regulamentação, ainda havia subsídios e os lucros iam pra paraísos fiscais.
Aí, sem cobrar impostos das corporações, gastando com subsídios e perdendo mais receita pra paraísos fiscais, o Estado fica quebrado e vêm organizações como o FMI e o Banco Mundial exigindo, em troca de ajuda, que adotem políticas de austeridade.
Com isso, o que acontece com a infraestrutura do Estado? Óbvio: começa a falhar cada vez mais. (Daí a "incompetência do Estado".) E o que as corporações e estes órgãos como o FMI sugerem/exigem?
Claro: privatizações. Entreguemos tudo justamente aos que criaram o problema.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a iniciativa privada controla penitenciárias, parques, todo o sistema de saúde e agora avança sobre os correios e sobre a água. E o mesmo processo vem ocorrendo no Brasil.
Mas e a "corrupção" do Estado?, insistem, ignorando convenientemente que os agentes corruptores são precisamente as mesmas corporações que defendem como solução do problema e que estão sempre demonstrando como são corrompidas em sua essência:
o que fica claro com o colapso de 2008 graças aos abusos sem regulamentação de Wall Street, o estouro das barragens em Mariana e Brumadinho, derramamentos de petróleo nos oceanos, acidentes graves causados por falta de investimento em segurança nas empresas e todo o resto.
Finalmente, o que tudo isso tem a ver com o bolsonarismo, o trumpismo, etc? Ora, com uma sociedade cada vez mais desigual, na qual o abismo entre ricos e pobres se alarga rapidamente e boa parte da população enfrenta o desemprego, a raiva e a frustração se tornam crescentes.
Juntam-se a isso a falta de acesso a serviços básicos e a constatação por parte de muitos de que passarão a vida trabalhando para não passar fome - o que desperta um ressentimento cada vez maior especialmente entre integrantes de certa demografia:
os homens brancos heterossexuais. Neste cenário, a saída mais fácil e “satisfatória” é atribuir estas injustiças a um inimigo visível que pode ser identificado e combatido. Imigrantes. Negros. A comunidade LGBTQ+. Mulheres.
Ou, em uma versão ainda mais simplista, “os comunistas”.
E é aí que surgem líderes populistas que canalizam toda esta insatisfação, toda esta raiva e todo este desejo por mudança na “missão” de enfrentar estas ameaças e “restaurar” o lugar de seus seguidores na sociedade.
O que nos traz de volta ao papel das corporações, que, não por acaso, frequentemente apoiam estes líderes com o compromisso de que aprovem reformas que continuem a permitir a expansão de lucros – ao mesmo tempo em que combatem candidatos que poderiam frear este processo.
Mas como podemos contornar isso, já que a própria informação é controlada por corporações e seus braços na mídia, que dedicam boa parte de seus esforços para demonizar líderes de esquerda, que representam uma ameaça aos seus interesses?
Mobilização política – teórica e prática. Ir às ruas, construir alternativas, lançar novas lideranças, mas também educar. Compreender que sem que as pessoas entendam o que está acontecendo não será possível mudar nada. Xingar é um escape momentâneo, mas não ajuda no quadro geral.
Compartilhar informação é fundamental para que mais indivíduos percebam que sua cidadania está cada vez mais associada ao seu poder aquisitivo e à sua capacidade de consumir.
E que os mesmos que tentam vender a ideia de que o socialismo é algo ruim para o povo não hesitam em se tornar ferrenhos socialistas quando precisam do Estado para salvá-los dos contínuos desastres que provocam, sejam estes econômicos, sociais ou ambientais.
Já para o resto da população resta apenas o mais selvagem dos capitalismos.
1) Vocês são corresponsáveis pela eleição de Bolsonaro. Vocês demonizaram a esquerda por ANOS achando que isso beneficiaria os tucanos que tanto amam e deu no que deu.
2) Até entendo a raiva, mas uma coisa é xingar no Twitter; outra, num veículo jornalístico. Feio demais.
O que Bolsonaro quer é justamente isso: que todos desçamos ao nível dele, pois é onde domina, já que não tem argumentos, intelecto, honestidade nem coragem para lidar com nada.
Uma coisa é xingar no Twitter; eu mesmo faço isso. Mas jamais publicaria algo assim no @cinemaemcena.
Ver um veículo jornalístico dito sério publicando uma coluna mandando quem quer que seja "pra puta que o pariu", chamando de "criação de cortesã em fim de carreira", é algo que demonstra o tanto que o discurso político no país afundou em todos os aspectos. Vitória de Bolsonaro.
Não sei se vocês estão acompanhando o que está acontecendo na bolsa de valores dos EUA com as ações da GameStop, uma cadeia de lojas especializadas em games, mas é algo muito interessante. E instrutivo.
Vou tentar resumir: um subgrupo do Reddit que reúne pessoas interessadas em ações e na bolsa de valores (mas não ligadas a nenhum grande fundo de investimentos) decidiu investir nas ações da GameStop como uma ação conjunta e passaram a comprá-las loucamente.
Eles escolheram a GameStop por dois motivos: 1) (e isto é suposição) por simpatia pela empresa; e 2) (isto é fato) porque ao valorizarem as ações da franquia, eles trariam um prejuízo bilionário a grandes investidores e fundos de investimentos.
Apresentei Karatê Kid para Nina e para minha sobrinha. Curtiram muito. E vou dizer: não é nostalgia, não; o filme é maravilhoso e ponto.
O Sr. Miyagi é a coisa mais linda do mundo.
Hoje foi a vez de apresentar Karatê Kid 2 para as meninas (minha filha e minha sobrinha). Também curtiram muito. Eu devo ter visto esse filme no cinema umas 15 vezes quando foi lançado. E vou dizer: continua funcionando muito bem.
Para quem foi pré-adolescente e/ou adolescente na década de 80, Karatê Kid foi um fenômeno tão memorável quanto Indiana Jones, De Volta para o Futuro ou Rambo. Lembro que a antecipação pelo segundo filme era enorme - e acabei vendo no cinema várias vezes.
(Não vou comentar o terceiro filme e muito menos o quarto, mas tenho imenso carinho pelos dois primeiros até hoje.)
Justamente por ter tanto carinho pelos dois primeiros filmes que evitei ver Cobra Kai até hoje; eu temia que a série manchasse de alguma forma minha memória afetiva dos originais. (Isso mesmo tendo visto o vídeo "Sweep the Leg, Johnny" umas 500 vezes e amado.)
Vi agora a thread do "bean dad" que está tomando conta do twitter (pra quem não viu, um pai fez uma longa thread contando como se recusou a abrir uma lata para a filha para que ela aprendesse a usar o abridor. Ela tem 9 anos e ficou seis horas com fome até conseguir).
É claro que ele, embora tivesse achado que iria arrasar, está sendo massacrado. Sim, ele foi duplamente babaca: por deixar a filha ficar com fome tanto tempo só pra ensinar uma lição boba e por depois contar a história no Twitter como se fosse algo fantástico.
O Twitter, como sempre faz, está reagindo com uma falta de proporção absurda. Inclusive acusando o cara de "abuso infantil". Porque é pra isso que essa merda aqui serve: pra que possamos nos sentir superiores apontando como os outros são horríveis. (Estou fazendo isso agora.)
Uma bobagem que eu levo a sério é a escolha do primeiro filme que vejo em cada ano. Pra não arriscar começar o ano de cinéfilo mal, prefiro não arriscar e sempre revejo algo que eu ame. Se possível (quando lembro), tento também terminar com um título que dialogue com o primeiro.
Em 2019, por exemplo, comecei e terminei o ano com Satoshi Kon.
Já em 2020, eu pretendia rever Os Três Enterros de Melquiades Estrada no dia 31 para remeter ao título sensacional do primeiro filme do ano, Traga-me a Cabeça de Alfredo Garcia. Mas acabei sem tempo depois de passar o dia escrevendo sobre Soul e o texto de Números e Estrelas.