Bom dia. Farei um breve fio sobre o que aparentemente ocorre no interior das Forças Armadas (FFAA) brasileiras em relação ao alinhamento - parcial ou total - ao bolsonarismo. Consultei analistas, pesquisadores e interlocutores do Alto Comando. Lá vai:
1) O ideário e organização internos das FFAA brasileiras tem origem em cooperações com Alemanha e França. No início do século XX, militares se alinharam à concepção alemã. Uma comissão esteve na Alemanha e de lá trouxe a organização e ideário de defesa nacional.
2) A revista A DEFESA NACIONAL teria sido um dos resultados deste alinhamento, fundada por Euclides Figueiredo, Bertoldo Klinger, Genserico de Vasconcelos e Augusto de Lima Mendes
3) Dos anos 1920 a 1940, portanto, um longo período de 20 anos, os militares brasileiros tiveram forte formação francesa. Foi ela que instalou o conceito de desenvolvimento nacional como missão das FFAA.
4) Esta concepção europeia sobre o papel das FFAA foi alterada depois do regime militar. Alteração que não se relaciona com investimentos. Os governos do período da Nova República que mais investiram na modernização e profissionalização das FFAA foram o de José Sarney e de Lula.
5) O realinhamento interno mais recente, foi provocado pela entrada dos EUA no Brasil – via Paraná, daí a “República de Curitiba” –, a missão de paz no Haiti, a aproximação da FGV RJ do Alto Comando e à reação às Comissões da Verdade.
6) Em 2009, Brasil e Paraguai assinaram acordo para combater o tráfico de drogas nos dois países, durante o encontro Estratégia de Cooperação Policial Brasil-Paraguai 2009, que ocorre em Foz do Iguaçu (PR). O objetivo era desenvolver ações nas áreas de capacitação de agentes,
7) A localidade onde ocorreu o evento é importante porque os EUA disseminavam a informação que o Al Qaeda teria uma base operacional em Foz do Iguaçu. Por ali se forjava uma parceria do governo brasileiro com a DEA, a agência americana de combate às drogas.
8) Esta foi a porta de entrada para o início das ações ofensivas à esquerda e ao projeto de desenvolvimento autônomo do Brasil. A Agência Pública chegou a noticiar que a diplomacia americana manteve reuniões com o governo brasileiro, via ministério da Justiça
9) O acordo possibilitava que oficiais da DEA viessem trabalhar no Brasil a partir de 2009 sem autorização do Itamaraty, que se opunha à medida.
10) Já a missão do Haiti foi outra iniciativa que forjou uma ponta-de-lança do Exército, um núcleo duro de intervenção política articulado com ações agressivas e violentas neste campo de disputa. Foram 13 anos desta missão agindo no Haiti.
11) Desde o início, em 2004, a operação internacional foi liderada por um general do Brasil. Entre 2004 e 2007, a presença da missão brasileira foi constante nas favelas mais violentas do país: Bel Air, Cité Militaire e Cité Soleil. O objetivo era expulsar gangues locais.
12) Em dezembro de 2011, a Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos (RNDDH) denunciou que agentes estiveram envolvidos "em casos de estupro, roubo, assassinato e detenções ilegais e arbitrários" e citou uma dezena deles.
13) O envolvimento de três brasileiros em agressão contra jovens foi investigado. Um jogo da seleção brasileira de futebol no Haiti procurou melhorar a imagem da missão brasileira.
14) Durante a gestão de José Viegas Filho como ministro da Defesa de Lula (2003 e 2004), a FGV RJ, importante polo de formulação liberal do Brasil, passou a desenvolver palestras para o Alto Comando das FFAA. Daí vem o alinhamento ao pensamento liberal
15) Mas o ponto central desta guinada aparentemente bolsonarista dos militares foi o que consideram descontrole dos andamentos das Comissões da Verdade instaladas durante a gestão Dilma Rousseff.
16) Forjava-se acordo com as FFAA para que fizessem pedido de desculpas pública sobre os atos praticados durante o regime militar. Mas, o caldo entornou quando a figura de Eduardo Gomes foi atingida.
17) Após a divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, o Clube Militar divulgou uma nota exigindo medidas judiciais contra os "crimes" cometidos pela comissão. A nota sustentava que a CNV teria enveredado para a calúnia e difamação
18) Contudo, toda esta história recente não gerou alinhamento com Jair Bolsonaro. Hoje, as FFAA estão divididas ao longo de sua hierarquia.
19) O alto comando avalia muito negativamente a destruição que o governo federal vem fazendo em relação a todo esforço de retomada da credibilidade das FFAA dos últimos 30 anos.
20) Mas, Bolsonaro aposta – como sempre apostou, desde sua época como deputado federal – no baixo oficialato, nos aspirantes a general ou naqueles que buscam algum benefício público, mesmo não tendo muita chance de atingirem o topo da carreira militar.
21) Muitos generais afirmam que tanto o projeto de autonomia das Polícias Militares, quanto a tentativa de promoção acelerada das carreiras do baixo oficialato foram meros balões de ensaio, ou melhor, sinais de agrado a esta hierarquia intermediária das FFAA e PMs.
22) Em 7 de dezembro, Jair Bolsonaro baixou decreto alterando a norma de promoção para o posto de coronel, antes, definido pelo critério de antiguidade e merecimento. O decreto durou dois dias. A grande imprensa avaliou desorganização do governo. Não era.
23) Por este motivo que Bolsonaro viaja pelo país para participar de formatura desse segmento intermediário das FFAA. Algo não muito comum para um Presidente da República. Bolsonaro tenta ter seu apoio militar do "baixo clero"
24) Então, o que sugiro é compreendermos as FFAA não como bloco monolítico, mas como corporação com diversas clivagens internas que procuram atualizar ou reafirmar seu ideário que se forjou há um século. Disputa que se acirra com o aumento de seu poder político. (FIM)
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Bom dia. Farei o fio que prometi há pouco sobre as dificuldades para criarmos mobilizações mais constantes nos últimos dois anos. Tem relação com esta manchete do portal UOL que afirma que a oposição defende protocolarmente o impeachment, mas aposta no desgaste de Bolsonaro.
1) Desde abril de 2017, quando as centrais sindicais lideraram a maior greve geral da nossa história, as mobilizações do campo progressista brasileiro se tornaram intermitentes: mobilizações estudantis, carreatas, greve de trabalhadores de aplicativos ou manifestação das torcidas
2) Embora a provisoriedade seja uma marca das mobilizações e engajamentos sociais deste século XXI, o Brasil parece apresentar um sintoma mais agudo desse fenômeno: de 2017 para cá, as mobilizações populares são cada vez mais inconstantes e não geram uma liderança nacional
A Campanha Nacional Fora Bolsonaro apontou o domingo, 21 de fevereiro, como próxima data de mobilização nacional em defesa da vacinação para todos, da volta do auxílio emergencial, contra o desemprego e a fome e pelo impeachment de Jair Bolsonaro.
Capitais e cidades de todo o país deverão realizar ações no sábado, dia 20, ou no domingo, 21, buscando o diálogo com a população e a visibilidade da luta pelo fim do governo assassino de Jair Messias Bolsonaro, que já conta com 68 pedidos de impeachment protocolados na Câmara
A orientação da campanha, a exemplo das ações já realizadas neste ano, é de que sejam evitadas as aglomerações e sejam realizadas carreatas, bicicleatas e atividades simbólicas que dêem visibilidade para nossas bandeiras unitárias respeitando as regras de segurança sanitária.
Não sei se já assistiram a minissérie Inacreditável. Descobri que cheguei tarde porque minha esposa já havia assistido.Trata-se de um caso real - baseado no livro "Falsa acusação: Uma história verdadeira"-, envolvendo uma jovem acusada de fazer uma falsa denúncia de estupro.
A série consegue nos fazer compreender a angústia dessa jovem, durante toda vida abandonada à própria sorte, cedendo ao ceticismo de policiais homens. Até que duas investigadoras desvendam outros casos de estupro. O primeiro episódio foi ao ar em setembro de 2019.
Foi indicada para Prêmio Emmy do Primetimee ganhou o prêmio Critics Choice Television Award de Melhor Atriz Secundária em Filme ou Minissérie, dentre outros.
Boa tarde. Farei um fio sem tanta informação ou conceito a respeito da disputa política no mundo real dos governos e direções partidárias. Há um mito que está sendo propagado aqui nas redes sociais sobre a tal unidade de forças ideológicas. Um sonho que raramente ocorre. Lá vai
1) Eu milito na política desde os 15 anos de idade. Tenho, portanto, 43 anos de experiência neste terreno, fora os anos de analista profissional, como cientista político. Meu pai foi liderança política em seu município e na área profissional (foi dirigente da APCD)
2) Meu avô era colaborador do PSB das antigas e outros parentes do PCB. Enfim, cresci no meio. O que posso adiantar é que essa história de unidade entre forças ideológicas de um mesmo campo é um mito que só ocorre em ano bissexto. Um devaneio de quem nunca atuou na política
Lá vai o fio que prometi sobre o que podemos esperar depois das eleições das presidências da Câmara dos Deputados e do Senado ontem à noite:
1) Começo afirmando que Bolsonaro está cada vez mais nas mãos do Centrão, bloco político dominante da política institucional brasileira. Li um texto publicado pela Carta Capital que me pareceu totalmente desconectado dos fatos
2) Lembremos a situação atual de Bolsonaro: a) seus filhos não estão mais no centro dos acontecimentos políticos do país; b) Sara Winter e os 300 - seu QAnon tupiniquim - foram varridos do cenário nacional; c) os ministros "ideológicos" estão para serem substituídos.
Socializo, em seguida, a "Nota sobre Retorno às Aulas Presenciais" elaborada pelo Pacto Educativo Global do Brasil (iniciativa mundial liderada pelo Papa Francisco). Segue o fio.
1) 1.As bases técnicas para o retorno às aulas presenciais
A orientação de especialistas da área de saúde indica que sem redução drástica do número de infectados pela COVID19, o retorno presencial das aulas se torna inviável, dado o alto risco de contaminação.
2) A Fundação Oswaldo Cruz, órgão do Ministério da Saúde, publicou o documento com o título “Contribuições para o retorno às atividades escolares presenciais no contexto da pandemia Covid-19”, de setembro/2020