Hoje, eu acordei filosófica. Vou "roubar" espaço da galera da astronomia por um instante para falar de conhecimentos ancestrais, diferentes formas de saber e ecologia de saberes.
Pra quem não entende inglês muito bem e o google tradutor não ajudou, um breve resuminho: muitos povos ao redor do mundo têm histórias que dizem que as Plêiades, um aglomerado estelar que hoje vemos com 6 estrelas, na verdade tem 7, mas uma está "escondida".
O pulo do gato é que as Plêiades *realmente* têm 7 estrelas, e uma *realmente* está escondida: ela fica bem pertinho de uma das outras, então só conseguimos distinguir uma da outra no telescópio. (No gif abaixo, são as duas estrelas da esquerda que vemos como uma.)
E onde essa história faz uma curva e entra direto no maravilhoso é que antigamente, essas duas estrelas coladinhas eram distantes o bastante pra serem vistas a olho nu. Nossos ancestrais viam as 7 estrelas.
Quando as 7 deixaram de ser visíveis, então?
HÁ FREAKING CEM MIL ANOS ATRÁS
Ou seja, o conhecimento de que as Plêiades são 7, com uma "escondida" está provavelmente circulando pela Humanidade há 100.000 anos na forma de histórias, até ser "redescoberto" pelos telescópios modernos.
Não sei vocês, mas eu sempre me sinto muito pequena e humilde de pensar que conhecimento da alta pré-história chegou até nós em histórias.
É fácil pensar que a Grécia (ou talvez o Egito) são os berços de todo o conhecimento moderno, simplesmente porque começaram a escrevê-lo.
Assim como é fácil desprezar um conhecimento ancestral por conta da forma com que chegou a nós: uma história, um ditado, uma música, uma fórmula mágica.
O que a gente não sabe é que pode ser uma observação da aurora da Humanidade preservada para nós.
Alguém já parou pra pensar que o conhecimento de ervas de uma raizeira pode ter 1 milhão de anos? Que foi um conhecimento testado e repassado por incontáveis gerações e não é sorte ou coincidência que funcionem nas condições certas?
É muito comum a gente achar que a Ciência se abrir para dialogar com conhecimentos místicos e ancestrais abre portas para negacionismo e terraplanismo, mas não é bem assim. Diálogo não é autoanulação, nem abraçar tudo acriticamente.
Uma "ecologia de saberes" passa por demarcarmos fronteiras, mas não construirmos muros. Por entender que o conhecimento antigo mais místico e "viajado" pode conter uma sabedoria que falta a você e, se você rir, num futuro não tão distante, o palhaço pode ser você.
Não é acolher charlatanismo claro (como charlatanismo médico de tratamentos patenteados que não fazem nada) ou teimosia em aceitar evidências que até os antigos já tinham (como o terraplanismo), é só... reconhecer que seres humanos buscam conhecimento há muitos anos...
...de muitos jeitos e, embora o método científico seja enormemente eficiente, está longe de ser a única forma de descobrir, entender e repassar conhecimento.
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Muito bem! Tempo esgotado! Além de discutirmos algumas coisas claramente erradas nesses quadrinhos, vou aproveitar e especular um pouco sobre formas mais... "exóticas" desse cenário mostrado dar errado. Essa é mais uma #ThreadPeriodica
Logo de cara, a @beatrixolive já pegou que o núcleo está sendo representado como uma única bola sólida, quando ele é um agregado de prótons e nêutrons. Como essas partículas são bem maiores que os elétrons, deviam estar visíveis.
Além disso, tem um elétron de cor diferente, sendo que todos os elétrons são iguais.
Aliás, o átomo não está em escala. Primeiro, um elétron é cerca de 1800x mais leve que um próton. Se os dois forem esferas de densidade semelhante (podem não ser), um elétron seria 12x menor.
Então, pessoal, a Anvisa soltou uma nota técnica dando dicas de como fazer limpeza nesses tempos de coronavírus, e as pessoas me pediram para comentar. Demorou um pouquinho porque algumas coisas na nota não ficaram muito claras, então aqui vai um resumo comentado:
Antes de discutirmos os produtos, vamos recordar que o SARS-CoV-2 é um vírus que é coberto com uma película gordurosa (a "bicamada lipídica"), e se essa película é rompida, ele não pode invadir a célula e causar infecção.
Hoje é sábado, e quero falar de algo fofo, divertido e emocionante. Estou pesquisando sobre Marie Curie para continuar a thread da Tabela Periódica, e, como resultado, refresquei a memória com a história fofíssima do casamento dela com Pierre. ‘Bora?
Maria Skłodowska Curie. Química, física e matemática brilhante, duas vezes vencedora do prêmio Nobel (primeira mulher, e primeira vencedora dupla), ícone absoluto quando o assunto é mulheres na Ciência. E protagonista de uma história de amor absolutamente fofa.
A vida de Marie Curie é digna de novela. Ela nasceu em 1867, na Polônia, quando o país estava ocupado pelos russos e sonhava com sua independência. Era filha de um professor de matemática e tinha quatro irmãos mais velhos. Ela perdeu a mãe e uma irmã bem cedo.
Como prometido, hoje vamos falar sobre testes clínicos. Como são feitos, quando são confiáveis, por que alguns testes falam que a tal remédio mata o vírus e outros dizem que ainda é cedo para saber... Essas e outras dúvidas, vamos discutir aqui!
Muito bem, primeiro, a pergunta que não quer calar: em testes de laboratório, não só a cloroquina, como outros medicamentos demonstraram que matam o vírus. Por que não damos essa controvérsia por encerrada aqui mesmo? Então...
Quando precisamos comprovar um medicamento novo, uma série de testes precisam ser feitos. O medicamento pode passar em todos os testes e falhar bem no último. Se for o caso, jamais chegará no mercado. É o destino de boa parte dos medicamentos.
Alguns amigos me pediram para falar sobre a famosa cloroquina. Eu estava esperando para ter informações mais sólidas, mas de repente me passa na timeline um maluco prometendo hidroxicloroquina debaixo dos panos para pacientes e achei melhor dividir o que já sabemos.
Primeiro, vamos falar sobre o remédio em si. O que é cloroquina (e sua derivada, hidroxicloroquina)? Tem um artigo muito bom (e bem recente) aqui, de um químico que já trabalhou para indústrias farmacêuticas: blogs.sciencemag.org/pipeline/archi…
Para quem não entende inglês, ele traça uma breve história das drogas antimaláricas. Tudo começou quando os Incas (e vários outros povos da América do Sul) perceberam que a casca da quina (uma árvore) ajuda a diminuir a tremedeira causada pela malária. A quina é rica em quinina:
Amigos, eu queria apenas veicular threads alegres para que vocês tivessem mais informação e diversão em tempos de isolamento, mas me sinto forçada a combater fake news que podem ser prejudiciais nesses tempos.
Vou falar algumas coisas sobre a fake news do "pH do vírus".
Ela diz o seguinte (no alt text para quem tem dificuldades visuais):
Vamos começar com o óbvio: vírus não tem pH. Na verdade, substâncias em si não "tem" pH. O pH é uma medida da concentração de íons H+ na água. Essa concentração pode ser causada por certas substâncias dissolvidas em água (daí que coloquialmente falamos que elas "têm" pH).