Vou fazer mais um fio neste domingo. Na verdade, um micro fio, que estabelece relação com o anterior. O Clube de Engenharia acaba de publicar uma nota sobre o preço do petróleo e a administração equivocada da Petrobrás. Vou reproduzir o miolo desta nota. Lá vai:
a) Antes, uma breve informação sobre o Clube: foi fundado em 24 de dezembro de 1880, por Conrad Jacob Niemeyer, para agregar engenheiros e técnicos com o objetivo de oferecer um espaço democrático para a discussão de questões relacionadas ao desenvolvimento nacional.
b) Vamos à nota, assinada pelo presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino:
"Preços dos Combustíveis e Interesse Nacional
(...) O histórico da PETROBRÁS é o de atender o mercado nacional aos menores preços possíveis. (...)
c) "(...) Na década de 1980, a PETROBRÁS começou sua consolidação como grande produtora de petróleo, a partir da descoberta dos grandes reservatórios da Bacia de Campos. (...)"
d) " (...) Em 2004, já então como principal empresa mundial na produção em águas profundas, a PETROBRÁS descobriu a província petrolífera do Pré-Sal, onde estão localizados os poços mais produtivos do mundo, superando os da Arábia Saudita. (...)"
e) "(...) Como empresa verticalizada, a PETROBRÁS sempre atendeu o mercado nacional de combustíveis a preços competitivos e ainda assim teve alta rentabilidade. Nunca houve discussão sobre a sua política de preços, consolidada em décadas de experiência. (...) "
f) " (...) De 2012 a 2014, na gestão de Graça Foster, entretanto, houve inédita e desastrada manipulação de preços, a pretexto de conter a inflação, o que levou a empresa a arcar com dezenas de bilhões de reais de prejuízos. (...)"
g) " (...) Àquela ocasião, estava em curso campanha de desmoralização da PETROBRÁS, a caracterizando como antro de corruptos, que a teriam saqueado a ponto de deixá-la à beirada insolvência. Nada mais falso. (...) "
h) " (...) A PETROBRÁS endividou-se porque achou petróleo, as petroleiras multinacionais têm caixa robusto, mas não têm reservas, querem, como sempre quiseram, se apropriar de petróleo onde existir no mundo. (...) "
i) " (...) Em 2015, a gestão Bendine comprou a ideia do endividamento excessivo comparado ao das petroleiras multinacionais e colocou em prática plano de desinvestimentos da empresa, destinado a retirar dela o protagonismo que tivera desde a sua criação (...) "
j) " (...) , abrindo caminho para a captura do petróleo do Pré-Sal pelas multinacionais do setor. Em 2016, a gestão Parente (herdou a diretoria de Bendine), dando continuidade ao esvaziamento da empresa, introduziu a política de preços de paridade de importação (PPI). (...) "
l) " (...) Desde então, a PETROBRÁS vende combustíveis pelos preços que teriam se fossem importados, o que só faz sentido em países importadores como o Japão, mas não faz sentido aqui, uma vez que refinamos o nosso próprio petróleo. (...) "
m) " (...) Com os preços da PPI, passou a ser viável a importação de óleo diesel e de gasolina, o que é do exclusivo interesse das multinacionais. Com isso, as refinarias da PETROBRÁS passaram a operar com ociosidade superior a 30%. (...) "
n) " (...) Voltamos à situação anterior à sua criação, dependentes das multinacionais no suprimento de derivados, insumo indispensável ao nosso desenvolvimento (...)."
o) Meu comentário: o interessante é que a política adotada pela gestão Bendine não foi alterada pela gestão Parente. Mais: até a intervenção de Bolsonaro nesses últimos dias, a política mantinha-se a mesma. O que o fez mudar de rumo? Estaria rompendo com Paulo Guedes? (FIM)

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24 Feb
Bom dia. Farei um breve fio sobre a fragmentação de "leituras obrigatórias" no meu campo de atuação: a sociologia. Formam-se bolhas de pesquisadores e leitores muito agressivos, movidos por uma espécie de fetiche. Lá vai. Image
1) Nos anos 1980, leitura obrigatória no campo progressista era Marx - com ampla vantagem para os textos do jovem Marx - e Gramsci.
2) No Brasil da lenta e gradual reconstrução democrática estava em curso a revisão da bibliografia histórica e sociológica oriunda das teses da III Internacional. Do conceito de "resquícios feudais" e "revolução de 30" emergia uma literatura cujo foco era a história dos vencidos
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21 Feb
Bom dia. Farei um breve fio sobre o que aparentemente ocorre no interior das Forças Armadas (FFAA) brasileiras em relação ao alinhamento - parcial ou total - ao bolsonarismo. Consultei analistas, pesquisadores e interlocutores do Alto Comando. Lá vai:
1) O ideário e organização internos das FFAA brasileiras tem origem em cooperações com Alemanha e França. No início do século XX, militares se alinharam à concepção alemã. Uma comissão esteve na Alemanha e de lá trouxe a organização e ideário de defesa nacional.
2) A revista A DEFESA NACIONAL teria sido um dos resultados deste alinhamento, fundada por Euclides Figueiredo, Bertoldo Klinger, Genserico de Vasconcelos e Augusto de Lima Mendes
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16 Feb
Bom dia. Farei o fio que prometi há pouco sobre as dificuldades para criarmos mobilizações mais constantes nos últimos dois anos. Tem relação com esta manchete do portal UOL que afirma que a oposição defende protocolarmente o impeachment, mas aposta no desgaste de Bolsonaro.
1) Desde abril de 2017, quando as centrais sindicais lideraram a maior greve geral da nossa história, as mobilizações do campo progressista brasileiro se tornaram intermitentes: mobilizações estudantis, carreatas, greve de trabalhadores de aplicativos ou manifestação das torcidas
2) Embora a provisoriedade seja uma marca das mobilizações e engajamentos sociais deste século XXI, o Brasil parece apresentar um sintoma mais agudo desse fenômeno: de 2017 para cá, as mobilizações populares são cada vez mais inconstantes e não geram uma liderança nacional
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14 Feb
MOBILIZAÇÕES

A Campanha Nacional Fora Bolsonaro apontou o domingo, 21 de fevereiro, como próxima data de mobilização nacional em defesa da vacinação para todos, da volta do auxílio emergencial, contra o desemprego e a fome e pelo impeachment de Jair Bolsonaro.
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A orientação da campanha, a exemplo das ações já realizadas neste ano, é de que sejam evitadas as aglomerações e sejam realizadas carreatas, bicicleatas e atividades simbólicas que dêem visibilidade para nossas bandeiras unitárias respeitando as regras de segurança sanitária.
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14 Feb
Não sei se já assistiram a minissérie Inacreditável. Descobri que cheguei tarde porque minha esposa já havia assistido.Trata-se de um caso real - baseado no livro "Falsa acusação: Uma história verdadeira"-, envolvendo uma jovem acusada de fazer uma falsa denúncia de estupro.
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12 Feb
Boa tarde. Farei um fio sem tanta informação ou conceito a respeito da disputa política no mundo real dos governos e direções partidárias. Há um mito que está sendo propagado aqui nas redes sociais sobre a tal unidade de forças ideológicas. Um sonho que raramente ocorre. Lá vai
1) Eu milito na política desde os 15 anos de idade. Tenho, portanto, 43 anos de experiência neste terreno, fora os anos de analista profissional, como cientista político. Meu pai foi liderança política em seu município e na área profissional (foi dirigente da APCD)
2) Meu avô era colaborador do PSB das antigas e outros parentes do PCB. Enfim, cresci no meio. O que posso adiantar é que essa história de unidade entre forças ideológicas de um mesmo campo é um mito que só ocorre em ano bissexto. Um devaneio de quem nunca atuou na política
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