Puxando aqui o fio de raciocínio do @claudio_couto e do @CECLynch...

Hj fiz uma crítica ‘à esquerda’.

É evidente que não é a toda a esquerda.

Nem toda a esquerda distorce o que os outros falam com o objetivo de lacrar e apedrejar. É só uma parte — que fala bem alto.

Um fio 🧵
Da mesma forma...

Nem toda esquerda é corporativista ou ignora responsabilidade fiscal.

Nem todo mundo que defendeu a investigação da corrupção no governo petista é cego perante os desvios éticos de Sérgio Moro.

Nem todo liberal é de direita ou ignora o drama da desigualdade.
Nem todo conservador é reacionário ou autoritário.

Nem toda direita é bolsonarista.

Nem todo mundo envolvido em movimentos feminista ou LGBTs é de esquerda.

Fazemos generalizações a toda hora. E a dinâmica do debate nas redes sociais promove o abandono de nuances.
É possível olhar para a Lava Jato, reconhecer que o nível de corrupção investigado foi real e monstruoso... E ainda assim ter plena ciência de que havia corrupção antes ou que o processo tem vícios que podem levar à anulação de condenações.
É possível reconhecer tudo isso e compreender que quem está mais empenhado em eliminar o combate à corrupção é o atual presidente.

Tendo compreendido isso, perceber que há um acordo não declarado, mas tácito, no qual ele tem apoio de forças que passam por Centrão, PSDB e PT.
Da mesma forma, outro tipo de manifestação política que as redes propiciam, aceleram e por sua estrutura até facilitam são as operações de cancelamento.

Ou de ataques nos quais um bando, muitos em tuítes raivosos, atacam uma só pessoa.
Críticas são do jogo, muitos dizem.

Claro que são.

Mas quem recebe mil tuítes ‘críticos’ num par de horas não recebe um convite para um debate. Apanha, mesmo, até pq não dá pra ouvir os argumentos. Só os ataques ao caráter. O ad hominem é a praxe.
Estar no debate público no tempo das redes sociais é um exercício essencialmente solitário.

Quanto mais difícil for encaixar seu argumento num quadrado político, maior o número de grupos que vc se arrisca a incomodar e as reações são sempre em manada.
A formação de manada é culpa dos indivíduos?

Às vezes é planejado. Tanto na direita quanto na esquerda há máquinas profissionais que incitam estes levantes.

Mas incitam algo que já é natural ocorrer pela forma como os algoritmos das redes funciona.
Para quem ataca, é só um tuíte que custou um par de segundos e garantiu uns dez likes, que são pontos entre os seus na conta em que se contabiliza virtude em pureza ideológica.

Para quem apanha é sempre o exercício solitário. O preço que alguém paga para sair em defesa é alto.
O resultado é um empobrecimento profundo do debate político.

Claro. O custo para discordar do seu grupo, ainda que parcialmente, é receber o ataque da manada.

O custo de não pertencer a um grupo claro é ainda maior.

Qual o resultado?
Pasteurização dos discursos.

Patrulha ideológica.

Debates que travam repetitivos sem novas ideias para destravar.

E, claro, o caldo de cultura necessário para parir autoritarismo.

Ele nasce do conformismo.

Se alguém tem dificuldade de percebê-lo: este é o ninho da serpente.
Todos os grandes grupos políticos estão assim.

Censurando os seus, mantendo a linha, dando pouco espaço de manobra.

Há ilhas em que se respira? Claro. Há. Em geral longe daqui. Mas há.

Têm é pouca capacidade de impacto.
Qual a solução?

A primeira é mudar o algoritmo. Isso não parece que Twitter, Face ou YouTube vão fazer.

Mas quando uma turba invade o Congresso americano, mata um policial e mutila outros, para tentar impedir uma eleição de ser homologada... Deveríamos todos nos preocupar.
Aquela turba é o Twitter, gente.

Aquela turba é a manifestação física do que acontece nas redes sociais diariamente.

É como estamos discutindo política.

Não tem como dar certo.

Quem ganha esse jogo é quem fala mais alto, junta mais gado e, claro, tem armas de verdade na mão.

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Pedro Doria 🇧🇷😷💉

Pedro Doria 🇧🇷😷💉 Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

More from @pedrodoria

15 Jan
Tem uma conversa que nós não estamos preparados para ter no Brasil.

É sobre como pensamos impeachment.

Por isso, sei em que vai dar este fio aqui. Vai implodir.

Ainda assim, a maneira como os americanos pensam impeachment, em tempos de Bolsonaro, tem muito a nos ensinar.

🧵
Fernando Collor de Mello sofreu impeachment acusado por agir de forma incompatível com o cargo. Por quebra de decoro. O crime tinha provas tão frágeis que ele foi inocentado no Supremo.

Mas estávamos confortáveis com isso.
A diferença real entre Collor e Dilma, queiramos admitir ou não, é que o PRN não era um partido. O PT era

O PT tem base popular real, tem militância real, representa de fato um conjunto de valores na sociedade.

O PRN não era nada, Collor não era uma liderança política relevante
Read 24 tweets
13 Jan
Tenho essa sensação generalizada de que o mundo ficou muito mais careta em sexualidade.

Ontem, aqui no Twitter, alguém me chamou atenção para uma entrevista da @BSurfistinha em que ela citou o perfil que escrevi dela faz uns 15 anos.

Um fio.

🧵
O texto foi parte de uma série de reportagens sobre sexualidade que escrevi para o NoMínimo e que depois foram reunidas num livro chamado ‘Eu Gosto de Uma Coisa Errada’

Na época, eu escrevia sobre política internacional e estava exausto após uns três anos do Onze de Setembro.
A internet já era popular, claro, mas ainda era jovem e bastante amadora.

Histórias em que pessoas vivem próximas de seus limites emocionais são sempre ricas. A gente sempre aprende alguma coisa.

É fértil para jornalismo e era muito diferente do que eu fazia.
Read 10 tweets
9 Jan
Podem empresas privadas como Twitter e Facebook calar alguém?

Devemos ficar confortáveis com a ideia de que duas ou três empresas privadas tenham poder de calar o presidente dos Estados Unidos?

Três pontos num fio.

🧵
1. É censura?

Depende de como entendemos a praça pública, o ambiente em que as conversas da sociedade sobre o que e interesse público se dá.

Em geral, quem tem poder de censura ou não é o Estado, não uma empresa privada.
O Estado não pode proibir um jornal, uma rádio, um escritor de levar uma informação ao público.

Mas um jornal, uma rádio ou um escritor podem escolher que mensagens levam ao público.
Read 20 tweets
7 Jan
Esta é a melhor matéria que li sobre o problema de segurança, ontem, no Capitólio.

washingtonpost.com/politics/capit…

No fio, os principais pontos desta e de outras matérias...

🧵
1. A responsabilidade pela segurança cabia à Polícia do Capitólio, que tem por chefes a Presidente da Câmara e os líderes.

2. Os oficiais no comando da PC não trabalharam com a hipótese de que pudesse haver invasão.
3. Não bastasse, a PC também teve uma falta importante de pessoal — vários afastados por terem tido contato com um paciente de Covid.

4. Resultado prático: não estavam com uniforme ou equipamento para resistência a multidões no momento em que a turba apareceu.
Read 8 tweets
29 Nov 20
Não vou fazer previsões, mas as pesquisas de ontem dão pistas sobre o que deve acontecer nas eleições de hoje em algumas capitais.

Vou falar sobre Rio, SP, Recife e POA.

Em uma dá para cravar resultado, em outra quase... Nas últimas duas é no cara ou coroa.

Um fio.
A vantagem de Bruno Covas é clara, em São Paulo.

O Ibope de sábado dá 48% para ele contra 36% para Guilherme Boulos.

O que faz deste resultado difícil de virar não é só a distância entre os dois. É que não há movimento no eleitorado. No dia 18, Covas tinha 47% e, Boulos, 35%.
Mas há dois pontos que vale ressaltar.

Primeiro começou nos zaps bolsonaristas, nestes últimos dias, um movimento pró-Boulos. O ódio ao governador paulista João Doria é grande.

É bizarro, mas Wilson Witzel está aí para lembrar que coisas esquisitas acontecem na última hora.
Read 13 tweets
25 Nov 20
A gente ainda vai colecionar lições deste pleito municipal para composição de chapas com vistas 2022.

Mas uma delas tem de ser aprendida num erro tático do Bruno Covas nesta eleição de São Paulo.

É a escolha do vice.

Fio rápido.
Caso Jair Bolsonaro sobreviva à crise imensa que virá em 2021 — e não é certo que sobreviverá —, o Brasil provavelmente ainda estará num ciclo conservador.

Digamos, pois, que Bolsonaro vá a um hipotético segundo turno em 2022.
Isto quer dizer que o candidato à presidente que for disputar com ele tem de ser atraente para eleitores de centro-esquerda.

Não basta levar os votos de quem não vota em Bolsonaro.

Precisa tirar votos de Bolsonaro.

Mas o que nos diz o vice de Bruno Covas?
Read 7 tweets

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!

Follow Us on Twitter!