Em uma discussão, se alguém usa pressupostos falsos para seus argumentos, estes argumentos serão também falsos porque estão fundamentados em mentira.

É apenas de pressupostos falsos que vive a turma do “eu apoio o tratamento precoce”.
Pressuposto do leigo e do médico leigo:
- Esse pessoal não sabe que existem 500 artigos sobre tratamento precoce e 1 chance em 20 bilhões que ela seja falsa.
- Vou mandar pra ele qualquer artigo da lista ou o link do c19study, HCQ meta ou qualquer um desses. Sem legenda.
Realidade:
- Não se prova uma hipótese por número, mas por qualidade de artigos. A maioria dos artigos dessa lista tem péssima qualidade e não tem poder confirmatório.
- Compartilhar c19study sendo médico é motivo de completa vergonha. É atestado de iliteracia ou má fé.
Ainda realidade:
- Os estudos com poder confirmatório com essas drogas foram negativos, o que só comprova sua ineficácia quando se aplicam as metodologias corretas.
- Desatualizados são aqueles que aprenderam agora a ler abstract de estudo e se informam por Zipzop.
Ainda realidade:
- Não há conspiração nisso, nem xadrez 4D. Pelo contrário: muitos laboratórios, farmácias, farmacêuticas e convênios médicos estão muito felizes com a iliteracia de alguns.
Pressuposto do cara que se informa pelo Dignidade Médica do Facebook (risos):
- Em uma pandemia, temos que dar tudo o que podemos ao paciente. Não há tempo hábil para a ciência.
Realidade:
- Primeiro foi invertido o ônus da prova e argumentado que o uso fazia sentido quando não havia estudos no início da pandemia.
- Já houve tempo hábil e os estudos foram negativos (os robustos - não qualquer observacionais egípcios). Você não sabe porque tá numa bolha.
Mais uma realidade:
- Seja mais humilde quando vestir o jaleco branco. Muitos pacientes sobrevivem apesar de nós. Nossa ciência está longe de perfeita e, não havendo o que fazer em algum cenário, melhor é não causar dano com terapias ineficazes (“primum non noncere”).
Finalizando:
- Olhe para o lado e veja quem está contigo nessa. Selo azul do Instagram que trata doenças que não existem só pra manter paciente no consultório Gente que ventila mentira de jardim de infância tipo o 1 em 20 bilhões?

- Pois é. É cilada e você caiu.

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1 Feb
Está na hora de a gente se perguntar se parte da tragédia que estamos vivendo não pode estar vindo justamente do viés de comissão da maioria dos nossos médicos mecanicistas e leigos.

Em outras palavras: fazer mais do que o paciente precisa também causa dano.
O médico leigo, aquele que se informa por vídeos do Alexandre Garcia, tweets de “comentaristas políticos paranóicos de xadrez 4D” e pelo grupo Dignidade Médica no Facebook (é irônico porque lá não se vê dignidade nenhuma) é também o mesmo que não pensa que:
- Quando um remédio é ineficaz, sobra dele apenas os seus efeitos colaterais, danos e riscos.

A quantidade de pacientes que recebeu, por exemplo, anticoagulantes (até aqui apenas uma hipótese de baixa plausibilidade - mas na cabeça do mecanicista, só isso basta), é incontável.
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31 Jan
Qual dos testes abaixo é 100% acurado?
Se há uma bala em um revólver de 50 canos, qual a possibilidade de ser atingido por uma bala em um disparo de uma roleta russa?
Se a letalidade da COVID está em torno de 2%, qual a probabilidade de morrer de COVID estando infectado, caso não use nenhum medicamento?
Read 8 tweets
15 Jan
Luis teve um diagnóstico que, segundo seu médico, precisa de cirurgia urgente.
Na verdade, ele teve um “overdiagnosis” e o seu tratamento desnecessário teve desfecho trágico.
Mesmo assim, Luis é grato e ilustra o proposto “viés do gato de Schrödinger”, que acabamos de publicar.
Aos 60 anos, assintomático, Luis foi impactado por esse diagnóstico em um inocente exame de check-up. Seu médico lhe explicou a gravidade e o mecanismo da doença e do seu tratamento cirúrgico.

Em um universo paralelo, Luiz, de 60 anos, não realizou este exame.
Como um bom espectador de programas matinais de saúde, Luis (com s) não pensou na possibilidade de:
- Exame falso positivo - grande problema dos check-ups
- Overdiagnosis - quando é diagnósticada uma doença que não levaria a sintomas ou morte

Luis coloca broche rosa em novembro.
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14 Jan
Um pouco sobre como funciona a Medicina de verdade (longe dos holofotes do Bem Estar, das discussões de Pingo nos is, das falsas promessas populistas e da estatística de jardim de infância)…

Uma breve história sobre o tratamento e a letalidade do infarto agudo.
Até a década de 50, a letalidade de um evento de infarto era de 35 - 45%.
Isso significa que 35-45 a cada 100 pacientes infartados morreriam por este evento e os demais sobreviveriam (com problemas sérios, mas sobreviveriam).
O tratamento da época era incapaz de reduzir isso.
Na época, os infartados eram reclusos em quartos longe dos postos de enfermagem (onde há mais barulho), porque havia alguma percepção (que se confirma) que os estímulos estressores poderiam lhes causar problemas.
Braunwald, autor do maior tratado de cardiologia, escreveu:
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12 Jan
Deixa o tio ensinar uma coisa aqui rapidão:

Os 50% noticiados são de REDUÇÃO RELATIVA DE RISCO. Se era, digamos, de 10% o risco de pegar a doença, com a vacina, cai para 5%.

Não é cara ou coroa.
A showmicialização da vacina culminou nesse desastre de divulgação. Termos são usados de maneira errada.
Perde o debate limpo. Image
Pra quem tá falando que 50% é como cara ou coroa, experimente, um dia, ler um artigo científico. Você vai se assustar com o fato de que mesmo as melhores terapias não reduzem em 100% seus desfechos primários.
Ex: AAS reduz em 20% o risco relativo de morte vascular em infartos.
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30 Dec 20
O valor de p é uma convenção mais vezes perigosa do que útil em pesquisas médicas porque significa a chance de que os resultados daquela amostra tenham sido encontrados ao acaso. Se p < 0,05 (5%), então alguns médicos aceitam esse resultado e compartilham o estudo pelo zipzop. +
O que não se diz sobre o valor de p?
- Que quanto mais manipulada, fora do usual ou enviesada for a pesquisa, maior a chance de obter valor de p significativo.
- Que deve ser visto como um intermediário da resposta final, não como “encerrador de questão”.
Para exemplificar, imagine que eu quero introduzir um novo fármaco no tratamento do COVID. É uma ótima oportunidade porque isso é uma mina de ouro: basta fazer um post com alguma aparência técnica no Instagram inventando um mecanismo e dizendo que encontrei a cura - sucesso.
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