Por que é melhor analisar a média móvel de 7 dias para entender a evolução da pandemia de Covid-19?
Parece óbvio pra quem está acostumado a trabalhar com dados. Mas ontem, conversando com uma amiga, percebi que não é.
Segue o fio. Ao terminar, você vai entender o motivo.
É especialmente importante entender isso hoje (domingo, 14 de março) porque o governo divulgou 1111 mortes por Covid-19. Muito menos do que nos últimos dias.
Mas a média móvel das mortes divulgadas nos últimos 7 dias bateu recorde novamente: 1832.
Qual indicador é melhor?
O próximo gráfico ajuda a entender por que a média móvel é melhor.
Desde o início da pandemia, em média, cerca de 400 mortes foram divulgadas em cada domingo. Idem para a mediana.
Já nas quartas-feiras, a média de mortes divulgadas ultrapassa 900. E a mediana passa de mil.
Esse outro gráfico mostra que, em 2020, nenhum domingo ultrapassou o teto de 750 mortes divulgadas.
Do fim de maio ao começo de setembro, todas as quartas tiveram mais de mil mortes divulgadas. Em julho, uma quarta-feira teve 1595 mortes divulgadas.
De onde vem tanta diferença?
Obviamente, uma infecção viral não se importa com o calendário na hora de matar.
Mas os seres humanos se importam com o calendário ao divulgar essas mortes.
Uma hipótese: mortes nos fins de semana podem demorar mais para serem contabilizadas porque menos gente trabalha no fds.
Economistas estão especialmente acostumados a lidar com esse fenômeno, conhecido como sazonalidade estatística.
Se as vendas do varejo no natal são melhores que em junho, isso significa que a economia está aquecendo? Não necessariamente. É normal que as vendas cresçam no natal.
Existem várias formas de lidar com a sazonalidade. A melhor delas depende do tipo de dado e da análise que se pretende fazer neles.
A média móvel de 7 dias = média dos 7 dias anteriores. Cada dia da semana tem o mesmo peso, neutralizando a diferença entre domingos e quartas.
Dado que a média móvel se move, quando um domingo é incluído nos 7 dias analisados, outro domingo é eliminado.
Quando o domingo desta semana tem mais mortes do que o domingo da semana anterior, a média móvel de 7 dias aumenta. E vice-versa. A variação fica analiticamente útil.
Um último exemplo para entender a utilidade da média móvel é olhar pro gráfico de mortes por data de divulgação, sem média móvel.
Lembra um eletrocardiograma. Fica cheio de ruídos que complicam a análise. Induz a falsas conclusões, como a de que a pandemia melhorou hoje.
Agora o gráfico com média móvel de 7 dias. Bem mais fácil de analisar, com muito menos ruídos.
Não induz a falsas conclusões: mostra como a pandemia só tem piorado desde o fim de fevereiro.
Enfim, é bem melhor para quem quer analisar os dados.
A mesma coisa vale pro caso do varejo entre junho e o natal, que citei ali em cima. Um modo de corrigir o problema seria considerar as vendas acumuladas em 12 meses (soma móvel de 12 meses).
Da mesma forma, cada mês teria mesmo peso e a variação compara dezembros com dezembros.
Vale lembrar que sou apenas um economista tentando explicar um conceito estatístico de forma didática.
Existem vários detalhes importantes sobre epidemiologia que eu não comentei por falta de conhecimento.
Caso você queira se aprofundar, busque informação fora do Twitter.
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Sendo microeconomista e doutorando, Gilberto certamente virou noite estudando teoria dos jogos e se diz fanático por BBB.
Gilberto está usando a teoria dos jogos no #BBB21? Tudo indica que sim.
Duvida? Então segue o fio:
O que alguém versado no bê-a-bá da teoria dos jogos faria caso participasse do BBB?
1) Teria consciência sobre a importância de ter uma estratégia pensada conforme o seu objetivo
2) Teria consciência sobre a importância de usar informações externas para atualizar sua estratégia
Sendo fã de BBB, Gilberto sabe que a primeira semana é difícil. O público não te conhece, qualquer deslize pode ser fatal.
Ele precisava, portanto, de uma estratégia para não ir ao paredão. E entrou com atitude expansiva para conquistar parte do público e evitar brigas na casa.
Essa resposta é bastante simples. A maioria dos estudiosos do liberalismo dizem o mesmo: historicamente, a tradição liberal tem gente na direita e na esquerda.
Como o assunto tem sido muito discutido, explico o que digo num fio:
Basta ler bem pouco sobre história do liberalismo para constatar que os liberais tem facilidade para atuar na esquerda e direita.
Não estou falando de um momento histórico isolado, mas de uma história recheada. Há exemplos no Reino Unido, Brasil e EUA, nos séculos 19, 20 e 21.
O Partido Liberal britânico, cuja importância na formação do liberalismo dispensa apresentações, foi fundado em 1859 por três grupos que discutiam política no Reform Club, um clube de debates em Londres.
Esses três grupos eram conhecidos como Whigs, Radicals e Peelites.
Quem merece reconhecimento público pelo sucesso do Pix?
Eu já escrevi minha opinião: corpo de servidores do BC, vários diretores nas últimas 2 gestões, além dos presidentes Ilan e Campos Neto. Nada de Guedes.
Mas nunca expliquei meus motivos para escrever isso. Resumo num fio:
Por que ressaltar o corpo de servidores do Banco Central?
Porque é uma das instituições com mais técnicos qualificados dentre os vários braços do Estado brasileiro.
Isso dá consistência à atuação do BC mesmo com as mudanças de presidente e diretoria. E merece ser reconhecido.
O BC brasileiro tem um bom histórico quando o assunto é meios de pagamentos. Já me disseram que começou nos tempos de inflação, quando agilidade era crucial.
Mesmo anos antes do Pix, é notável trabalho do BC na popularização das maquininhas de cartão. Há uma certa tradição aí.
Sem exagero: desde que fui no Flow, recebi umas 100 mensagens de jovens (geralmente do Nordeste) que pensam em cursar a graduação em economia numa faculdade do eixo RJ-SP.
Dada a época e a quantidade de gente interessada, segue um fio sobre o tema, baseado na minha experiência.
Se mudar (ainda mais para SP) sendo muito jovem, sem ter amigos ou família na cidade de destino, é bem difícil. Pouquíssimos interessados pensam a sério sobre isso.
Conheci muita gente que se deu mal. Vi CDFs virando péssimos alunos, entrando em depressão, etc. É sério. Reflita.
Até pra facilitar a adaptação, conheça as faculdades que te interessam. Se informe cedo e muito.
Não importa qual a melhor entre Insper, FGV-SP, FGV-RJ, USP e PUC-Rio.
Dentre essas opções, o que importa para escolher uma é saber qual a melhor *para você*.
Por que eu estou otimista com a nova diretoria do Vasco?
Muitos torcedores de outros times se perguntam isso. Afinal, eu costumo ser bem cético com políticos e o Vasco tem os piores cartolas do país, uma política interna que faz a ALERJ parecer limpa.
Explico neste fio.
Antes de mais nada, é importante ressaltar que:
Eu não recebo 1 real do Vasco ou de qualquer pessoa ligada ao clube. Não tenho cargo. Nem chefe vascaíno eu tenho. Não vou auferir nenhuma vantagem pessoal com isso.
Dada a imagem da política vascaína, esse é um adendo importante.
Como argumento inicial, basta comparar o currículo dos presidentes no séc 21. Eurico, Dinamite e Campello não tinham experiência como grandes gestores no setor privado.
Jorge Salgado é uma referência do mercado financeiro nacional, vide matéria do Valor.
Volta e meia, ouço por aí um papo de que "o Sudeste sustenta o Nordeste" etc. Aconteceu hoje.
Sobre a origem da desigualdade regional no Brasil, recomendo o @thaleszp.
Um fator importante no séc 19 foi uma política fiscal que quebrou o Nordeste para sustentar o RJ. Segue o fio:
Na virada do século 18 para o 19, a desigualdade regional brasileira não existia como conhecemos.
O Nordeste era o maior fornecedor do algodão que chegava em Liverpool. Uma tal de Revolução Industrial acontecia por ali. Mas o setor quebrou nesta época, quando a demanda explodia.
De todos os grandes exportadores de algodão, nenhum país teve uma performance pior que a do Nordeste brasileiro naquela época.
Pouco a pouco, regiões como o Sul dos EUA ocuparam esse espaço. O Brasil conseguiu a proeza de perder o bonde da história. Como isso aconteceu?