A década de 1970 é repleta de marcos. Os impactos das lutas por direitos civis nos EUA dos anos anteriores(Ex: Panteras Negras), pavimenta o caminho para o surgimento do Hip-Hop, cultura que abrange música, dança e artes como o grafite.
Em Hollywood, um movimento para combater o racismo, a falta de protagonismo e narrativas preconceituosas nos cinemas surge, levando pessoas negras a protagonizarem filmes na frente e atrás das câmeras. Esse movimento é chamado de Blaxploitation.
Os Quadrinhos, até poucos anos antes uma reprodução fiel da sociedade segregadora, se vê em um novo dilema: a necessidade de se adaptar às mudanças que estavam acontecendo na sociedade. Na Marvel, personagens como Luke Cage e Pantera Negra já abriam caminho para essa mudança.
Esse diálogo na HQ 'Lendas do Universo DC: Lanterna Verde/Arqueiro Verde' é como um autocrítica não só do Lanterna Verde, mas da DC Comics e da indústria de quadrinhos, que só agora (nos anos 70) "notou" o quanto carregou em si o racismo de diversas formas em suas páginas.
O número de crianças negras que consumiam quadrinhos sempre foi muito alto. Logo, a inserção de heróis e narrativas que respeitem a história do povo negro, significa sim, um marco importante na história e na indústria.
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Perceba como pessoas brancas são lidas e se lêem como tais apenas diante de um negro reivindicando sua humanidade.
Quando é posta uma situação de preconceito, o branco se percebe. Se não, ele é só humano.
O (ser) negro, porém, tem a individualidade dos seus atos sempre negada.
A virtude humana é disseminada a partir do homem branco. Ao negro, a possibilidade de absorver e ser, para ser humano, como o o branco.
Veja como pessoas negras foram chamadas de escravas por 400 anos, enquanto os brancos não são chamados de escravizadores.
Perceba como 400 anos de escravidão resumem a história de todas as pessoas negras do Brasil, enquanto o ato de escravizar foi a decisão errada de alguns homens, mas que uma mulher branca boazinha encerrou por já ter durado tempo demais.
O "Cala boca, negro" me doeu demais. Chorei com o Gerson, pois não foram poucas vezes que isso ocorreu comigo. Já tive risada como reação de um policial que perguntou minha profissão. Fui desautorizado inúmeras vezes.
Quase todos os meus apelidos da infância eram sobre minha cor.
Eu comprei um novo jogo e tô adorando. Queria escrever sobre ele, gravar podcast, pois é isso que eu gosto de fazer. Mas a minha existência é atravessada diariamente por violências, sejam elas sofridas por mim ou por outros.
Por isso eu escrevo textos sobre raça, por isso eu falo sobre ser negro, pois cresci em um lugar que só existe porque o racismo (pessoas e estrutura) decidiu, e outros continuam crescendo e sofrendo as mesmas violências.
Nesse ano assisti à série "Hollywood" e fiquei bem emocionado com a utopia que a série aborda com a história de pessoas negras que lutaram pelo sonho do cinema em plenos anos 50, com pós-guerra e segregação.
Aqui é onde a representatividade me emociona. Aqui que eu gosto de ver.
Quando colocamos (além da ficção) a representatividade no topo dos objetivos de luta, caímos na cilada do já batido jargão "pretos no topo", que nos desvia o olhar para entender que contra a opressão ao povo preto, derrubar "o topo" tem que estar no topo para nós, pretos. 🤯
Conquistas individuais, papéis de liderança e espaços de poder ocupados por algumas pessoas pretas podem sim significar alguma mudança conjuntural, mas não estrutural. Por isso "Pretos no topo" não faz sentido.
No país que não há racismo e estão tentando o importar pra cá, completam-se hoje 110 anos da Revolta da Chibata.
Marinheiros negros tomam o controle dos mais poderosos navios da marinha e apontam os canhões para a capital do Brasil (Rio) após um marinheiro sofrer 250 chibatadas.
A marinha brasileira, relegada ao abandono após a Guerra do Paraguai, se vê em meio a um Brasil explodindo em revoltas nos primeiros anos da república, desfalcando cada vez mais as forças armadas. Dessa forma, negros e pobres são cada vez mais recrutados para a marinha.
Repleta de marujos negros, a marinha parecia não ter se tocado que a escravidão foi findada 22 anos antes, e importou para si não só tratamento, como condições de trabalho e também castigo semelhantes ao modelo escravista.
É parte do projeto desmobilizatório o contato frequente com a morte para a naturalização da mesma.
Eu cresci em uma comunidade onde parte significativa dos garotos que jogaram bola comigo, morreram em esquinas próximas à minha casa. Lá ficavam, e todos nós víamos.
A primeira vez é traumatizante, a segunda também, a terceira nem tanto, até acostumar. Não com a morte, mas com a tristeza, a frequência.
Eu vi primo, tio, amigo, colega, vizinho, todos morrendo nesse projeto que na prática não faz nada além de tirar vidas. Inclusive inocentes...
Esse povo que sofre com a morte, é o povo que não tem tempo pra pensar sobre ela. Precisa sobreviver, e sobrevive no limite. Jornadas imensas de trabalho, salários mínimos, às vezes menos que o mínimo.
É preciso comer. Há bocas para alimentar. Como processar os traumas?
Eu queria poder, no #DiadaConscienciaNegra , falar sobre nós. Sobre cultura, arte, poder e legado, e a eternização da nossa história por nós, que sofremos com uma historiografia embranquecida que fez de tudo pra nos apagar.
Mas somos atravessados por Carrefour e mais uma morte.
20 de Novembro deveria ser uma data para exaltar e relembrar Zumbi. Sua figura representando a luta, a resistência e estratégia de todo um povo que foi violentado e escravizado.
Mas, atravessados por mais um assassinato, Não foge à mente como Zumbi foi brutalmente assassinado.
Queria poder falar do samba, da sua identidade, ligação com o morro e seu poder formador da cultura brasileira.
Mas não temos esse direito no dia 20. Somos obrigados a lembrar que o samba denunciou violências, assassinatos e abandono do estado nos morros. Foi a nossa voz.